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Jovens e a Ditadura Civil-Militar brasileira

 Jovens e a Ditadura Civil-Militar brasileira

Por Robson Oliveira

Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino do Céu.

Mateus 5, 10.

Há 56 anos, o Brasil entrava em um período doloroso de sua história, o Golpe Civil Militar que durante 21 anos ceifou a vida democrática do país e também a vida de tantas e tantas pessoas, em sua maioria jovens.  A juventude teve um papel crucial no combate à repressão e a violência da Ditadura Civil Militar brasileira, que segundo a Comissão Nacional da Verdade, vitimou cerca de 434 pessoas. Dados divulgados pela Folha de São Paulo acrescentam mais 600 vítima entre camponeses, sindicalistas, líderes religiosos, padres, advogados e ambientalistas e mais 1100 indígenas exterminados, muitos e muitas, jovens. Das 434 vítimas 56% eram jovens com menos de 30 anos, e 29% tinham menos de 25 anos.[1]

Devemos fazer memória de tantos e tantas jovens que tiveram suas vidas ceifadas, muitos e muitas na luta pela democracia, na resistência à um regime cruel. Fazer memória é trazer para luz a perversidade da violência, a memória inibe a sua reprodução. O dispositivo naturalizador da violência, que a reproduz como algo normal, fica desconstruído quando se rememoram as pessoas, as consequências da barbárie. A tendência em continuar utilizando a violência como um método normal de governo e de gestão política fica profundamente questionada, desconstruída, quando confrontada com a memória de suas consequências. Os atos de memória atualizam as barbáries históricas como meio eficiente para evitar sua repetição. [2]

Fazer memória é também trazer as vidas doadas, daqueles e daquelas que não se calaram diante a brutalidade de um regime que reprimia qualquer expressão de insatisfação do povo. Queremos fazer memória da manifestação estudantil contra os altos preços, ela ocorreu no centro do Rio de Janeiro na tarde do dia 28 de março de 1968, tendo como vítima o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, que tinha 18 anos, que foi morto a queima roupas pela polícia militar. Poucos meses depois em 21 de Junho de 1968, a polícia também atinge jovens estudantes em uma manifestação em frente ao prédio do MEC, três mulheres jovens caíram feridas e Maria Ângela, de 22 anos, morreu em seguida.

Vale lembrar que nos famosos “anos de chumbo”, jovens com algum ou nenhum envolvimento na militância política eram assassinados, sob o pretexto de reprimir a luta armada, como o caso do jovem Paulo Torres Gonçalves, estudante secundarista e funcionário do Ibope no Rio de 19 anos, sem militância comprovada, foi preso pelo DOPS em 26 de março de 1969 e nunca foi encontrado.

São inúmeros os casos de violência e truculência por parte do Regime Civil Militar no Brasil, também com Bispos, Padres e Religiosos. Pe. Henrique aos 29 anos e assessor da PJ de Recife, foi sequestrado em maio de 1969, torturado e morto no dia 27 de maio do mesmo ano, pelo Comando de Caça dos Comunistas e por agentes da polícia. Henrique tinha um bonito trabalho com a juventude além de ser professor. Assim também aconteceu com Dom Adriano Hipólito, então bispo da Diocese de Nova Iguaçu- RJ que em abril de 1976 foi sequestrado, espancado e abandonado com o corpo todo pintado de vermelho em um matagal em Jacarepaguá, por defender as vítimas da ditadura.

São inúmeros os e as jovens que foram torturados pela Ditadura brasileira, todos com seus relatos, com suas tristes histórias de torturas, exílios, morte, podemos ver algumas destas histórias na página “Memoria da Ditadura”[3]. Histórias que nos dias de hoje devem ser lembradas e recordadas. Em sua cidade, em seu estado, quais jovens foram violentados e violentadas pela Ditadura? Façamos memória!

Lembremos também de tantos Bispos que foram vozes proféticas no tempo da Ditadura, entre eles Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns, que com sua missão de pastor lutou contra a Ditadura, foi voz ativa na denúncia da tortura e da morte e no anúncio da necessidade de tempos em que impere a democracia e a liberdade, ele nos disse:

Cardeal Arns e Rabino Sobel

“A ditadura também agravou o problema da distribuição de renda. A ditadura empobreceu o povo e o Estado, que se tornou mais esbanjador e menos capaz de distribuir as riquezas. Os efeitos da ditadura ainda não acabaram. Foram herdadas dela, entre outras coisas, as relações que hoje temos (…) mesmo assim não podemos abandonar nossos deveres essenciais de defesa da dignidade humana e dos direitos da pessoa.”

Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns[4]

Na luta contra qualquer manifestação ou ameaça de um rompimento democrático no Brasil, sejamos as vozes que ecoam, assim como nossos pastores tem se manifestado: “Recontar os tempos do regime de exceção faz sentido enquanto nos leva a perceber o erro histórico do golpe, a admitir que nem tudo foi devidamente reparado e a alertar as gerações pós-ditadura para que se mantenham atuantes na defesa do Estado Democrático de Direito”.[5]

            Que pelo sangue de tantas e tantos jovens, pela vida doada de tanta gente, nós como Pastoral da Juventude clamemos em alta e única voz: DITADURA NUNCA MAIS!


[1] Listagem atual relaciona 357 vítimas; estudo detalha a morte de outros 600 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/58032-lista-oficial-de-mortos-pela-ditadura-pode-ser-ampliada.shtml?origin=facebook#_=_

[2] RUIZ, Castor. O direito à verdade e à memória – por uma justiça anamnética: uma leitura crítica dos estados de exceção do Cone Sul. Relatório Azul, Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2011, p.125.

[3] http://memoriasdaditadura.org.br/memorial-mortos-e-desaparecidos/

[4] Frases de Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns sobre a Ditadura: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/12/14/5-frases-de-Dom-Paulo-Evaristo-Arns-o-cardeal-que-desafiou-a-Ditadura-Militar

[5] CNBB, Declaração por tempos novos, com liberdade e democracia. Brasília – DF, 2014.

Thiesco Crisóstomo

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