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Na festa da vida, todos tem lugar

 Na festa da vida, todos tem lugar

28domingo-01

28º domingo do tempo comum.

1° leitura: 2Rs 5,14-17

Salmo 97

2° leitura: 2Tm 2,8-13

Evangelho: Lc 17,11-19

Tem lugar pra todos na festa da vida”: razão da nossa alegria e impulso ao discipulado!

 

Continuamos nossa trajetória no evangelho de Lucas. Jesus está numa grande caminhada rumo a Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Nessa caminha nos deparamos com o episódio da cura de 10 leprosos (Lc 17, 11-19). Nesta narrativa encontramos dois elementos muito presentes na experiência de Jesus feita pela comunidade Lucana: a alegria e a universalidade da Salvação.

E por falar em universalidade da salvação, os samaritanos aparecem de forma especial no evangelho de Lc. Jesus passa pela Samaria (Lc 9, 52; 17, 11). No primeiro episódio ele não é bem recebido. O texto insinua que o motivo seria que dava a impressão de ir a Jerusalém (Lc 9,53). No tempo de Jesus, devido a preconceitos construídos, Judeus e Samaritanos não se davam bem (Jo 4,9b). No entanto, a comunidade de Lucas, mais uma vez coloca um samaritano como exemplo de atitude de uma pessoa de fé (Lc 10,25-37; 17,11-19).

Ler este texto em diálogo com as outras leituras deste domingo nos coloca diante de uma questão fundamental para comunidade que escreveu o Evangelho de Lucas e também para nós que queremos seguir Jesus atualmente: a universalidade da salvação. Na primeira leitura temos a cura de um estrangeiro que termina com a afirmação de fé em Javé (2Rs 5,14-17). Deus  também atende “os outros”.  Na segunda leitura Paulo, já depois de anos de caminhada, apresenta afirmação de que Deus permanece fiel e que no serviço pastoral suportamos os desafios para gerar vida na vida de outros (2Tm 8,13-17). Mas uma vez o Evangelho nos confronta com a nossa relação com “os outros”!

Voltando ao texto do evangelho temos na entrada de uma aldeia 10 leprosos que vem ao encontro de Jesus. Naquele tempo se tinha pouco conhecimento sobre doenças de pele. Uma variedade de doenças dermatológicas ou situações relacionadas ao aparecimento de elementos diferentes na pele das pessoas, ou sobre animais e utensílios eram conhecidos por “lepra” (Lv 13). Haviam casos em que as pessoas eram isoladas do convívio social para evitar contágios (Lv 13,4.45-46). Pedir a cura é pedir a reintegração social. Voltar a vida!! Sendo assim, as curas de “leprosos” nos evangelhos não falam apenas de um mau que atinge o corpo das pessoas, mas que toca sua identidade, que “as impede de viver”!!! O evangelho e o discipulado de Jesus é um convite a reconstrução dos laços sociais. Uma convocação a trazer de volta a vida. Vivemos o evangelho deste jeito, ou ao contrário, construímos muros e segregações?

Os ditos leprosos chamam Jesus de mestre. Reconhecem nele alguém capaz de ensinar e sinalizar o caminho. Isso é atitude de discípulo. O grito dos “leprosos” diante de Jesus ecoa hoje no grito e na vida de tantos na sociedade, que estão a margem  da vida e clamam aos discípulos de Jesus: “tem compaixão de nós”. Em Jesus, o Deus que tem compaixão de nós se mostra. Ninguém pode ficar de fora da festa da vida. No testemunho e nas escolhas dos discípulos do Mestre de Nazaré a compaixão hoje é reconhecida, partilhada e se torna vida para tantos sedentos a beira do caminho?

Jesus pede que os homens se mostrem aos sacerdotes.  Segundo a Lei de Moisés eram eles que poderiam examinar e declarar alguém curado e com isso reintegra-lo à sociedade. No capítulo 13 de Levítico aparece inúmeras vezes a orientação de levar a pessoa que se acredita estar doente ao sacerdote. Os 10 que pediram a cura mostraram confiança na palavra de Jesus. Todos vão conforme o recomendado. No caminho se reconhecem curados. No entanto, um deles volta. Ao tomar consciência do que tinha acontecido não se contém. Louva a Deus. Agradece a Jesus.

Lembremos que a alegria é também um tema que a comunidade lucana tem muito estima. Para a comunidade lucana a presença do Reino de Deus que se dá na pessoa de Jesus é um sinal de alegria (Lc 1,14.44;2,10;3,22;10,17.21;15,7.10;12,32.24,41.52). Quem toma consciência do que vai acontecendo se alegra. Aqui temos uma provocação para nós que desejamos seguir Jesus hoje. Nos alegramos com os sinais do Reino entre nós? Ou somos resmungões que perfazemos o caminho insatisfeitos com tudo sem reconhecer os pequenos e grandes sinais do Reino?

Na narrativa bíblica quem é tomado pela alegria foi um samaritano. Opa, isso parece algo estranho! O samaritano que era visto como gente de fé duvidosa pelos judeus é quem sabe reconhecer o dom de Deus. Uma inversão típica do estilo de Lc! São os “de fora” que se mostram “por dentro”!!! O estrangeiro é quem volta para agradecer (Lc 17,18). No samaritano vemos duas consequências da alegria, do reconhecimento da mão de Deus na história que age em defesa dos pequenos: gratidão e seguimento. A alegria lucana não é só sentimento que satisfaz o coração, mas é estimulo para reconhecer a realidade e fazer uma escolha: acolher aquele que vem! A alegria transborda em gratidão e fecunda o seguimento. Num discipulado que cabe a todos. Alegria redobrada!!! E a conversa se encerra de um jeito inusitado: “Levanta-te e vá. Sua fé te salvou”. O que era visto como incrédulo se mostra exemplo de fé. Um questionamento para aqueles que pensam que creem, não?

O seguimento de Jesus é um caminho e uma escolha de um coração agradecido, que reconhece a ação e a bondade de Deus na história. Chamar todos a festa da vida: Eis o caminho escolhido por Deus e testemunhado por Jesus de Nazaré. Chamar todos a festa da vida, caminho proposto para quem quer ser discípulo de Jesus, na certeza que o amor gratuito de Deus se estende a todos e alcança os últimos. Esta trajetória transborda gratidão e se faz caminho de salvação para cada um de nós e para aqueles que encontrarmos pelo caminho.

Por Ir. Joilson Toledo*, FMS

*Irmão Marista, assessor da PJ na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, Barra do Jucu, Vila Velha/ES.

Teias da Comunicação

Equipe Nacional de Comunicação da PJ "Teias da Comunicação"

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