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Juventude que ousa lutar!

No ano de 2013, muitos olhares se voltaram para as juventudes. No meio eclesial, a Semana Missionária, a Jornada Mundial da Juventude e a Campanha da Fraternidade, foram alguns dos diversos eventos e processos que demonstraram o reconhecimento da Igreja de se contribuir para que os e as jovens tornem-se cada vez mais protagonistas na construção de outro mundo possível, baseado na solidariedade e justiça social para que todos e todas tenham vida digna em abundancia (cf. Jo 10,10).

No âmbito social, o ano foi marcado pelas as Jornadas de Lutas da Juventude Brasileira, que aconteceram em abril e que desembocaram na construção de uma plataforma política encabeçada por grande parte das organizações juvenis brasileiras e que tiveram seu ponto alto nas grandes marchas construídas naquele mês, além de uma audiência com a presidência da republica. Esta unidade marcava um momento importante na história das lutas juvenis brasileiras, pois era a primeira vez em mais de 10 anos que o governo federal recebia um grande grupo de organizações juvenis auto organizadas e com uma plataforma comum. Outro grande marco foi sanção do Estatuto da Juventude, conquista que reconhece a juventude como sujeito que precisa de políticas específicas, garantindo que anos de luta e reinvindicações da juventude no nosso país se tornassem efetivamente politicas de Estado. Torna-se o marco legal mais importante da historia da juventude brasileira.

Ainda sobre 2013, não podemos esquecer as manifestações populares de junho, protagonizadas em grande parte pela juventude, que inicialmente tiveram como pauta a tarifa de transporte publico na capital paulista, mas que tomou proporções gigantescas após a onda de violência policial para reprimir tais manifestações. Essas manifestações criaram uma grande efervescência popular no nosso país, no qual criou as condições para que de fato chegasse a hora de pautar, com mais força e adesão popular, o modelo de sociedade que temos e que queremos. Houve até mesmo uma fala do Papa Francisco, que disse em entrevista: “um jovem que não protesta, não me agrada”. A juventude traz consigo inquietação e vontade, coragem e ousadia de mudanças profundas, quase genéticas.

O fato é que essa revolta causada pela repressão da PM foi aproveitada pela juventude como uma grande oportunidade de demonstrar o quão insatisfeita está com a realidade e a desigualdade social brasileira e pautar as melhorias e garantias de direitos básicos necessários como educação, saúde, transporte, moradia, lazer, cultura e segurança. Dentre as reivindicações feitas, um tema recorrente foi a reforma do sistema político e eleitoral. As manifestações eram contra a corrupção, por transparência, por mais participação popular nas decisões importantes para o país. Demonstrou o quanto o sistema político atual não atende e não representa essas juventudes, nem tampouco a maioria dos/as brasileiros/as.

Outro fato importante é que as Pastorais Sociais da CNBB e vários movimentos sociais construíram a 5a Semana Social Brasileira (SSB) que trouxe a discussão “O Estado para que e para quem?” e reforçou que a estrutura de Estado que temos continua conservadora e não está a serviço da sociedade, sobretudo dos mais pobres. Mais do que discutir o Estado, a 5a SSB se propôs a discutir a sociedade, acreditando em sua organização e força política para propor o Estado que queremos, que precisa ser democrático de fato, e essa democracia é mais que votar e ser votado como demonstrou a insatisfação das ruas. Acreditamos em uma sociedade e, consequentemente, num Estado em que todos e todas tenham voz, vez e lugar, para que estejamos em conformidade com que Jesus afirma: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude.” (cf. Jo 10,10).

Não há duvidas de que para garantir que a juventude seja protagonista da própria vida e na sociedade, se faz necessária uma mudança estrutural. As estruturas que temos não atendem mais ao ideário democrático, nem tampouco solidário e justo ao qual temos tanto orgulho de afirmar que nossa sociedade se baseia. Como diz a música: “é hora de transformar o que não dá mais”. É hora de tomar conta dessa reflexão, nos grupos de jovens, no trabalho, nos bairros e nas famílias. É hora de mobilizar a juventude outra vez, agora não somente com cartazes, mas com faixas, com bandeiras diversas, em comunhão, pois somos muitos, mas “sozinho e isolado, ninguém é capaz”.

É por isso que este ano, várias organizações tem se organizado para lutar por essa causa. Agora, com a experiência do que foram as manifestações de junho, em 2013, temos a possibilidade de construir essa unidade popular, para que as lutas sejam fortalecidas. Já existem muitas iniciativas importantes sendo disseminadas. Dentre elas, é muito importante citar a Coalizão pela Reforma Política, capitaneada pela CNBB3 e OAB4 e que reúne ainda outras organizações e parlamentares que desejam transformação social e que entendem que o primeiro passo é rever o sistema eleitoral e o financiamento de campanhas.

