Semana da Cidadania e Cúpula dos Povos
“É a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis”.
Juventude e Saúde Alimentar é o tema proposto pela Semana da Cidadania (SdC) para este ano de 2012, uma excelente oportunidade para que não só a juventude, mas toda a sociedade faça a reflexão e o debate da importância dos alimentos em nossas vidas, e se atentem para como estes alimentos são produzidos e chegam até as mesas. O Brasil é um dos países que lidera as estatísticas da produção de alimentos, mas nem todos tem acesso a estes, mesmo sendo um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º. Ainda utilizando a temática proposta para a SdC 2012, entendemos o protagonismo dos movimentos sociais na garantia desse direito. Colocarmos em pauta a segurança alimentar e nutricional é retomar um primeiro princípio neste debate: o direito à alimentação adequada e de qualidade.
Muitos problemas sociais decorrem da relação da produção de alimentos (no Brasil e no mundo). Vivemos em um sistema econômico violento que supervaloriza o consumo, a tecnologia e a centralização dos mesmos. Tal problemática se dá pela desigual relação entre quem produz e quem consome. Vivemos uma crise dos excessos, mas ainda assim, é grande o número de pessoas que morrem de fome no mundo, o que representaria uma contradição, pois morrer de fome nos remete à ideia de escassez, porém sabemos que não é essa a lógica. Não nos falta alimentos no mundo, falta é a distribuição dos mesmos. A lógica da produção de alimentos mundialmente está presa à lógica do sistema capitalista. Sobretudo, com o advento da biotecnologia, as corporações do setor investem na produção de grãos geneticamente modificados, em alimentos sintéticos que não se tem estudos que comprovem os reais riscos ou benefícios para o organismo humano. Ainda assim, tentam justificar que os investimentos nesta área visam justamente suprir a demanda crescente de alimentos no mundo.
À época da Revolução Verde (década de 1970), foi difundida a ideia de que os alimentos precisam ser incrementados de insumos (defensivos e agroquímicos) que fizeram aumentar consideravelmente a produção de alimentos e a disparidade entre o acesso a esta produção também se agravou. Gerando assim, alimentos que comprometem a saúde. A humanidade deixou de consumir produtos que eram garantia de saúde para entrar na era das comidas rápidas. Hoje, uma gama de doenças relacionadas aos alimentos faz esta lógica ser freada e volta-se ao consumo de produtos orgânicos. Aqueles que sempre foram cultivados pelos camponeses e que visam de fato suprimir a necessidade básica humana e não segue a lógica do mercado.
Juntamente com a SdC, a PJ insere-se na construção da Cúpula dos Povos, na Rio+20 por justiça social e ambiental. Queremos neste espaço também pautar nossos gritos por um basta às falsas soluções ambientais, há uma governança sustentável que nos tem sido apresentadas, como o “Capitalismo Verde” que tenta utilizar falsamente o nome “Economia Verde” para continuar visando o lucro e deixando a vida das juventudes e de todos os povos ausentes deste direito humano primordial as necessidades e dignidades humanas.
Com a SdC e a inserção da PJ na Cúpula dos Povos , debateremos não só a temática da garantia de alimentação digna, como outros temas relacionados à vida e a garantia de direitos a juventude, como o direito aos territórios, à água, à educação, entre outros. A Pastoral da Juventude entra em mais uma ciranda, pela vida da juventude, a vida dos povos, a vida da nossa Mãe Terra. Nesso sonho da Civilização do Amor queremos possibilitar o enfrentamento da pobreza e das desigualdades sociais, contribuindo para o reestabecimento das relações de igualdade, que são bases que tem o direito no centro, para o Bem-Viver de todos/as.
“O homem não tece a teia da vida: é antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio. Nem mesmo o homem branco, cujo Deus passeia e fala com ele como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Por fim talvez, e apesar de tudo, sejamos irmãos. Uma coisa sabemos, e que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus. Hoje pensais que Ele é só vosso, tal como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho. Esta terra tem um valor inestimável para Ele, e ofender a terra é insultar o seu Criador. Também os brancos acabarão um dia talvez mais cedo do que todas as outras tribos.”
Fonte/Autor: Deisy Rocha (CN Nordeste 3), Paula Grassi (CN Sul 3), Daniel Arrebola (GT Ajuri) e Alessandra Miranda de Souza