Maria – a mulher do silêncio gritante que acolhe Deus na humanidade
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria, Mistura a dor e a alegria!
Milton Nascimento
É impossível pensar Belém sem pensar nos sujeitos e atores/as de Belém. Em Belém testemunhamos Deus feito Menino por e no amor. Em Belém temos José que acolhe a Virgem grávida e fica junto dela em todos os momentos. Temos os pastores que guiados pela Estrela são os primeiros testemunharem a Salvação que se fez gente. Ainda, os Reis magos, que vindos do Oriente sob guia da Estrela, testemunham o Menino e ofertam-lhe presentes. Mas é impossível pensar nos sujeitos que constroem e são Belém sem falarmos de Maria. E é sobre esta jovem mulher que queremos conversar um pouco neste mês de maio, mês das Mães, mês das Noivas e Mês de Maria, nossa Mãe.
Aliás, lembramos aqui que foi a mulher pobre de Nazaré, Maria, quem primeiro contemplou o rosto de Deus. Outrora, Deus se manifestava através de sinais. As Teofanias iluminam o caminho da promessa, desde os patriarcas até Moisés e de Josué até as visões que inauguram a missão dos grandes profetas. A tradição cristã sempre reconheceu que, nessas Teofanias, o Verbo de Deus se fazia ver e ouvir, revelado e ao mesmo tempo "oculto" (§707). Maria vê Deus face a face através do Menino. Que momento lindo deve ter sido esse! Ainda, segundo a tradição bíblica foi também a mulher pobre Maria, de Magdala, quem primeiro contemplou o rosto do Ressuscitado (Jo 20ss). Não é por nada que as mulheres tem, por natureza, participação essencial no Projeto de Deus. A juventude necessita não somente que falemos para ela de um Deus que vem “de fora”, mas de um Deus que se manifesta dentro dela no seu modo juvenil de ser, desejando irromper e deixar de ser um grito silenciado, nos lembra sempre Hilário Dick que celebrou neste mês 74 anos de vida doada à causa juvenil.
Conversar sobre Maria e Belém é pensar na figura de Maria como Mãe. Na versão das comunidades de Lucas, Maria não fica sozinha em seu “nervosismo” de ser mãe e vai “apressadamente” (Lucas 1, 39) buscar companhia de Isabel. As duas mulheres pobres, juntas, cantam a ação do Deus libertador. O silêncio de Maria se transforma em grito, em canto, em poesia, em ritmo através do cântico (Lucas 1, 46-55) que retoma o Cântico de Ana (1 Samuel 2, 1-10) e outras passagens do Primeiro Testamento. Maria foi mãe junto com José, junto com Isabel, junto com Zacarias, junto com todos os excluídos e violentados que reclamavam a libertação. Através de Maria, de seu ventre, é a esses que Deus escolhe novamente. Ver Maria correndo até Isabel, enfrentando horas numa estrada difícil, é ver hoje a juventude, vivendo a epopéia do êxodo e vivendo forte e incondicionalmente a amizade. É ver tanta juventude enfrentando “estradas difíceis” para viver os mistérios da amizade e da vida partilhada.
É também pensar em Maria como Jovem que na simplicidade de sua vida acolhe o projeto do Reino. O “sim” de Maria não é uma atitude desencarnada, medrosa, passiva, mas uma práxis transformadora de quem quer participar da construção da nova humanidade. As forças do Império Romano esmagavam. Os profetas silenciaram. Nesse sentido, Maria é revolucionária. Maria é portadora da melhor Boa-Notícia. Maria é mulher pobre que participa decisivamente da história da Salvação. A práxis de Maria é a práxis de muita juventude que está nos grupos de jovens, nas ONG´s, nos grupos alternativos, nas periferias, nas favelas, nas vilas dando diariamente seu “sim” para a
construção da Civilização do Amor. O “sim” dessa meninada não é visível às grandes estruturas, não é visível aos grandes poderios, não é visível ao clericalismo e ao autoritarismo, mas é extremamente perceptível aos pequenos, porque “ocultaste essas coisas ao sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mateus 11, 25).
Pensar Maria e Belém é pensar nas atitudes de Maria cuidando do Menino, se alegrando junto com José pelo nascimento de Jesus, recebendo os pastores e os magos que vieram testemunhar a Salvação e pensar em Maria que “conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lucas 2,18). Através desse espírito de profunda pedagogia libertadora, Maria permanece presença acolhedora e referencial em todos os momentos mais marcantes da vida do Filho. Ver Maria é ver o Divino fazendo morada, desde há muito, na Juventude.
Que nós, iluminados pelo testemunho de Maria, sigamos guiados pela Estrela.
Que a Mãe dos pobres e oprimidos/as da América – Maria de Tepeyacac / Guadalupe –que nestas terras acolhe nossas juventudes nas dobras de seu mantoi nos ajude a sermos sempre melhores discípulos/as e missionários/as de seu Filho.
Luis Duarte – Integrante da Coordenação Nacional da PJ – Regional Centro Oeste
Maicon André Malacarne – Assessor da PJ de Erexim/RS.