“Na cola” dessas mobilizações temos a Semana da Cidadania5 de 2014, atividade proposta pelas Pastorais da Juventude do Brasil, organização de jovens ligados à CNBB e escolheu este ano o tema da Reforma Política para a discussão. É importante que as juventudes dos grupos de jovens se sintam parte das decisões políticas e sociais e de fato envolvidas nos processos democráticos. É por acreditarem nos e nas jovens protagonistas, sujeitos da ação, construtores e construtoras de um outro mundo possível e necessário, que as PJs apontam várias ações concretas, que tem apoio da CNBB, e fazem parte da discussão atual da sociedade brasileira.

Outra grande possibilidade de mobilização é o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político6 que está sendo construído por mais de 100 (cem) movimentos sociais, sindicatos, igrejas e ONGs. O objetivo do plebiscito é de organizar uma grande consulta popular, na semana da pátria, onde o povo brasileiro dirá sim ou não a uma Constituinte Exclusiva e Soberana, composta por cidadãos e cidadãs exclusivamente para mudar o sistema político, e não pelo Congresso Nacional7. Para além da própria consulta que se efetivará no voto, temos a oportunidade de mobilizar todos e todas no debate do tema, aproveitando o sentido pedagógico do trabalho de base, da reflexão e da unidade de todos os envolvidos. Sabemos que o Plebiscito Popular não finda em si, ele é um meio de envolver de fato as pessoas, e assim as juventudes, no processo democrático, de dar-lhes voz, vez e lugar na sociedade. Buscar de fato uma estrutura política que represente e trabalhe em prol do povo, sobretudo os mais pobres é tarefa de todos e todas.

Sabemos que para essas mudanças houveram tentativas que para dar frutos, necessitavam de um interesse político e que hoje é quase inexistente. Poucos são os que têm interesse em realizar a Reforma do sistema político e eleitoral. É fácil perceber isso se observarmos os dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que mostram que dos 594 parlamentares eleitos em 2010, 273 são empresários, 160 compõem a bancada ruralista, 73 da bancada evangélica e apenas 72 representam os interesses dos trabalhadores. As mulheres representam 9% dos 513 deputados e 12,3% dos 81 senadores. Se observarmos as juventudes, são 40% do eleitorado, mas, 3% apenas no Congresso Nacional. E, que ainda assim, não defendem de fato os direitos dos mais pobres e excluídos, nem tampouco das juventudes. A política precisa ser mais acessível e menos excludente. E nós jovens queremos e devemos ser envolvidos e envolvidas nesses processos, afinal, nós não somos só o futuro, somos muito mais o presente desse país.

Não resta dúvida que o ano de 2014 será tão cheio quanto o anterior. Já tivemos a Jornada de Lutas da Juventude Brasileira que “botou o bloco na rua”, tendo como consequência, inclusive, uma reunião com a presidência da republica. Lá foram apresentadas as pautas que foram construídas coletivamente em todo o país. Mas sabemos que somente isso não resolverá nossos problemas. Sabemos que o diálogo é necessário, mas a pressão popular torna-se obrigatória quando não há mudanças. O nosso desejo de transformação não pode ceder espaço para a boa vontade de alguns. Esta precisa ser somada ao nosso sonho. Somente o povo organizado e unido dará as condições para as mudanças que queremos!

Essa é, sem medo de errar, a tarefa das juventudes brasileiras: contribuir na construção de uma frente popular que garanta as mudanças necessárias, que ouse lutar e sonhar e que avance na construção do Projeto Popular para o Brasil!


[1] Laísa Silva é estudante de Psicologia pela UFMG e estagiária no Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Direitos Humanos do Ministério Público de MG. É Articuladora da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Belo Horizonte e foi Secretária do Serviço Regional de Evangelização das Juventudes do Leste 2 da CNBB (Minas Gerais e Espírito Santo) no período de 2013 a 2014. Contato: laisa.silva7@yahoo.com.br

[2] Thiesco Crisóstomo é bacharel em Sistemas de Informação pela UFPA e estudante de Ciências Sociais pela UNIFESSPA. Foi Secretário Nacional da Pastoral da Juventude no período de 2011 a 2013. É membro na Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), pelo Regional Norte 2 da CNBB (Pará e Amapá). Contato: thiesco@gmail.com

[3] Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil: www.cnbb.org.br

[4] Ordem dos Advogados do Brasil: www.oab.org.br

[5] A Semana da Cidadania (SdC) faz parte das Atividades permanentes das Pastorais da Juventude do Brasil. A SdC acontece todo ano na semana de 14 a 21 de abril. Este ano o tema da SdC é “Juventudes na luta pela Reforma Política” e o lema “É hora de transformar o que não dá mais”.

[6] Visite a página do Plebiscito: www.plebiscitoconstituinte.org.br

[7] Cartilha Plebiscito por um novo Sistema Político, pág. 1.

Autor/Fonte: Laísa Silva e Thiesco Crisóstomo – No site do Plebiscito pela Constituinte

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