A Igreja não pode ignorar a política
Estamos em época de preparação para as eleições. Sempre surgem questões ligadas ao relacionamento da Igreja com a política. Trago as reflexões do Documento nº 40 da CNBB, cujo título é “Igreja: comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, da política e da cultura”. Penso que é muito clara e profunda a reflexão trazida pelos bispos nesse documento sobre a postura da Igreja no mundo da política.
“A sociedade humana tem uma dimensão política enquanto se organiza e se dota dos meios necessários para que a vontade dos membros possa se expressar e alcançar fins coletivos. Do ponto de vista ético ou dos valores, a política é o conjunto de ações pelas quais os homens buscam uma forma de convivência entre os indivíduos, grupos, nações que ofereça condições para a realização do bem comum.
Do ponto de vista dos meios ou da organização, a política é o exercício do poder e a luta para conquistá-lo. Enquanto abrange, de certo modo, toda a sociedade e procura regular toda a vida social, a política se torna também expressão de uma concepção do homem e de projetos globais, e suscita tanto os mais nobres ideais quanto paixões e egoísmos.
A Igreja não pode ignorar a política, não apenas enquanto instrumento necessário de organização da vida social, mas sobretudo enquanto expressão de opções e valores que definem os destinos do povo e a concepção do homem. Nos últimos anos, a Igreja no Brasil tem-se preocupado mais explicitamente com a relação fé-política e tem incluído, nas suas Diretrizes Gerais da Ação Pastoral, uma atenção particular às transformações políticas da sociedade brasileira1.
Ao longo de sua história, a Igreja experimentou momentos diferentes nessa relação com a política. Depois de ficar marginalizada durante séculos da vida política do Império Romano, pouco a pouco ela foi penetrando tanto na política que acabou tutelando, durante longo tempo, o Estado, exercendo diretamente o poder, de modo especial na Idade Média. O complexo movimento político-cultural da Modernidade levou a Igreja a reconhecer a legítima autonomia das realidades temporais e do mundo político e a distinguir melhor a sua missão própria, confiada por Cristo, que não é de ordem política, econômica e social, pois a finalidade que Cristo lhe prefixou é de ordem religiosa.
No entanto, ela está também consciente de que pregando a verdade e iluminando todos os setores da atividade humana pela sua doutrina, pelo testemunho dos fiéis e cristãos, a Igreja respeita e promove também a liberdade política e a responsabilidade dos cristãos. Por isso mesmo faz parte da missão da Igreja preocupar-se, de certo modo, das questões que envolvem o homem do berço ao túmulo, como são as sociais e sócio-políticas.
O fato da presença da Igreja no mundo da política é inevitável, mas a natureza e a qualidade dessa presença dependem de sua consciência evangélica e profética, do momento histórico e do próprio conceito de política. É a vocação evangélica que norteia seu modo de proceder na política. Ela é permanente e definitiva, mas suas implicações e conseqüências no plano político devem ser pensadas num determinado momento histórico.
Nesse sentido, cabe sempre, de novo, refletir sobre a fé e a política, já que os eventos históricos nascem da novidade da liberdade humana no entrechoque com as situações mutáveis”. Quero trazer em próximos artigos a continuidade dessa reflexão, tão bem proposta por esse documento a fim de as pessoas reflitam sobre o mundo da política, principalmente os cristãos.
E que saibam contribuir para a formação política do povo, uma vez que, como dizia Bertold Brecht, “o pior analfabeto é o analfabeto político”.
Pe. Sidney Fabril
Coordenador da ação evangelizadora na Arquidiocese de Maringá
E-mail: sidbril@yahoo.com.br