Jovens do Amapá sofrem sem políticas públicas
O grupo partilhou as suas dificuldades com a assessora da Comissão Episcopal Pastoral para a Amazônia, Ir. Irene Lopes da Silva. Junto com outras duas religiosas, Ir. Henriqueta Cavalcante do Regional Norte 2 e Ir. Osnilda Lima, da revista Família Cristã, ela visitou diversas comunidades do estado do Amapá e também na Guiana Francesa, em agosto passado. Salete Hallack também participou da viagem, em nome do movimento Humanos Direitos, do Rio de Janeiro.
Ir. Irene relata que o descaso do poder público com a região leva os jovens a sair da cidade, em busca de uma vida melhor. “Contam que se alguém deseja continuar estudando após a conclusão do ensino médio, precisa alugar uma quitinete em Macapá. No entanto, a maior parte das famílias não possuem condições financeiras e o jovem não têm como continuar estudando”.
Um problema grave apontado pelos crismandos no encontro com as missionárias é o alto índice de meninas que engravidam entre 12 a 15 anos de idade. “Elas relatam que é pela falta de
perspectivas que engravidam. Acreditam ser a única alternativa para mudar, contudo muitos namorados não assumem o filho, e os pais as põem para fora de casa”, relata Ir. Irene.As missionárias conversaram com os jovens sobre a realidade das drogas na cidade, e ouviram relatos da grande oferta disponível. Irene conta que uma adolescente afirma que uma pessoa chegou até ela, apresentou a droga e disse: “Você não quer trabalhar com a gente? Trabalhar com isso dá muito
dinheiro, sabia?”. Junto com o relato, uma constatação em forma de desabafo. “Sem futuro para nós aqui, quem é fraco vai mexer com isso, mas sabemos que a vida é curta para quem se envolve com as drogas”.Os jovens também denunciaram o esquema que atrai adolescentes para
trabalhar na cidade de Oiapoque, que fica a 216 quilômetros da de Calçoene. “Mas ao chegar lá, tudo muda e o sonhado trabalho acaba se tornando um drama. As meninas são obrigadas a se prostituírem em bordéis e chegam lá devendo. Dificilmente conseguem quitar as despesas”, conta Irene.De acordo com o relato ouvido pelas missionárias, algumas meninas são vendidas e levadas para Caiena, capital da Guiana Francesa. De lá, seguem para outros países.
“Os adolescentes sonham com dias melhores para eles e toda a Calçoene. Desabafam que é crítico na questão da saúde, da cultura e do entretenimento. O que funciona razoavelmente é educação”, conta Irene.