Dia Mundial dos/as Refugiados/as
Forçados, como Jesus Cristo, a fugir. Acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos
Papa Francisco
Queridos/as PJoteiros/as!
Parece que não, mas em meio a todo esse caos da pandemia de Covid-19 que nos encontramos, estamos vivendo a maior onda de migração e refúgio nunca vista nas últimas décadas. 79,5 milhões de pessoas se deslocaram forçadamente pelo mundo até o fim de 2019, estamos falando de mais de 1% da humanidade. Com a crise do capital gerando crises humanitárias, ambientais e guerras, uma a cada 97 pessoas vem sendo forçada a fugir de suas terras, sem perspectivas de voltar.
Dentro desses números, o número de crianças deslocadas (entre 30 e 34 milhões) é tão grande quanto as populações da Austrália, Dinamarca e Mongólia juntas. Enquanto isso, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais entre a população deslocada (4%) está muito abaixo da população mundial (12%), o que reflete a imensurável dor, desespero e sacrifício de se separar dos seus entes queridos. Talvez, não conseguimos mensurar essa dor, mas façamos o exercício de nos imaginar tendo que deixar forçadamente nossa casa, nossos amigos/as e nossa família. Essa é a realidade de quase 80 milhões de pessoas hoje.
As pessoas migrantes, dentre outras, revelam o rosto de Cristo empobrecido, faminto, expulso e sem lugar (cf. MT 25, 31-46). Revelam também o rosto de Maria na feminização das migrações, que colocam muitas mulheres vulneráveis ao tráfico humano, uma das piores formas de violência contra as mulheres e uma das mais perversas violações aos direitos humanos. O tráfico e o contrabando de mulheres para fins de exploração sexual e comercial encontram-se estreitamente vinculado às migrações e exige um trabalho pastoral articulado em rede com ênfase na prevenção e atendimento às vítimas.
Nesta conjuntura, e em especial hoje – 20 de junho, Dia Mundial dos/as Refugiados/as – somos convidados/as a refletir qual deve ser o nosso papel enquanto cristãos e PJoteiros/as diante da migração e refúgio.
Papa Francisco, incansavelmente nos provoca, a reconhecer o rosto de Cristo faminto, sedento, nu, doente, forasteiro e encarcerado. “Se O reconhecermos, seremos nós a agradecer-Lhe por O termos podido encontrar, amar e servir”. Francisco ainda continua: “As pessoas deslocadas proporcionam-nos esta oportunidade de encontrar o Senhor, «mesmo que os nossos olhos sintam dificuldade em O reconhecer: com as vestes rasgadas, com os pés sujos, com o rosto desfigurado, o corpo chagado, incapaz de falar a nossa língua». É um desafio pastoral ao qual somos chamados a responder com os quatro verbos que indiquei na mensagem para este mesmo dia em 2018: acolher, proteger, promover e integrar. A eles, gostaria agora de acrescentar seis pares de verbos que traduzem ações muito concretas, interligadas numa relação de causa-efeito. É preciso conhecer para compreender. É necessário aproximar-se para servir. Para reconciliar-se é preciso escutar. Para crescer é necessário partilhar. É preciso co-envolver para promover. É necessário colaborar para construir”.
O Papa Francisco, nos provoca ainda, todos os dias a sermos profetas e profetizas no mundo da migração. Nesta mesma ocasião em 2019, Francisco nos trouxe vários elementos para a reflexão. A primeira reflexão-chave para acolher os/as migrantes é levar em consideração que “não se trata apenas de migrantes: trata-se também dos nossos medos”. Um segundo elemento é compreender que “não se trata apenas de migrantes: trata-se da caridade”, demonstrar a fé através das obras de caridade. Em terceiro lugar está o fato de que “não se trata apenas de migrantes: trata-se da nossa humanidade”. O Papa afirma que “o mundo atual vai-se tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos”, portanto, diz ele: “Não se trata apenas de migrantes: trata-se de não excluir ninguém”. “Não se trata apenas de migrantes: trata-se de colocar os últimos em primeiro lugar”. Na lógica do Evangelho, os últimos vêm em primeiro lugar, e nós devemos colocar-nos ao seu serviço. A sexta reflexão-chave é compreender que “não se trata apenas de migrantes: trata-se da pessoa toda e de todas as pessoas”. E por fim, a sétima reflexão é lembrar que “não se trata apenas de migrantes: trata-se de construir a cidade de Deus e do homem”.
