“A tua fé te salvou, vai em paz”
11o Domingo do Tempo Comum
1a LEITURA – 2 Sm 12,7-10.13
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 31 (32)
LEITURA II – Gal 2,16.19-21
EVANGELHO – Lc 7,36 – 8,3
O texto situa-nos na primeira parte do Evangelho segundo Lucas. Recordando que esta primeira parte se desenrola na Galileia. Jesus aparece para concretizar o seu programa: trazer às pessoas – sobretudo aos empobrecidos e empobrecidas e marginalizados e marginalizadas – a liberdade e a salvação de Deus. Toda esta primeira parte é, aliás, pautada pelo anúncio na sinagoga de Nazaré, onde Jesus define a sua missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e mandar em liberdade os oprimidos” (Lc 4,16-30).
O episódio situa-nos no ambiente de um banquete, em casa de um fariseu chamado Simão (o “banquete” é, neste contexto, o espaço da familiaridade, da irmandade, onde os laços entre as pessoas se estabelecem e se consolidam). Lucas é o único evangelista que mostra os fariseus tão próximos de Jesus que até aceitam sentar-se à mesa com Ele (Lc 11,37;14,1) e preveni-lo em relação à ameaça de Herodes (Lc 13,31). Lucas está, no que diz respeito a esta questão, bem mais perto da realidade histórica do que Marcos e, sobretudo, do que Mateus (que, influenciado pelas polêmicas da Igreja primitiva com os fariseus, apresenta sistematicamente os fariseus como adversários de Jesus).
Três histórias se entrelaçam: a de Jesus, da mulher pecadora e do fariseu.
A mulher a quem Lucas apresenta como pecadora não tem nome e não pronuncia uma única palavra. Não há qualquer indicação de que ela tivesse tido algum contato anterior com Jesus, embora possamos supor que a mulher tinha encontrado com Jesus e tenha recebido dele uma atitude diferente dos mestres da época, sempre preocupados em evitar as pecadoras e os pecadores e em condená-los.
Na época do Segundo Testamento, a mulher era marginalizada. Na sinagoga ela não podia participar, na vida pública não podia ser testemunha. Mas as mulheres resistiam a estas exclusões.
Jesus estava na casa de Simão, o fariseu que o convidou para jantar. A mulher não foi convidada, mas entra na casa de Simão e coloca-se aos pés de Jesus, começa a chorar, molha os pés de Jesus com lágrimas, solta os cabelos para enxuga-los, beija-os e unge com perfume. Soltar os cabelos em público era um gesto de independência. E Jesus acolhe os gestos da mulher.
A ação da mulher (o choro, as lágrimas derramadas sobre os pés de Jesus, o enxugar os pés com os cabelos, o beijar os pés e ungi-los com perfume) é descrita como uma resposta de gratidão, como consequência do perdão recebido (vs. 47). A parábola que Jesus conta, a este propósito (vs. 41-42), parece significar, não que o perdão resulta do muito amor manifestado pela mulher, mas que o muito amor da mulher é o resultado da atitude de misericórdia de Jesus: o amor manifestado pela mulher nasce de um coração agradecido de alguém que não se sentiu excluída nem marginalizada, mas que, nos gestos de Jesus, tomou consciência da bondade e da misericórdia de Deus.
Um fariseu era um judeu observante. Ele representa aqueles zelosos defensores da Lei que evitavam qualquer contato com os pecadores e pecadoras e que achavam que o próprio Deus não podia acolher nem deixar-se tocar pelos transgressores e pelas transgressoras da Lei e da moral. Jesus procura fazê-lo entender que só a lógica de Deus – uma lógica de amor e de misericórdia – pode gerar o amor e portanto, a vida nova.
Na parábola, ambos foram perdoados. Qual dos dois terá maior amor? Resposta do fariseu: “Acho que é aquele a quem ele perdoou mais.” Tanto a mulher quanto o fariseu receberam algum favor de Jesus. Na atitude que os dois tomam diante da gratidão revela o quanto são gratos a Jesus. O fariseu o convida para um jantar. A mulher transborda em amor a sua gratidão através das lágrimas, dos beijos e do perfume.
O fariseu achava que não tinha pecado porque observava em tudo a Lei. A segurança pessoal que o fariseu criou para ele pautada na observância da Lei e da Igreja, o impediu de experimentar a gratuidade do amor de Deus. O que importa não é a observância da Lei em si, mas o amor com que observo as Leis.
Por fim, Jesus declara para a mulher que os pecados dela estão perdoados. Quais seriam os pecados desta mulher? Não ter marido? Ter marido e não ter filhos? Não ser mãe de filhos homens?
Quais os nossos pecados que Jesus nos perdoaria hoje?
Ter nascido e crescido em favela?
Ter nascido mulher numa sociedade tão machista?
Querer ter direitos a moradia digna?
Ter nascido negra e negro?
Frequentar uma universidade?
Perdoa-nos Senhor com sua infinita misericórdia e bondade!!!
Por Ana Selma da Costa, CEBI-CE