Descer, encontrar Jesus e se deixar acolher
31º Domingo do Tempo Comum
1ª Leitura – Sb 11,22 – 12,2
Salmo 144
2ª Leitura – 2Ts 1,11 – 2,2
Evangelho – Lc 19,1-10
Por *Ana Selma da Costa
Estamos chegando ao fim da longa viagem em direção a Jerusalém. Jesus chega a Jericó, última parada antes de o peregrino chegar em Jerusalém!
Você já deve ter lido algumas vezes o relato sobre o encontro entre Zaqueu e Jesus. Zaqueu era um homem rico, chefe dos publicanos. Publicano era quem cobrava o imposto público sobre a circulação da mercadoria, um coletor de impostos para o governo de Roma em Jericó.
Os judeus consideravam os publicanos como traidores e desprezíveis pelo fato de estarem ajudando Roma a explorar Israel.
O caráter dos publicanos não era dos mais confiáveis, porque eles geralmente cobravam grandes somas de dinheiro, além do estipulado por Roma em benefício próprio.
Alguns coletores aceitavam suborno dos ricos diminuindo a taxa deles e sobrecarregando os pobres para compensar.
O povo se sentia massacrado com tantos impostos.
Os judeus não aceitavam o fato de que um irmão estivesse trabalhando para exploradores. Os judeus mais religiosos argumentavam assim: “O rei do nosso povo é Deus. Por isso, a dominação romana sobre nós é contra Deus. Quem colabora com os romanos peca contra Deus!” Assim, soldados que serviam no exército romano e cobradores de impostos, como Zaqueu, eram excluídos e evitados como pecadores e impuros. Inevitavelmente, Zaqueu convivia com o ódio dos judeus. Por ser judeu não era aceito pelos romanos e por estar ajudando Roma não era aceito pelos judeus.
Zaqueu quer ver Jesus. Sendo de baixa estatura, corre na frente, sobe numa árvore e aguarda Jesus passar.
A nossa vida é resultado da maneira como vemos a Deus. A maneira como pensamos, como decidimos, como escolhemos, como priorizamos. Nossos valores, nossa conduta depende da maneira como vemos a Deus, o que Ele significa para nós. Qual imagem de Deus nós temos. Se tenho imagem de Deus como pai, trato as pessoas como irmãs e se a imagem é de um juiz carrasco, a imagem será de réus culpados em um tribunal. Por isso, a imagem que temos de Deus é tão importante.
O mundo é dominado por padrões de sucesso: Poder + dinheiro = sucesso. Zaqueu era um homem de sucesso porque ele tinha essas duas coisas.
Anteriormente, na parábola do pobre Lázaro e do rico sem nome, Jesus fez ver como é difícil um rico se converter. Aqui aparece o caso de um rico que não se fecha na sua riqueza. Zaqueu quer algo mais. Quando um adulto, pessoa de destaque na cidade, sobe numa árvore, é porque já não liga para a opinião das outras pessoas. Algo mais importante o move por dentro. Quando Zaqueu sobe na árvore ele desce do seu orgulho e da sua vaidade.
Chegando perto, Jesus não pergunta nem exige nada. Apenas responde ao desejo do homem e diz: “Zaqueu, desça depressa! Hoje devo ficar em sua casa!” Zaqueu desceu e recebeu Jesus em sua casa, com muita alegria.
Quando Zaqueu estava no alto da árvore, descobriu que para conhecer Jesus de verdade ele tinha que descer. Porque é no chão da vida, da realidade que se conhece Jesus.
Todos murmuravam: “Foi hospedar-se na casa de um pecador!” Lucas salienta que todos murmuravam! Isto significa que Jesus estava ficando sozinho na sua atitude de dar acolhida aos excluídos, sobretudo aos colaboradores do sistema. Mas Jesus não se importa com as críticas. Ele vai à casa de Zaqueu e o defende contra as criticas. Em vez de pecador, o chama de “filho de Abraão” (Lc 19,9).
Filho de Abraão. Através da descendência de Abraão, todas as nações da terra serão benditas (Gn 22,18; 12,3). Para as comunidades de Lucas, formadas por cristãos de origem judaica e também de origem pagã, esta afirmação de Jesus era muito importante. Nela encontravam a confirmação de que, em Jesus, Deus estava cumprindo as promessas feitas a Abraão e que se dirigiam tanto aos judeus como aos gentios. Estes são também filhos de Abraão e herdeiros das promessas.
Jesus acolhe os que não eram acolhidos. Oferece lugar aos que não tinham lugar. Recebe como irmão e irmã as pessoas que a religião e o governo excluíam.
“Dou a metade dos meus bens aos pobres e restituo quatro vezes o que roubei!” Esta é a conversão, produzida em Zaqueu pela acolhida que Jesus lhe deu. Restituir quatro vezes era o que a lei mandava em alguns casos (Ex 21,37; 22,3). Dar a metade dos bens aos pobres é a novidade que o contato com Jesus nele produziu. Era a partilha acontecendo de fato!
“Hoje, a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão!” A interpretação da Lei pela Tradição antiga excluía os publicanos da raça de Abraão. Jesus diz que veio procurar e salvar o que estava perdido. O Reino é para todas as pessoas. Ninguém pode ser excluído ou excluída. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza e exclui tanta gente. Denunciando as divisões injustas, Jesus abre o espaço para uma nova convivência, regida pelos novos valores da verdade, da justiça, da partilha, do cuidado e do amor.
*Ana Selma da Costa é teóloga, compõe a coordenação estadual e faz parte da equipe de assessoria do Cebi-CE, é facilitadora na Escola de Pastoral Catequética (Espac) e assessora da Pastoral da Juventude na Arquidiocese de Fortaleza.