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Nasceu para nós a Bendita Esperança

 Nasceu para nós a Bendita Esperança

Carta da Coordenação Nacional e Comissão Nacional de Assessoras e Assessores aos grupos de jovens do Brasil

Queridas e queridos Jovens e Assessoras/es, 

A alegria que acompanha a chegada do Menino-Deus ao mundo é o fio que permeia todo o mistério da liturgia deste Natal. Neste dia luminoso, nos reunimos em festa desde nossas famílias, amigas e amigos, grupos de jovens e Comunidades,  para contemplar a profecia encarnada. A chegada do pequeno Jesus é a luz que derrota as trevas e, como um tornado que redesenha geografias, divide a história em duas, para dar lugar a um tempo novo, tempo da paz, que se consolida sobre o direito e a justiça.

Na primeira leitura, Isaías é o mensageiro de uma novidade que há muito tempo era esperada pelo povo de Israel: “uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria como a da morte” (cf. Is 9,1). O Príncipe-da-paz, anunciado pelo profeta, é a mesma luz que ilumina o povo brasileiro que nos últimos anos tem atravessado o vale de medos, angústias e morte, diante da pandemia de Covid-19 e da crueldade que impera em nosso país.

O povo de Israel se alegra com o anúncio do profeta “como se alegram os ceifadores na colheita” (cf. Is 9,2), porque a luz que se faz presente entre nós despedaça “o bastão do opressor” (cf. Is 9,3) e faz com que “as botas que pisam ruidosamente no chão e toda veste que se revolve no sangue” sejam queimadas e devoradas pelas chamas (cf. Is 9,4). Nesse dia da alegria e da ternura, Deus renova conosco a aliança e nos provoca a voltar a crer na promessa de libertação que Ele tem para conosco. Desde nossos grupos de jovens, somos chamadas e chamados a renovar nossa crença na libertação e no amor, manifestado na encarnação. 

Também São Paulo, na carta a seu discípulo Tito, a quem havia encomendado a comunidade de Creta, fala de duas “manifestações da graça de Deus”: a que se passou ao encarnar-se Jesus Cristo em nossa história, e a Bendita Esperança, a qual esperamos (cf. Tt 2,11-14).

Essa espera que vivemos no Advento não há de acontecer passivamente. “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir. […] Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo” (Paulo Freire). É a essa esperança que o apóstolo Paulo nos chama e convoca: a espera seja feita através de uma radical conversão ao projeto do Reino de Deus. Viver à espera da Esperança, que veio e que vem,  exige que nós abandonemos a impiedade, a crueldade, o desprezo e a falta de compaixão, para assumirmos integralmente o compromisso com a justiça e a prática do bem (cf. Tt 2,12).

No entanto, precisamente ali, onde o Deus-Menino veio ao mundo, continuam as tensões, a violência, as enfermidades, as injustiças, e a paz continua sendo uma uma realidade distante. Hoje, Jesus também nasce entre os mais pobres, em um barraco na favela de uma metrópole, ou deitado sobre as pedras debaixo de um viaduto. Jesus nasce em uma sociedade hostil que o mataria ainda no seio materno, ou aos poucos anos de idade, quando estivesse voltando pra casa da escola, vítima de uma bala perdida. Jesus nasce na Amazônia desmatada, num rio represado e no Pantanal em chamas. Jesus nasce na sala de espera de um hospital, onde famílias enlutadas choram a perda de 617 mil amores por Covid-19. Como recorda o Papa Francisco, “nos pobres, vemos o rosto de Cristo que se fez pobre por nós”. 

A chegada do Nazareno deitado na simplicidade de uma manjedoura na periferia da Judéia (cf. Lc 2,7), o coloca ainda mais próximo da realidade do povo oprimido e marginalizado que se regozija com esse nascimento. Misteriosamente, seu nascimento é Boa Notícia para as pobres e os pobres de nosso tempo. O Menino-Deus nasce pobre entre os pobres, mas não é abandonado: está embalado em faixas de amor solidário e pelo abraço maternal e paternal de tantas Marias e Josés que acreditam que ainda vale a pena lutar pela justiça. Como grupo de jovens, somos convidadas e convidados a assumir ações concretas de amor solidário e fraterno, que sejam sinal da presença amorosa de Deus na vida de nossas irmãs e irmãos. 

O nascimento de Jesus é o sinal de que o Deus da ternura e da libertação quer incluir a todas e todos na alegria do Reino. Você e seu grupo de jovens sentem-se participantes dessa alegria do Reino? 

O nascimento de Jesus também é o sinal que nos leva a dar testemunho do Novo Tempo, em que nenhuma pessoa mais será sujeita aos bastões dos opressores. É o sinal que nos coloca em marcha, como os pastores de Belém, e nos ajuda a enxergar no horizonte o caminho para o Outro Mundo Possível. Onde nasce Deus, nasce a esperança. Onde nasce Deus, nasce a paz, e não há lugar para o ódio. E como grupo de jovens somos convocadas e convocados a sermos construtoras e construtores da paz, desde nosso grupo. 

Que o Jesus-Menino, que hoje inunda nossos corações com o mistério de sua terna-luz, nos traga consolo e força para seguirmos lutando pela dignidade da vida, sendo testemunhas do Reino, profetas e profetisas da Civilização do Amor.  Que o pequeno Moreno de Nazaré nos ajude a retomar as atividades presenciais dos grupos de jovens, com segurança e respeito às medidas sanitárias, cuidando da vida e da saúde de quem amamos. E que o amor do Menino-Deus nos ajude a nos amarmos intensamente, para assim cuidarmos uns dos/as outros/as e de nossa Casa Comum. 

Que possamos, unidas e unidos aos Anjos, Santas e Santos, à juventude latino-americana, aos povos todos que sonham com o Novo Céu e a Nova Terra, proclamar com alegria: seja bem-vinda, Bendita Esperança!

Paulo Santiago

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