Testemunho partilhado no Encontro Nacional de Movimentos Juvenis
O meu nome é Hildete Emanuele, nasci no dia 2 de fevereiro de 1981 e sou filha de Dona Dora, mulher de fé, cheia de beleza, guerreira e apaixonada pela vida. Mainha é filha única dos seus pais, seu pai teve outros filhos, mas ela não tem vínculo familiar com esses irmãos. Minha mãe nasceu em 15 de maio de 1955, em 1977, aos 22 anos, ela perdeu o pai, em 1978, aos 23 anos, ela perdeu a mãe e em 1982 ela ficou viúva, aos 26 anos de idade. Nessa época eu tinha 1 ano, Fabiano, meu irmão do meio, tinha 3 e Albert, meu irmão mais velho, tinha 4 anos.
Fica fácil de imaginar a vida da minha família, chefiada por uma mulher solitária, marcada por muitas perdas e que precisava continuar vivendo para criar os seus três filhos. A nossa infância foi muito difícil, Mainha trabalhava demais para ganhar o pão de cada dia e nós seguíamos a vida, sendo criados por muitas mãos, nos faltava muitas coisas, mas de tudo esquecíamos quando ia chegando a noite e escutávamos a voz de Mainha e sentíamos o calor do seu abraço, aquele momento era divino e encantador. Deus se materializava em minha infância, naquele abraço de mãe.
E dessa forma eu fui crescendo com todas as dificuldades e marcas de uma adolescente negra, pobre e sem pai. Até o dia em que eu encontrei o grupo JVC (Jovens Vivendo em Cristo), naquela pequena comunidade juvenil eu encontrei um grande amigo e irmão chamado Jesus Cristo e ali também aprendi a ser Igreja, a viver em comunidade, descobri as minhas belezas, as minhas potencialidades e principalmente me senti amada por Deus Pai. Essa foi a grande conquista da minha juventude, descobri a imensidão do amor de Deus e a vontade que eu tinha era de transbordar esse amor em casa, na escola, na minha rua, enfim, onde quer que eu fosse. E missão para mim é isso: transbordar o amor de Deus, o qual é revelado para nós na oração pessoal e comunitária, nas Sagradas Escrituras e no Pão Partilhado.
Nesse intuito de sair pelo mundo transbordando o amor de Deus e embalada pela música: “E pelo mundo eu vou cantando o teu amor, pois disponível eu estou para servir-te Senhor”, fui assumindo serviços na Igreja, através da Pastoral da Juventude, passando pela paróquia, forania, arquidiocese, regional e nacional. Nesse momento estou concluindo o serviço missionário na Secretaria Nacional da Pastoral da Juventude.
Nessa trajetória a Igreja me fez melhor como pessoa, melhor na família, na comunidade e na sociedade. Sou eternamente grata a todas as pessoas que fizeram parte dessa caminhada, pastores e pastoras de jovens que se colocaram à disposição para exercer as três grandes atitudes pastorais: conhecer, amar e cuidar.
Desejo ardentemente seguir nesse caminho, sendo pastora de tantos e tantas jovens que clamam por amor e um pouco de atenção. Quero ser Igreja que cuida da juventude empobrecida e excluída, em sua totalidade, para que todas as dimensões da formação integral sejam trabalhadas: espiritual, psicológica, afetiva, social, política, ética, ambiental e técnica.
Para finalizar quero partilhar as duas grandes tarefas que tenho me dedicado de corpo e alma: o projeto de revitalização da Pastoral Juvenil na América Latina e em minha opinião revitalizar a Pastoral da Juventude é ajeitar o nosso tripé: espiritualidade, formação e ação. No desejo que a nossa espiritualidade fortaleça a nossa eclesialidade, que a nossa formação seja verdadeiramente integral e que a nossa ação seja ousada, profética, inovadora e missionária. Outra tarefa é a Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens, a qual dialoga com a minha realidade concreta, essa tarefa para mim é urgente e necessária e por essa razão concluo essa partilha fazendo memória de mais um menino negro e pobre, assassinado em Salvador, um pequeno capoeirista chamado Joel Filho, morador da periferia de Salvador.
Vamos juntos e juntas gritar, girar o mundo, CHEGA DE VIOLÊNCIA E EXTERMÍNIO DE JOVENS.