Busquem primeiro o Reino de Deus e sua justiça
Salmo 61;
2° leitura: 1Cor 4, 1-5;
Evangelho: Mt 6, 24-34.
Refletir sobre a vida e os ensinamentos de Jesus é mesmo desinstalador! O tempo Comum de nossa liturgia nos convida a mergulharmos na cotidianidade dAquele que nos inspira a viver a proposta do Reino de Deus; porém esta prática de comum em nossos dias se tem muito pouco… aprendamos com Ele.
No evangelho deste domingo, que está no centro do Sermão da Montanha (Mt 5 -7), encontramos Jesus sentenciando claramente: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24b). Este versículo inclusive foi iluminação bíblica para a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, que versava sobre Economia e Vida.
Sim, é claro que Jesus questiona o modelo econômico vigente (ainda hoje!!!). O modo como a sociedade se organiza em volta do lucro, dando ao dinheiro total preferência, prioridade, valor e reconhecimento, transforma o dinheiro em um Senhor, um Deus. As vezes me questiono se a sociedade capitalista não mudou a centralidade de nosso sistema: já acreditamos que a Terra era o centro, descobrimos que é o Sol, mas muitas pessoas vivem mesmo em volta (ou atrás) do dinheiro.
É inegável que em nossa sociedade precisamos de dinheiro para ter acesso aos bens de consumo e lazer, mas o que está sendo posto em cheque é o conceito de bem estar proposto, que é individualista, que é consumista, que é exploratório, que coloca a felicidade nas coisas… Somos o povo herdeiro da experiência tribal em Israel, terra que corria leite e mel, somos também partícipes de outro modelo societário que prega o bem viver… Bem viver é muito melhor que bem estar!!! É melhor por que nos coloca na lógica coletiva, do consumo consciente respeitando a Mãe Terra, que prima pelas as pessoas em sua integralidade e que coloca a felicidade na relação com o/a outro/a e o sagrado.
E o texto completo nos provoca ainda a repensarmos nosso projeto de vida. Quais tem sido nossas opções? A palavra preocupação aparece 5 vezes! Jesus quer reforçar alguma coisa. As pré-ocupações que temos nos leva à ansiedade, ao nervosismo, ao stress dentre outras consequências. Ocupamo-nos antes do necessário, ou pior ainda, mais que o necessário. É bem verdade que você vai dizer que aprendeu deste cedo com a sabedoria popular que “Deus ajuda a quem cedo madruga”, que “comida não cai do céu”, que “o trabalho dignifica o homem[i]” mas estas referencias não lhe diz que você tem que trabalhar exaustivamente até esgotar suas forças e saúde[ii]; muito menos que a coisa mais importante de sua vida será o trabalho e que você viverá em função dele[iii].
Vale lembrar que vivemos em sociedade e que tudo o que temos e vivemos é construído socialmente e isso implica que há uma cultura que permeia toda a nossa vivência. Estamos vivendo para trabalhar ou trabalhando para viver[iv]? Tim Maia já cantava nos ensinado a sermos mais leves, “quando a gente ama, não pensa em dinheiro, só se quer amar.” Tomemos consciência disto, a lógica do amor, do Reino de Deus não é, nem de longe, a lógica do dinheiro, do capital.
A lógica pregada por Jesus desconcerta quem acompanha de perto o glamour, o dinheiro, o status e o poder de quem pisa o tapete vermelho de Hollywood. Qual deles/as é mais belo/a que os lírios do campo? Nossas preocupações são vãs. Se o Reino acontece, todos se ajudam e a dignidade é concedida a todos… até as ervas do campo, que serão queimadas, tem de Deus o seu cuidado.
O fato de trabalharmos para comer do nosso próprio suor não significa que o suor de uns é mais valioso que o de outros. Temos sim que trabalhar para nossa subsistência, a promessa do evangelho não é para nós cruzarmos os braços e esperarmos sentados, contudo buscando o Reino de Deus e sua justiça, tudo o que nos é necessário nos será dado[v]. A cada dia trabalharemos juntos/as para que a vida seja provida a todos/as sem distinção.
Como a opção é de bem viver, a vida vai se constituindo de outros elementos, que não só o trabalho e a subsistência nua e crua. Os Titãs já nos dizia que “a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte… a gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade… a gente quer inteiro e não pela metade”.
O povo de Deus fez no Primeiro Testamento uma experiência muito sofrida e penosa: o exílio na Babilônia. É deste contexto que o profeta Isaías compara Deus com as mães… um amor maternal que rege a história. Deus não esquece de ti jamais, ele te tatuou em suas mãos (veja o versículo seguinte, Is 49, 16). É Dele que vem nossa segurança, é Ele nosso rochedo e salvação (Sl 61). Portanto, que sejamos servidores/as de Cristo e administradores/as dos mistérios de Deus (1Cor 4, 1).
Por Pedro Caixeta, CEBI GO
Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)
[i] Aqui valeria fazer uma discussão de gênero: numa sociedade machista como a nossa, o que significa dizer o que o trabalho dignifica O HOMEM? Por acaso o trabalho da mulher não à enaltece? (Ela não faz mais que sua obrigação????) Ou seria, a mulher nem trabalha, pois quem põe o pão dentro de casa é o “macho alfa”, o provedor da casa? Quaisquer que sejam as ideias por traz da afirmação temos o dever de aprofundar a compreensão, olhar com sensibilidade e desconstruir alguns estereótipos que ainda oprimem as nossas companheiras mulheres.
[ii] Quantos pais e mães chegam exauridos em casa e que não conseguem se quer estar com os filhos/as, ou que não conseguem tecer uma vida social que lhe amplia possibilidades? Também na perspectiva de gênero, até o trabalho pode ser categorizado socialmente, fazendo uns serem mais homens que outros, verificando o quão duro e penoso é a ocupação. Será que a lógica é esta mesmo? É mais homem quem tem mais força (por trabalhar no serviço braçal por exemplo)?
[iii] Tem crescido em nosso tempo o número de pessoas viciadas em trabalho ou aqueles/as trabalhadores/as compulsivos (chamados de workaholics). Este crescimento se dá em função de questões existenciais e pessoais ou então por conta do mundo do trabalho atual no qual o serviço chega a qualquer hora do dia e da noite pelo celular, agravado com a competitividade do mercado e dentro de outros elementos que também precisamos olhar com calma e atenção.
[iv] Neste sentido é importante acompanharmos as discussões a cerca da reforma trabalhista que o então presidente Temer pretende votar depois da reforma da previdência. Além de combatermos a retirada de direito dos/as trabalhadores/as, temos que refletir o modelo de sociedade que se quer implementar para o povo brasileiro. O que significa, por exemplo, ampliar a jornada de trabalho para além das 8h diárias?
[v] Aqui cabe uma pergunta: precisamos de tudo o que temos? Vale a pena conversarmos sobre consumismo e exploração dos recursos naturais.