DNJ – 30 anos
CHEGANDO AOS 30, A VIDA AINDA COMEÇA
Pe. Hilário Dick, sj
– Aí cê me pede pra falar dos 30 anos do Dia Nacional da Juventude (DNJ)… Muitos anos, muitos caminhos, não acha? Quem já era nascido então? Se eu já tinha 48 anos, vocês nem na imaginação…
– Mas sim. Fale. Por quê? Quando? E outras coisas…
– Aí vamos. 1985, esta é uma data. A juventude incomodando de novo porque incomodara muito no Maio de 1968, 47 anos atrás, tempo do seu vô. O Brasil saindo da ditadura de mais de 20 anos; grandes mobilizações querendo participação do povo, juventude levantando a cabeça. E a ONU declara:
– 1985, Ano Internacional da Juventude!
A Globo (veja só quem…) investe num encontrão de milhões de jovens no Rio para cantar, dançar, fumar, ouvir estrangeiros, mas nada de discussão de jovens ou sobre juventude. Seria o Ano Internacional da Juventude… Os jovens da Pastoral da Juventude com milhares de grupos articulados (no meu Estado havia mais de 4 mil grupos articulados), olhando firme para o Brasil, decidem:
– Com todos estes grupos espalhados pelo Brasil, nós é que vamos celebrar o AIJ… E foi. E decidiram. Nas paróquias, dioceses, regionais; com cartazes, muitas camisetas, painéis de metros e mais metros (ai como me lembro!), cantos, temas, subsídios, teatros.
– Temas?
– Sociedade nova (1985), terra, índio (1988), ecologia (1992), educação (1989), trabalho, AIDS (1993), tudo na reza, tudo com as mãos na realidade e não só no peito fazendo sinais da cruz… “Quero ver o novo no poder” (1996) – “Nas asas da esperança gestamos a mudança” (1998) – “Políticas Públicas para a Juventude” (2001 a 2006) – “Contra o extermínio da juventude, na luta pela vida” (2009), tanta coisa… E não era de brincar.
– Muito jovem?
– Muito. Difícil de contar. Em São Paulo, no Maranhão, nas Amazonas, no Paraná, mais de 20 mil em Timbó, mais de 40 mil em Passo Fundo, mais de 50 mil em Santa Cruz, em tantos lugares, em tudo que é canto… Jesus! Que beleza.
– Verdade? Exagero…
– Exagero, nada. Pergunte os que estavam, antes que fiquem velhos e velhas demais, os que contavam os ônibus, os que viam a massa naqueles campos de futebol, os que estavam nas curvas desejando boas vindas, naquelas praças, naquela oktoberfest lotada, naqueles espaços enormes com bandeiras, barracas enormes. Era jovem de todo canto com suas alegrias e cantorias.
– E bispos?
Sempre alguns. Poucos, porque tinham muito trabalho. Alguns vibrando, outros meio desconfiados. Padres? Bem mais. Bonito ver as celebrações com cantorias de arrepiar, com tudo de direito. E não era só “viva Jesus” nem só “santa marias”, era isso e era grito de sonhos, de lutas, de direitos, de reclamações. Era reza com mãos na terra, olhando para os sonhos.
– E isso foi indo?
– Foi indo e mais indo e ao pé de certa figueira, aparecem algumas nuvens mais fortes. Ano muito forte foi o de 2007 onde aparece o melhor documento sobre a evangelização da juventude, mas também suas contradições. Quantos bispos leram este documento? Parece que só fala de Setor e o resto não interessa. Aí vem alguma tristura também para o que devia ser e era o DNJ porque, por vezes, as igrejas e autoridades têm medo destas coisas de juventude reclamando pelo direito de ser. E eles, com poder, sem muitas perguntas, foram proibindo, dificultando aos poucos, impondo, querendo coisas mais “piedosas”. Ainda falam de protagonismo, mas lá por trás ficam tomando conta do lugar do jovem porque é preciso ortodoxia, é preciso cuidado, não se pode incomodar os “endinheirados” e outros pensamentos que nem se dizem alto…
– Falar mais de Jesus?
– Sim, de um jeito que não é bem o de Nazaré, mas falar de Jesus. Acham bonito que haja aleluias, choros, esquecimento das nuvens escuras do social, muita dança, muito abraço deixando para os cantos os compromissos com as raças, os exterminados, as negritudes, as pobrezas e os que se amontoam nas periferias. Na questão de gênero, nem pensar. E o ano de 1989, ano da queda do Muro de Berlim e da superação de alguns medos morais, já passara.
– Certa tristezinha, né?
– Certa, sim. A falta de profecia, de pegar os problemas sociais nas mãos, fazendo com que não se vejam as infelicidades, as violências, as corrupções não só de uns, também das igrejas, as crueldades com a mulher, os meninos e meninas em busca de sua identidade, a deixação de lado dos pobres, das roças, dos índios, dos que vivem de desejar. Dói. Dói ver que se tem raiva do pobre e de quem tem carinho com os preferidos de Deus.
– E a festa?
– Pois, pois. Aprendemos que a vida, também a vida da história dos 30 anos do DNJ, que a vida é uma sopa de misturança de alegrias, esperanças, festas e choros, gritos, e lutas. O DNJ não foi fundado para rezar, está claro, mas assusta; foi fundado para que os jovens de fé mostrassem aos jovens que não tiveram ainda a graça de encontrarem um sentido divino de viver, que a vida é bonita, sim. No jovem se devem encontrar Juventude e Missão, ouvindo aquele de Nazaré dizer: levante-se, seja fermento! Mais ainda: aprender que fomos feitos para sermos livres, não escravos, nem submissos, nem dependentes, mas protagonistas, donos e donas de nossa caminhada.
– DNJ é isso?
– DNJ é caminhada, é concentração, é romaria nalgum lugar, é deixar a internet de lado por um tanto, é olhar para os lados e não ver só celular, com muito jovem, muita bandeira, muito canto, encenações, celebrações, diversas delegações com camisetas gritando coisas, com hinos, com bonés específicos, com coisas para vender, com visitas a serem feitas nos espaços, com grupos musicais e cantores cantando não só coisas de céu; é saber ser irmão e irmã e não exploradores/as de sentimentos, é palco, é grupo que anima e é muito jovem caminhando, cantando, ouvindo, todos girando em torno de uma sociedade que deve ser festa de todos, não dos mesmos.