A alegria do amor maior
Entre buscas, retornos e abraços… A alegria do amor maior
Primeira Leitura (Êx 32,7-11.13-14)
Salml 50
Segunda Leitura (1Tm 1,12-17)
Evangelho (Lc 15,1-32)
Por Joilson de Souza Toledo, FMS.*
Neste domingo a liturgia nos propõe um trecho longo do evangelho: 32 versículos! É todo capítulo 15 do Evangelho de Lucas… É possível dizer que este capítulo é o coração da experiência de fé da comunidade lucana: Deus é misericórdia. Uma leitura em toda obra conhecida como Evangelho de Lucas nos possibilita entrever que nas últimas décadas do primeiro século da era cristã as comunidades para as quais foi escrito este livro vivenciaram o seguimento de Jesus enquanto uma experiência profunda da misericórdia de Deus que a todos alcança, que não esquece dos últimos da sociedade.
Convém retomar o que já foi conversado em outros domingos… para a comunidade para o qual foi escrita o evangelho de Lucas temas como o lugar dos pecadores, a alegria, questões ligadas a economia, misericórdia são constantes. Também personagens como os fariseus (apegados em demasia a costumes) e os pecadores (pessoas que não tinham dinheiro para pagar os preceitos da pureza legal) aparecem em varias circunstancias!
A primeira leitura segundo o estilo do povo de sua época fala do amor de Deus. Ele não quer castigar.
Estamos diante de três parábolas. Elas são um jeito que Jesus tinha de dialogar com as pessoas. Sua conversa traziam imagens que falavam da vida. Imagens que ajudavam a perceber a ação de Deus na realidade. Imagens que desafiavam quem escutava a fazer escolhas. Proponho que você leia várias vezes o texto se colocando no lugar de diferentes personagens! Estas parábolas testemunham não só uma experiência do sagrado, mas conflitos existentes na comunidade. A bondade de Deus é tão encantadora que desafia.
Contudo para entender as parábolas é preciso prestar atenção nos dois primeiros versículos. Quem pode se aproximar de Jesus? Aqui reside uma pergunta que os primeiros discípulos se faziam e parece muito atual: há lugar para todos na comunidade. De um lado pecadores e cobradores de impostos, do outro fariseus e mestre da lei.
Por trás do texto é possível entrever conflitos que marcaram a trajetória das comunidades cristãs daquele tempo, mas também das nossas. Somos marcados por uma ideia de merecimento. Os textos de hoje desconstroem estes pensamentos. Não é necessário merecimento para se aproximar de Jesus e sim abertura. Desejo de ouvir a sua palavra. Pecadores e cobradores de impostos se aproximam para escutar (Lc 15, 1). Escutar é atitude de discípulo (Lc 1,26-38; 5, 1-11; 6,18; 10, 38-42; 11,27-28). Há espaços para eles no discípulo de Jesus. As parábolas que seguem nos responderam…
Nas parábolas apresentadas Deus não se mostra razoável. Sua postura parece desconhecer a matemática básica. A comunidade lucana nos mostra números e posturas “extravagantes” para dizer o quanto Deus ama, mas poderíamos dizer que o seguimento de Jesus é não pra ficar no razoável. Quem ama tem atitudes desmedidas. O seguimento de Jesus exige radicalidade. Mas de que jeito?
As parábolas contadas por Jesus tem uma série de movimentos que devem ser observadores.
Olhando para eles encontramos uma estrutura fundamental: perda (Lc 15, 4a.8a.12-17), procura (Lc 15, 4b.8b.18-20a), reencontro (Lc 15, 5.9a.20b-21), festa (Lc 15, 6-7.9b-10.22-32). Jesus nos chama atenção da alegria transborda em Deus contagia até os anjos (Lc 15, 7.10), mas parece não tocar no irmão mais velho da última parábola (Lc 15, 25-30). O destaque dado ao incomodo que a postura do filho mais velho parece testemunhar o incomodo de um conjunto de “pessoas tementes a Deus” diante da atitude de misericórdia que as parábolas mostram.
Andar pelos campos, varrer a casa, correr, restituir. Há um desejo de não perder ninguém. Também é bom olhar as proporções em cada uma das parábolas 1 em 100 na estória da ovelha perdida, 1 em 10 na parábola da moeda perdida, 1 em 2 ao falar do filho perdido. As posturas mostram o valor de cada um. Assim os textos de hoje nos desafiam em nossas relações interpessoais, eclesiais e sociais. O seguimento de Jesus nos convida a construir relações que valorizem as pessoas em as outras pessoas, na família, na PJ, na igreja. Mas também somos desafiados a contribuir na construção de uma sociedade sem meritocracia onde o simples fato de ser pessoa humana seja o suficiente.
Tudo termina em festa. É preciso celebrar. O seguimento de Jesus, a igreja não é a comunidade dos irrepreensíveis. Mas a grande festa daqueles que se sentem procurados, reencontrados e abraçados. É lugar de quem aceitou o convite para participar da festa da vida que se alegra com o crescimento e com as vitórias que o outro tem na vida. Comunidade daqueles que fazem de sua vida um “sair”, “varrer”, “esperar”… Sonhadores e militantes do Reino. Empenhados na construção de uma sociedade onde ninguém se sinta deixado. Onde ninguém dispute o alimento com os porcos!
O seguimento de Jesus é um caminho de reencontro, de reconciliação, que deve ser celebrado, na pessoa e no estilo de Jesus e convém que, também, na trajetória de seus seguidores, se celebre a festa a vida, do encontro da pessoa humana com a sua dignidade. Jesus nos anuncia uma notícia constrangedora: Deus sempre está nossa procura/espera.
Para concluir nossa conversa vamos nos dedicar um pouco mais a última parábola buscando ultrapassar alguns preconceitos… Num geral destacamos mais a postura do filho mais novo do que o amor do pai. Quando encenamos “compramos a ideia” do filho mais velho… É bom tomar cuidado para não criminalizar o filho mais novo. O irmão mais velho também não conhece o pai. O filho mais velho e o filho mais novo desconhecemo pai! Para um ele é fonte de dinheiro (pede tudo: “quero minha parte na herança”), para o outro é fonte de trabalho (não tem coragem de pedir nada). O pecado do filho mais novo não é a vida desenfreada. O pecado do filho é não reconhecer o pai, se afastar dele. Deste pecado também padece o irmão mais velho. Ele, mesmo estando geograficamente perto, nunca esteve afetivamente perto. Estava perto, mas agia como se estivesse longe e ainda sente inveja ante a uma demonstração de amor do Pai.
A parábola termina sem nos dar a resposta se o filho mais velho entrou ou não na festa. Neste domingo eu e você somos provocados: vamos entrar na festa da vida? Vamos nos alegrar com quem quer crescer? Vamos contribuir uma igreja aberta a quem quer seguir Jesus e não aferrada a esquemas? Vamos contribuir para a construção de uma sociedade que tenha lugar para todos? Se nossa resposta for não, Deus seguirá a buscar, a abraçar e a festejar com quem dá os passos para crescer e sempre estará esperando que aqueles que se escandalizam venham também para a festa.
*Irmão Marista, assessor da PJ na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, Barra do Jucu, Vila Velha/ES.