Deus da perseverança e do encorajamento
O Deus da Perseverança e do encorajamento
2º domingo do Advento.
1° leitura: Is 11, 1-10
Salmo 71
2° leitura: Rm 15, 4-9
Evangelho: Mt 3,1-12
É tempo de espera-esperança!!! Preparemo-nos para a memória do nascimento do Menino-Deus!
Mas o que esperar e como esperar se estamos vivendo dias tão difíceis??? “Alimentar a esperança não está fácil”, poderia dizer alguns/as. Motivos não nos faltam para cabisbaixo, sentir um peso nos ombros e assim perder o horizonte de vista…
Porém estamos num período forte para ressignificarmos tudo isso – o advento (há-de-vir). Depois de um convite para vigiarmos, no domingo passado; a liturgia deste nos coloca perto de dois profetas muito contundentes de nossa história de fé: Isaias e João Batista. E isso por si só já nos indica algo: é momento de não deixar cair a profecia[i]! Sim, reconhecer aqueles/as que gritam nos desertos de nossa atualidade, preparando o caminho do Senhor, endireitando as estradas, ou pelo menos indicando o caminho… Não, não estamos falando de adivinhadores/as de futuro; estamos falando de quem denuncia o que não gera vida, anuncia o Reino e consola os/as que necessitam[ii].
Para Isaias, do tronco de Jessé [pai de Davi], nascerá um broto de suas raízes. Nesta profecia, o broto é Jesus. É sobre Ele que pousará o espírito de Javé… Contudo reparem que nascerá de suas raízes. Se quisermos chegar alto, temos que ter raízes bem fincadas no solo. Esta imagem construída é muito significativa: ora, é o chão que te dará sustentação e base para crescer e chegar onde quiser e produzir seus frutos. Qual tem sido nosso chão? Temos feito nosso trabalho de base? Se sim, como o temos feito? A sabedoria popular já nos diz que temos que colocar os pés na terra… mais do que entrar em contato com a Mãe-Terra, criada por Deus, é também nos vincular afetivamente a nossa realidade, para não ficarmos “avoados/as”. Leonardo Boff já nos diz que “a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”.
Lembremos que como batizados/as, todos/as nós somos chamados/as a sermos profetas/profetizas do Reino e Paulo em sua carta a comunidade de Roma reza para que “o Deus da perseverança e do encorajamento conceda que nós tenhamos os mesmos sentimentos uns para com os outros, a exemplo de Cristo Jesus” (v. 5). E esta oração veio depois do ensinamento de que “tenhamos esperança, mediante a perseverança e o encorajamento que nos vêm das Escrituras” (v. 4).
Para Isaias o horizonte seria o dia em que “ninguém agirá mal nem provocará a destruição (…), pois a terra estará cheia do conhecimento de Javé, como as águas enchem o mar.”
Mas podemos pensar: tudo bem, sabemos que temos que ser profetas/profetizas, que temos que estar com os pés firmes na base, enraizados no chão da vida, que nossa esperança vem da perseverança e que alimentados/as da Palavra libertadora, virá a coragem necessária para a luta que nos espera… tudo isso à exemplo de Jesus. Porém daí acreditar que ninguém agirá mal e provocará a destruição é demais….
Ora voltemos sempre às palavras de Eduardo Galeano[iii] que nos diz que a utopia serve para nos fazer caminhar. Um passo dado em direção à ela e já não estamos mais onde estávamos e já estamos melhor do que estávamos antes… Assim são os/as construtores/as do Reino de Deus. Creem num mundo melhor e lutam para que ele aconteça, por mais louco que isso possa parecer… e foram com as lutas do passado que chegamos onde estamos hoje, e será com as nossas lutas de hoje que chegaremos onde queremos chegar. Gonzaguinha, já nos convida em sua música[iv] a fazer o que será.
Assim poderemos salmodiar a “libertação do indigente que suplica, e do pobre que ninguém quer ajudar” (conf. v 12). E que o nome de Javé “ seja bendito para sempre! E que dure como o sol sua memória! (v. 17). Viver o adento é estar grávidos da beleza de Deus e espalhar esta Boa Notícia a todos/as, com a ternura daqueles/as que confiam na bondade de Deus, que é Pai e Mãe e que cuida de seus/suas filhos/as com carinho mesmo quando é difícil caminhar… ele levanta nossa cabeça, tira os peso dos nossos ombros e nos mostra o horizonte que temos para seguir… Levante-se!!! Não temas em caminhar, Ele está contigo, encarnado em seu meio…
Por Pedro Caixeta
CEBI GO
Coordenador Nacional da PJ (2006 – 2009)
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[i] Palavras de Dom Helder Câmara.
[ii] Na Romaria dos Mártires da Caminhada deste ano, em Ribeirão Cascalheira, na prelazia de São Félix do Araguaia, aprendemos que a profecia tem três funções que a caracterizam: anuncio, denuncia e consolo. Ampliando a compreensão da profecia, que também necessita de um gesto misericordioso, para além da fala (que está presente nas duas primeiras funções).
Ventana sobre la utopía
Ella está en el horizonte.
Yo me acerco dos pasos y ella se aleja dos pasos.
Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá.
Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré.
¿Para que sirve la utopía? Para eso sirve, para caminar.
– Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que tem uma obra comprometida com a realidade latino-americana.
[iv] Semente do amanhã – Gonzaguinha. Veja o vídeo em https://www.letras.mus.br/gonzaguinha/280650/