Espera, esteja atento, O Cristo já vem!
Uma atenção apaixonada, esperançosa e “esperançadora”
Primeira Leitura (Is 2,1-5)
Responsório (Sl 121)
Segunda Leitura (Rm 13,11-14a)
Evangelho (Mt 24,37-44)
O tempo do advento chegou!!! Depois de uma longa jornada pelo Evangelho de Lucas o início do ano A[1] nos convida a mergulhar na experiência de fé que vivenciou a comunidade que escreveu o Evangelho de Mateus. Neste evangelho a releitura dos textos sagrados dos judeus acontece de forma peculiar. Jesus é apresentado como um “novo Moisés”. Comentamos um pouco sobre isso no comentário dos textos da solenidade de todos os Santos no início deste mês.
O advento é marcado por uma atitude de espera, de vigilância, de atenção… O Senhor Jesus vem! É preciso olhar para a realidade e reconhecer os sinais. Atenção e rapidez nas respostas são as atitudes fundamentais que são pedidas para nós neste domingo. Somos convidados a ficar vigilantes. Temos a tentação de querer saber “o tempo e a hora”. O que celebramos neste domingo é o desafio do discípulo e da discípula de Jesus de estarem sempre atentos. Não basta só viver é preciso ter consciência do que se esta vivendo. E por falar nisso como anda seu nível de atenção com sua vida e com o que se passa em seu redor? A celebração do primeiro domingo do advento é um belo convite. Atenção…
No Evangelho temos elencadas várias situações tanto da escritura (o tempo de Noé), quanto do cotidiano (trabalho no campo ou no moinho; a segurança das casas). Talvez aqui encontremos a primeira provocação deste fim de semana. É no cotidiano, em meio aos afazeres da vida, no corriqueiro, que irrompe a urgência do Reino. É preciso nas coisas simples estar atento aos sinais que testemunham a presença do Reino e mais ainda, estar atento, pois ação de Deus se dá no repentino. Para nós que estamos na igreja e pensamos já “saber como funcionam as coisas de Deus” este domingo é um convite a pensar diferente. Nosso Deus nos surpreende…
Os textos de hoje, bem como os textos da última semana não querem nos assustar. Nem falar do fim do mundo. Eles foram escritos numa linguagem comum no tempo de Jesus: a apocalíptica. Sim, o apocalipse não é só um livro. É um estilo literário, um jeito de escrever e de ver o mundo. Numa situação social difícil, talvez de derrota e de perda de esperança esta linguagem utiliza símbolos para falar do que reconhece por detrás dos fatos. Vê a mão de Deus agindo em favor dos pequenos. A realidade de injustiça não durará muito tempo. Deus vai intervir (está intervindo) em favor dos pequeninos. Este jeito de escrever, a apocalíptica, encontramos em alguns livros tais como o Apocalipse, a Segunda carta aos Tessalonicenses, o livro do profeta Daniel e em partes de alguns livros como dos evangelhos sinóticos[2] Mt, Mc e Lc. No final dos evangelhos sinóticos temos uma série de discursos e de parábolas que usam um tom apocalíptico ( Mt 22-25; Mc 12-13; Lc 19, 11-21,38).
O texto de hoje começa com uma imagem que estava na cabeça das pessoas de origem judaica: o diluvio no tempo de Noé (Gn 7,1.23). Podemos ficar com a imagem que as coisas foram destruídas, mas a grande provocação do texto é que tudo aconteceu de repente. As pessoas seguiam suas vidas (Mt 24,37-38) e repentinamente aconteceu!!! Depois acontecem cenas onde duas pessoas estão juntas e repentinamente uma é arrebatada. Mais do que focar no arrebatamento, o chamado de hoje é em ter atenção! O diluvio e a arca de Noé são sinais da ação de Deus (Gn 6,5-9,17). É como se a comunidade de Mateus olhasse para os textos sagrados e disse-se: “Deus quis salvar, mas eles não estavam atentos. Não perceberam o que estava acontecendo”. Depois ela olha para fatos corriqueiros e sinaliza que mesmo neles podemos ser surpreendidos com a iniciativa salvifica de Deus. A partir disso podemos nos perguntar: Como estamos diante da vida? Você está atento ao que está acontecendo? Ou simplesmente segue a vida sem se ater a fatos e situações?
Mas todos estes sinais querem apontar como será a vinda do “filho do homem”. A comunidade de Mateus utiliza nesta cena a expressão três vezes ou a relatar sobre a “vinda do Filho do homem” (Mt 24,37.39) e na conclusão diz que “o filho do homem virá” (Mt 24,44). Esta imagem vem do livro do profeta Daniel (Dn 7, 13). Diante das feras que aparecem na visão do profeta e representam os impérios (Dn 7,1-12) aparece alguém como “filho de homem”. Este, que não tem aparência assustadora, é que tem o poder. Nele Deus intervém em favor dos pequenos. A imagem do “filho de homem” testemunha a esperança messiânica da derrota dos impérios que oprimem. O tempo do advento é um tempo de celebrar a esperança que se afirma mesmo diante dos impérios que destroem a vida e parecem ser mais fortes.
Na primeira leitura deste domingo o profeta Isaias nos convida a um deslocamento. É preciso ter Deus por referência e caminhar na direção Dele. Quais são os deslocamentos que preciso fazer neste tempo? Um deles é mostrado pelo fim dos instrumentos de guerra, o fim da violência. Chega ao seu termo todo o sistema que sobrevive da morte das pessoas. Para nós da PJ é tempo de celebrar a esperança de uma sociedade sem violência e extermínio de jovens. O profeta testemunha a paz.
Na carta aos Romanos Paulo nos anima a esperar. Nos convida a reconhecer que salvação está mais perto do que imaginamos. Com uma metáfora da madruga (Rm 13,12) nos anima a reconhecer que o amanhecer se aproxima. Não é tempo de esmorecer!!
Para concluir a nossa conversa voltamos ao Evangelho para ultrapassar nossa dificuldade de perceber sinais. “E eles nada perceberam” (Mt 24, 38). E nós percebemos. Deus está agindo, estamos em sintonia? Estamos atentos?
Celebramos hoje não um convite ao medo e a apreensão, mas o convite a esperança vigilante. A atenção apaixonada de quem sabe que não pode perder o momento. O seguimento de Jesus não é feito das certezas de quem sabe quando tudo vai acontecer. Mas da alegria pascal de quem está sempre atento aos sinais do Reino; da prontidão de quem está alerta para esperar e para fazer acontecer. O caminho da felicidade é compreender bem isto (Mt 24,43). Na alegria, na esperança, na teimosia, na militância, no coração confiante e nos braços dispostos estejamos sempre atentos. O convite está feito: “por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá” (Mt 24, 44).
Por Ir. Joilson Toledo
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[1] A liturgia católica tem o costume de ter um evangelho de referência de onde são retiradas a maior parte das leituras da liturgia dominical. No ano A lemos Mateus, no ano B, Marcos e no ano C Lucas. O ano litúrgico começa com o tempo do advento.
[2] Estes três evangelhos têm tantos elementos em comum que é possível, a partir deles, fazer uma sinopse, um resumo, um esboço comum. Na pesquisa sobre os textos bíblicos alguns autores acreditam que Mc talvez tenha sido uma fonte para a redação de Mt e de Lc. Ao mesmo tempo ao ler Mt e Lc e se reconhecer tantas partes comuns que não se encontram em Mc o estudo dos evangelhos chegou a conclusão que houve uma fonte comum que acabou não entrando nos livros da bíblia.