Horizontes para 2022: luta, sinodalidade e esperança
Em 2016, a partir de um projeto político coordenado, a democracia brasileira foi ferida por meio de um golpe político: a deposição da presidenta Dilma, primeira mulher a governar o País. Desde então, o Brasil vem sofrendo uma série de ataques e desmontes dos direitos sociais e das políticas públicas passando por um dos seus cenários mais dramáticos e caóticos da história. Já naquele momento, percebendo os sinais históricos dos retrocessos, a Pastoral da Juventude foi uma das vozes a denunciar o risco social do avanço golpista.
Vivemos, atualmente, em um País que prioriza pautas que vão na contramão do Evangelho de Cristo Libertador. O atual Governo Federal, em aliança com setores economicamente abastados, tem apoiado um modelo agrícola de devastação e desmonte das políticas ambientais, a crescente militarização do Estado, reformas trabalhistas que prejudicam os trabalhadores, o incentivo à violência, o empobrecimento da população e um desmonte de direitos sociais conquistados ao longo das últimas décadas. Pensar em todo esse conjunto de fatores que são impostos às brasileiras e brasileiros, é pensar num distanciamento da justiça social – uma construção ética baseada na erradicação das desigualdades e na solidariedade coletiva.
Outras grandes ameaças são o crescimento do ódio político e o agravamento da perseguição às minorias políticas. A intolerância é propagada por meio de expressões autoritárias que representam gravíssimas ameaças à democracia. É um momento histórico sem precedentes na trajetória do Brasil. Isso requer de nós, portanto, uma ativa e corajosa postura de denúncia e resistência que precisa reverberar na ocupação dos espaços de discussão, debate, protesto, construção de políticas públicas e fortalecimento das bases populares. Aqui cabe registrar, ainda, dois dos mais agudos problemas que emergem desse triste cenário: a fome e a tragédia sanitária potencializada pela postura negligente e negacionista do Governo – urgências que devem nos mobilizar de modo sistemático.
A Igreja motivada, principalmente, por nosso servo fiel e amoroso, Papa Francisco, tem dado fortes sinais de profecia nestes tempos tão difíceis em todo mundo. O Santo Padre, na mensagem para este 55º Dia Mundial da Paz, propõe três caminhos de esperança importantes para atuarmos neste cenário.
Francisco, novamente, grita por diálogo. É preciso integrar, não só gerações, mas também culturas e grupos diferentes. Nós, jovens de todo Brasil, precisamos reiterar nosso protagonismo sem nos esquecermos de esperançar junto aos que, para nós, são referências de sabedoria. Recordamos também da oportunidade de discutir o valor da educação libertadora por meio da Campanha da Fraternidade 2022, que tem como tema “Fraternidade e Educação”. Momento rico para a vida das comunidades em que se reflete os caminhos da fé com os pés firmes no chão da vida. O trabalho é outra urgência social que deve ser um compromisso na luta por dignidade e denúncia ao avanço do modelo neoliberal que tem gerado, não só o desemprego, mas o sucateamento da vida laboral, o corte de direitos e o empobrecimento.
Outro caminho importante a ser observado na vida eclesial é o compromisso a construir a sinodalidade, ou seja, num esforço coletivo, buscar continuamente a capacidade de aprendermos a “caminhar juntos” como irmãos e irmãs que somos. Toda a Igreja está convocada pelo Papa a percorrer o caminho rumo ao Sínodo – a ser realizado em outubro de 2023 – com o tema: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Segundo o Documento Preparatório do Sínodo 2023 (2021, art.32), esse caminho de escuta nos convida a inspirar as pessoas a sonhar com a Igreja que somos chamados a ser a fazer florescer as esperanças das pessoas, a estimular a confiança, a vendar as feridas, a tecer relações novas e equilibradas, a aprender uns com os outros, a construir pontes, a iluminar mentes, a aquecer corações e a dar força de novo às nossas mãos para a nossa missão comum. O processo de sinodalidade não é tanto um acontecimento ou um slogan, mas um estilo e uma forma de ser pela qual a Igreja vive a sua missão. Nesse sentido, inspiremo-nos a fazer acontecer a comunhão, a participação e a missão.
Além do compromisso da participação eclesial, temos outro momento importante a ser considerado no campo das lutas sociais. As eleições gerais se aproximam e, com elas, a urgente necessidade de reflexão. É preciso construir uma mudança esperançosa e coletiva onde todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10b). Precisamos, neste ano, resgatar as forças para fazer prevalecer um projeto de soberania popular democrático e cheio de paz. Não é algo novo à vida dos nossos grupos de base. É preciso recordar que, em toda sua história, a PJ sempre mostrou-se protagonista na luta política. São vários os exemplos a serem considerados: a construção de pactos em defesa dos direitos das juventudes, a promoção de ciclos de debate, a produção de documentos com especificações de nossas principais bandeiras de luta, a militância específica na defesa de determinadas pautas coletivas e a candidatura de muitas de nossas lideranças comprometidas com as causas assumidas a partir do processo de Educação na Fé.
A exemplo do testemunho fiel e profético das primeiras comunidades cristãs, a Pastoral da Juventude (PJ) quer reafirmar o seu compromisso com o projeto da Civilização do Amor. É preciso cultivar a Esperança do verbo Esperançar, como nos ensina Paulo Freire! Vamos formar fileiras de lutas, propagar o que é bom, combater a desinformação, dialogar sobre projetos de governos e, principalmente, reavivar o amor pela luta em favor da justiça social. Não nos esqueçamos do horizonte que nos move. O processo eleitoral é sim importante, mas não é e nunca será um fim em si mesmo. Urge derrotar o autoritarismo e os arroubos fascistas que nos ameaçam. Esse é um compromisso histórico primeiro. Por outro lado, a opção radical pela vida das/os pobres e jovens deve continuar nos motivando para uma postura sempre crítica, propositiva e lutadora.
Por fim, lembramos a Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência Contra a Mulher. Essa agenda, tão cara à Pastoral da Juventude, deve continuar gerando reflexões e ações que nos ajudem a compreender o atual momento. Acreditamos, fielmente, na inspiração mística e de fé que nasce dessa opção. Que Maria, Mulher Protagonista da história da fé, interceda em favor de uma Igreja, um País e um mundo menos machista. Esse, certamente, é um caminho imprescindível para construir uma verdadeira PAZ – nosso desejo maior.
A política é uma forma mais elevada de caridade social.
O amor social se expressa no trabalho político para o bem comum.
Papa Francisco