Tecelagens lilás: pela Vida das mulheres!
Iniciamos recordando alguns nomes: Maria, Isabel, Débora, Sara, Ester, Rute, Ana, Suzana, Judite, Marta, Maria Madalena; Roseli, Margarida, Dorothy, Dandara, Olga, Rosa, Chica Pelega, Anita, Janete, Zilda, Berta. Presentes! Presentes! Presentes!
Começar fazendo memória dessas mulheres inspiradoras é reconhecer a história quem nos antecedeu na luta por igualdade, justiça, pão, paz, sem opressão e nem exclusão. E em nome delas e de tantas anônimas e “anonimadas” pela História contada por homens, e das tantas que ainda virão, renovamos nosso compromisso em dar continuidade nessa dura jornada com todas as nossas vidas, e sem nenhum minuto de silêncio.
O Dia Internacional da Mulher é dia de luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres, de reconhecimento, de promoção social, de denúncia e de anúncio. É dia de mais poesia e mais tecelagens lilás. De recordar nomes e lutas diárias. De celebrar, mesmo em meio a tantas dores silenciadas, que somos mulheres e que juntas vamos mais longe.
O machismo mata, e mata todos os dias. Mata homens e mulheres. Mata física, psicológica e simbolicamente, e desnudar as formas sutis como ele se dá e se propaga são tarefas difíceis.
Vamos a alguns dados: o Brasil é o 5º país em violência contra a mulher. Aqui, segundo os casos que chegam a ser denunciados, a cada cinco minutos uma mulher é agredida (e em 70% dos casos, o agressor é o próprio parceiro); e treze mulheres são mortas por dia (cinco mil mulheres por ano). Uma pesquisa aponta que 78% de mulheres de 16 a 24 anos já sofreram assédio em locais públicos; e, ainda, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública traz o estarrecedor número de 130,5 casos de estupros por dia em 2014 (47.646 casos registrados).
Soma-se a isso o aumento da população prisional feminina: mesmo que essa parcela seja de 8% da população carcerária, nos últimos dez anos houve um aumento de 260% de mulheres presas, enquanto que de homens presos aumentou 105%. É uma face bruta e cruel desse sistema machista e patriarcal, que soma esse encarceramento de rosto feminino ao processo de feminalização e criminalização da pobreza.
No mundo do trabalho, as mulheres ainda representam o maior contingente de pessoas desempregadas em relação aos homens, além de receberem, em média, menores salários para desempenharem as mesmas funções. Essa situação se acentua ainda mais quando são mulheres jovens e negras. As condições de trabalho também precisam causar indignação, junto às longas jornadas que muitas mulheres se submetem para sustentar as suas famílias. Lembremos ainda das inúmeras mulheres traficadas para serem exploradas sexualmente em seus países ou em países distantes.
Precisamos avançar na superação dessas desigualdades e opressões que o sistema capitalista nos submete todos os dias. Aliás, não há como falar em igualdade de direitos entre homens e mulheres, sem adentrar no debate da luta de classes, e também no da exploração da natureza, compreendendo como essa máquina gira e interliga tudo como estruturas (invisíveis e sutis em muitos casos) de manutenção da ordem vigente.
Margot Bremer lembra que o cuidado e a sustentabilidade da vida sempre foram prioridade na perspectiva na luta das mulheres, da mesma forma que afirma a utopia indígena do Bem Viver, que busca o equilíbrio humano e ambiental para chegar a uma convivência harmoniosa. As contribuições, tanto das mulheres e do Bem Viver, são significativas para a mudança da e na sociedade. Ao incluir o direito da diversidade, sem esquecer a igualdade, nasce uma nova oportunidade para organizar o futuro em torno a diferentes perspectivas, que podem desencadear agilmente o desenvolvimento de uma sociedade alternativa: mais plural, diversa, complementária, igualitária e integral.
No que se refere à participação das mulheres na Igreja, ainda há muitos limites para essa atuação feminina nos espaços, especialmente nos hierárquicos e de ministérios ordenados. Da mesma forma a participação ainda é limitada quando a relação se dá também entre os espaços e ministérios leigos, pois as mulheres ainda desempenham funções naturalizadas como funções femininas (no caso da organização/limpeza dos espaços físicos), e há limites na presença de mulheres nas instâncias de poder e coordenações da comunidade, paróquia e diocese, onde por vezes se presencia uma “masculinização” desses espaços conforme a instância de coordenação for sendo maior.
Para nós, cristãs e cristãos, não há como não compreender que o mandato evangélico de dar vida e vida em abundância precisa partir também da compreensão e superação dessas estruturas que oprimem e matam as mulheres, para que a edificação do Reino aconteça de fato. Somar nessa luta também faz parte da nossa coerência no seguimento a Jesus de Nazaré, que muito acolheu e amou as mulheres; além de reconhecer as inúmeras que estiveram com Ele, até o pé da cruz, e que primeiro testemunharam a Sua ressurreição.
“A tua mania em crer na vida é como o que Ana fez ao templo
Re-coloca a vida e a justiça de volta a quem é de direito”
(Hino do DNJ de 2011, por Graça Figueiredo)
Aline Ogliari, Chapecó/SC.