“E vocês, quem dizem que eu sou?”
Dizer e viver: “E vocês, quem dizem que eu sou?”
Joilson de Souza Toledo, FMS.¹
Continuamos nossa trajetória no Evangelho de Lucas. É bom lembrar que vivem num tempo diferente do tempo de Jesus. Possivelmente 5 ou 6 décadas depois. Estão em um ambiente urbano, cidades de cultura grega com conflitos, experiências e possibilidades diversas das da Palestina no tempo de Jesus. São 24 capítulos. O trecho do Evangelho deste domingo encontra-se na conclusão as atividades na Galiléia (Lc9, 1-50). A partir do final deste capítulo, Jesus (Lc 9, 51) começa uma caminhada rumo a Jerusalém que a comunidade de Lucas narra em dez capítulos (Lc9, 51-19,28 ). A cena narrada neste domingo começa com um assunto muito estimado por este evangelho: a oração. Jesus aparece em oração neste evangelho em momentos significativos (Lc4,42; 5, 16; 6, 12; 9, 18. 28; 11, 1. 21-22; 22, 40-46). Fica a dica…
Jesus está rezando e os discípulos estão junto com Ele. O lugar do discípulo é onde o mestre está. É assim na convivência que ele aprende. E você, onde está hoje? Garante alguns momentos para ficar “num lugar retirado” e rezar? Se não, como recarrega as baterias? Se não paramos para tomar consciência, como podemos dizer que estamos mesmo no caminho do seguimento de Jesus?
Em meio a esta parada, Jesus nos apresenta uma pergunta essencial. É a comunidade que escreveu o Evangelho de Lucas confrontando-se diante de algo que é fundante para quem quer seguir Jesus. Sim, o coração do diálogo que Deus faz conosco a partir deste evangelho é o seguimento de Jesus. A pergunta que provoca o início da conversa é: “Quem dizem às multidões que eu sou?” (Lc 9,18). A pergunta de Jesus é como se fosse um balanço do que os discípulos vivenciaram. Primeiro “pelo ouvido”, o que estão ouvindo sobre mim? Os discípulos respondem resgatando a esperança do povo de Israel. Nas respostas deles, vemos pessoas que nos retomam a esperança messiânica: João Batista, Elias ou algum dos antigos profetas… Na história de Israel, foram vários os profetas que apareceram para ajudar o povo a se manter na Aliança. De alguns, temos na Bíblia o que falaram e fizeram. Também apareceu gente antes de Jesus dizendo ser o Messias. Em cada um deste, temos um jeito de ver a ação de Deus. Falar de Messias é falar que Deus está agindo. Mas a pergunta que é: como? No tempo de Jesus, como também no nosso, existiam e ainda existem visões diferentes sobre Deus…
Na segunda pergunta vemos um questionamento decisivo para as primeiras comunidades e também para nós hoje: “E vocês, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20). É como se fosse perguntado para nós: no que vocês creem? Como estão vivendo? O que anunciam? Neste segundo questionamento que aparece na boca de Jesus a comunidade vê-se desafiada não só a reconhecer o que se escuta sobre Jesus, mas o que vai em seu coração. E pra você, quem é Jesus? É daí que emerge a maneira como o seguimos. Aí aparece a resposta de Pedro. Um dos discípulos da primeira hora que se mostra sempre muito espontâneo. Seria esta a resposta de quem está na comunidade? Ele afirma: “O Messias de Jesus”. O enviado de Jesus. Por mais que esta resposta traga a esperança dos cristãos também não dá para ficar só nela.
Jesus surpreende pedindo para que não toquem no assunto. Porque será? É no que acrescenta que encontramos o porquê… No que ele diz aparece uma visão de Messias que não tinha muito a ver com o que o povo pensava na época. O messias não é aquele que se impõe, que derrota os adversários, uma figura de poder, mas aquele que se propõe, que é rejeitado pelo poder estabelecido, uma figura de amor. Aí vem a reviravolta… quem quer seguir Jesus é desafiado a escolher o jeito de ser Dele!!! Não tem com ficar achando que “seus problemas acabaram”, pelo contrário, o que é decisivo é “vir após de mim”(Lc 9, 23), como dizem algumas traduções. É isso que realmente queremos? Topamos renunciar seguranças e “arriscar viver por amor”? O amor, a causa, o sonho, o Reino exigem “topar” passar pela cruz. Seguir Jesus é assumir sua causa e também seu destino. Não é perda de tempo. É ganhar a vida, por que é “por causa dele”. A comunidade de Lucas, neste domingo, convida-nos a aprender com Jesus. Estar com Ele e assim, assumir sua causa e as consequências disso.
É interessante a maneira como o texto está construído: Jesus junto com os discípulos (Lc 9, 18); o que os discípulos pensam Dele (9,20). Ir após Ele e seguir (Lc 9,23). Perder a vida por causa Dele (Lc 9,24). Estamos diante de um esclarecimento do que é seguir Jesus, da compreensão que a comunidade tinha sobre Jesus enquanto messias e por isso da maneira como a comunidade entendia a si mesma. No texto, a comunidade lucana apresenta um caminho. O caminho está aberto… É por ele que queremos trilhar? Na força que brota da intimidade com Jesus construída a partir do silêncio da oração e do assumir no dia a dia as causas, somos chamados a caminho.
Talvez você esteja se perguntando, mas que causas são essas? O que devo assumir? O que significa nos contextos em que você está inserido “tome a cada dia a sua cruz e me siga” (Lc 9,24)? Seguir Jesus é encarnar O todo do Evangelho e Lc nos dá as dicas que o caminho sempre passa pelos empobrecidos, a defesa da vida, a acolhida ao diferente…
¹Irmão Marista, assessor da PJ na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, Barra do Jucu, Vila Velha/ES.