O contexto migratório aponta que os caminhos pastorais passam pela articulação em redes, com novas modalidades de colaboração entre as igrejas locais, as Conferências Episcopais, institutos missionários e pastorais, entidades de cooperação fraterna, o diálogo e parceria com as agências nacionais e internacionais dedicadas aos/as migrantes e refugiados/as.
Para finalizar, retorno à provocação de: qual deve ser o nosso papel de PJoteiros e PJoteiras diante deste contexto?
A 35º Semana do Migrante com o tema: “Migração e Acolhida” e lema: “Onde está o teu irmão, tua irmã?” Nos apresenta um caminho. Devemos ter duas atitudes básicas diante dos “caídos à margem da estrada”: a sensibilidade e a solidariedade. Por vezes, o imperativo da transformação social acaba atropelando o lado sensível de toda pastoral, é necessário desenvolver a dimensão afetiva, ao lado da luta pela libertação. Porém, é preciso ir muito além da sensibilidade.
Neste contexto da migração, é necessário passarmos pela solidariedade, trabalhar em rede, estabelecer parcerias, apresentar os serviços de recursos humanos e financeiros, acompanhá-los/as até que se levantem e voltem a caminhar com as próprias pernas.
Contudo, devemos tornar presente outra dimensão bíblico-evangélica: o profetismo. A assistência às emergências é necessária e urgente, mas é preciso identificar e combater as causas da pobreza e da exclusão social. No campo da migração e refúgio, a profecia tem como missão central: denunciar as estruturas sociais injustas e pecaminosas e anunciar os caminhos que levam a uma sociedade justa e solidária.
A 35º Semana do Migrante ainda aponta: as três dimensões da ação pastoral apontadas – sensibilidade, solidariedade e profetismo – somente se manterão vivas e equilibradas se forem acompanhadas por uma quarta: a mística libertadora.
PJoteiros e PJoteiras, a espiritualidade em nossa mística libertadora será o sustento diante das muitas dificuldades na atuação social, política e transformadora. Esta atuação, como bem sabemos, deixa muitas vezes uma sensação de impotência, acumula fracassos, desemboca em frustrações. Daí a necessidade de uma fonte onde encontrar água viva para matar a sede. A nossa oração e a nossa ação devem formar uma dupla indissociável, caminharem juntas.
Assim sendo, espero que essas poucas palavras, neste Dia Mundial dos/as Refugiados/as, nos ajudem a entender que também fazemos parte desse sistema, que tudo está interligado e a nossa ação perpassa em (re)conhecer nossos/as irmãos/as migrantes.
Grande Abraço
Marcos Regazzo, à serviço da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude pelo regional Sul 2 – Paraná
8 coisas que você precisa saber sobre deslocamento forçado – Segundo a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)
- Pelo menos 100 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas na última década, buscando refúgio dentro ou fora de seus países. São mais pessoas forçadas a se deslocar do que toda a população do Egito, o 14º país mais populoso do mundo.
- O deslocamento forçado praticamente dobrou na última década: eram 41 milhões de pessoas em 2010, contra 79,5 milhões em 2019.
- 80% das pessoas deslocadas no mundo estão em países ou territórios afetados por grave insegurança alimentar e desnutrição – e muitas enfrentam riscos relacionados ao clima e desastres naturais.
- Mais de três quartos dos refugiados do mundo (77%) estão em situações de deslocamento de longo prazo – por exemplo, a situação no Afeganistão, agora em sua quinta década.
- Mais de oito em cada dez refugiados (85%) estão em países em desenvolvimento, geralmente um país vizinho ao de onde fugiram.
- Cinco países contabilizam dois terços das pessoas deslocadas além das fronteiras nacionais: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.
- O relatório “Tendências Globais” reúne todas as principais populações deslocadas e refugiadas, incluindo 5,6 milhões de refugiados palestinos que estão sob os cuidados da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
- O compromisso do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030 (ODS) de “não deixar ninguém para trás” agora inclui explicitamente as pessoas refugiadas, graças a um novo indicador aprovado pela Comissão de Estatística da ONU em março deste ano.