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Todo mundo pode ser pejoteiro?

“Não. Não pode. Próxima questão?” Seria um artigo muito curto, se o jeito pejoteiro de questionar as coisas não impedisse o caro leitor de querer saber o porquê da resposta.

Ser pejoteiro significa que a pessoa é participante e/ou articuladora desta proposta chamada "Pastoral da Juventude". E há pessoas que não podem ser pejoteiras porque isso implica assumir esta proposta com a própria identidade pastoral. Já falamos sobre isto aqui no blog. Identidade é algo que se constrói e se escolhe. Não é algo com a qual nascemos. E no que consiste a identidade pejoteira? Temos mais de 100 artigos neste blog e a maioria deles trata, direta ou indiretamente, sobre esta questão. Ou seja, é um assunto que dá o que escrever!

Resumindo, identidade pejoteira tem a ver com a vivência de uma espiritualidade libertadora e do cotidiano, de uma preferência pedagógica pelos pequenos grupos, de uma metodologia que valoriza a história, a prática, os meandros sócio-políticos, um olhar bíblico e profético sobre a realidade e a ação concreta, primando sempre pela decisão colegiada, democrática, ética e coerente.

Pejoteiros não ficam toda hora querendo reinventar a roda; querem conhecer sempre mais sobre a cultura juvenil; sabem que o jovem é o protagonista de sua ação; valorizam a pastoral de conjunto; promovem a vida; são missionários, críticos e articulados; optam por uma formação que leve em conta a pessoa como um todo; sua ação é a partir da opção pelos mais empobrecidos e pela juventude; e sabem que não sabem tudo.

Você olha para sua comunidade, para seu grupo na escola ou faculdade, para outros grupos juvenis na própria igreja e se pergunta: dá para todo mundo ser assim? Queria conhecer alguém que dissesse que sim. Daria uma boa conversa.

E há outro aspecto decorrente deste: o direito de escolha. Identidade é opção política e como tal tem suas consequências. Para que todo mundo se tornasse pejoteiro (assumindo suas características) seria preciso uma massificação plena, um decreto eclesial dizendo que a partir de tal data só valem tais práticas, posturas ou pensamentos. Sinceramente, você aceitaria isso?

A PJ sofre em muitos lugares com uma desarticulação num sentido oposto. Justamente por terem uma postura como esta que está resumida logo acima, é vista como “pedra no sapato” de muita gente que tem outra visão de mundo. E acabam sofrendo perseguições, acusações e desmantelamentos.

A PJ não tem característica de massa, mas de fermento. Não tem graça nenhuma um bolo feito só de fermento. E se tudo for fermento, ele acaba por perder sua função e vira massa também.

Se você chegou até este ponto do texto, há uma pergunta que não quer calar: se acreditamos na nossa postura e na nossa prática, se queremos fermentar a massa, se desejamos ser profetas que apontam onde estão os sinais contra o Reino e contra a justiça, por que não é certo que desejemos que todas as pessoas também sejam assim? Por duas razões bem simples, no meu modo de ver as coisas

Em primeiro lugar, você não pode obrigar ninguém a pensar como você. As pessoas são livres para agirem como quiserem e assumirem as consequências pelos seus atos. Se a gente prima pela liberdade, por que iríamos tirar o direito de escolha dos outros? Contudo, que fique claro: respeitar o direito dos outros, sim. Ser omisso e abrir mão do direito de debater ideias e discordar delas, não.

E, em segundo lugar, porque a gente não tem a verdade absoluta. Embora tenhamos todos estes princípios, o mundo gira e as coisas mudam a todo o momento. A gente precisa aprender com as mudanças. A gente precisa aprender com os outros, em especial com quem discorda da gente.

Sim, somos poucos. E, em hipótese alguma, isto deveria nos deixar tristes. Somos poucos mas nos fazemos notar. Somos poucos, mas temos espírito missionário para levar a proposta de Jesus adiante. Somos poucos mas somos bonitos e cativantes. E, parafraseando Thiago de Mello, somos poucos, mas não somos melhores e nem piores que ninguém. Melhor mesmo é a nossa causa.

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