A minissérie de dois episódios “Descalço sobre a terra vermelha”, do cineasta catalão Oriol Ferrer, ganhou dois prêmios FIPA de Ouro, na 27ª edição do Festival Internacional de Programas Audiovisuais de Biarritz, sudeste da França. A produção também foi premiada no NewYork International TV & Film Awards. O filme conta a história da vida e da luta do bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga, ao lado da população da cidade, pelos direitos dos menos favorecidos.
O papel do missionário catalão foi interpretado por Eduard Fernández, premiado como melhor ator. O outro reconhecimento ao filme foi pela melhor trilha sonora original; e de modo especial, o júri elogiou a música composta por David Cervera. A série foi co-produzida pela TVC, TVE, Minoria Absoluta, Raiz Produções Cinematográficas e TV Brasil.
Exibição
Na noite de terça-feira, 2, cerca de 300 pessoas estiveram no centro comunitário de São Félix do Araguaia para a exibição da obra. O próprio dom Pedro esteve presente, o que emocionou bastante o público.
Aproximadamente 1.300 moradores da região trabalharam nas filmagens como figurantes. Na plateia, o agente comunitário de saúde, José Carlos Abreu, emocionou-se ao assistir a cena da qual participa. “A gente foi criado praticamente na Prelazia. Dez irmãos, família pobre, e tivemos total apoio da Prelazia. Me ver hoje gravando a cena, atirando em dom Pedro, me emocionou demais. Estou tremendo até agora e me sinto na obrigação de pedir perdão a ele pela cena que fiz”, ressaltou.
A servidora pública, Maria Lúcia de Souza, também participou das filmagens e disse ter sentido viva a história da comunidade. “Achei muito forte também pelo fato de dom Pedro estar assistindo junto”. O agente pastoral Chico Machado, outro morador local, acrescentou: “A gente nem acredita que a história que se passou está sendo mostrada ali, no cinema, de maneira muito cruel e conflitiva, mas muito bonita. A juventude precisa ver isso e entender que o sonho, os ideais, a utopia, estão muito presentes”.
Moradora de Barra do Garças (MT), a estudante Nágila Oliveira, falou sobre a importância do registro para as futuras gerações. “Guardei um monte de lágrimas em muitas horas. Deu para conhecer muito bem a luta dele, que vai continuar por meio desse filme, porque ela não acabou”, revelou.
Autor do livro que deu origem ao filme, Francesc Escribano, veio para acompanhar a pré-estreia e disse que a história de Pedro precisa ser conhecida pelo mundo. “É uma história muito importante, que fez o povo da região ganhar a sua dignidade e liberdade”. Para Escribano, a participação da população no filme foi essencial. “O apoio de ter a gente daqui fez com que todo mundo colocasse o coração no filme e isso se mostrou no resultado final. Por isso, em todos os festivais de que participamos, ganhamos prêmios”, acredita o escritor.
Também participou do evento o secretário nacional de Articulação Social da Presidência da República, Paulo Maldos. Ele afirmou que durantes muitos anos acompanhou de perto os acontecimentos na região, o que o aproximou também das filmagens. “Quando eu soube que o filme estava pronto, vi uma primeira parte, causou muito impacto. Ver aquilo foi marcante”, disse.
Dom Pedro Casaldáliga permaneceu no centro comunitário até o fim da exibição. Em conversa com a equipe da EBC, o bispo disse que tinha receio de ser retratado como protagonista da luta de São Félix e ressaltou que as conquistas foram resultado da luta e da caminhada de muitos.
A produção poderá ser acompanhada pelos espectadores da TV Brasil nos dias 13, 20 e 27 de dezembro, sempre às 22h30 (horário de Brasília).
História
Pedro Casaldàliga i Pla nasceu na província de Barcelona, em 16 de fevereiro de 1928, e mora no Brasil desde 1968. Ingressou na Congregação Claretiana em 1943, sendo ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, no dia 31 de maio de 1952. Pedro foi nomeado administrador apostólico da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT) em abril de 1970, e nomeado bispo prelado de São Félix do Araguaia pelo papa Paulo VI em agosto de 1971.
Dom Pedro já sofreu inúmeras ameaças de morte e, por cinco vezes, durante a ditadura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil, por seu engajamento nas lutas camponesas.
Ao completar 75 anos, dom Pedro Casaldáliga foi sucedido em São Félix por dom Leonardo Ulrich Steiner, hoje bispo auxiliar da arquidiocese de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Com informações e foto da Agência Brasil