Cancel Preloader

O MAB e os novos vendilhões do templo

O dia 14 de março é o Dia Internacional de lutas contra as barragens, pelos rios, pela água e pela vida. Este ano, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organizou uma jornada de lutas em vários lugares do Brasil com o objetivo de denunciar o modelo energético vigente que não favorece a vida e os recursos naturais. A luta é árdua, desafiante e, muitas vezes, enfrenta as manipulações de meios de comunicação social a serviço do capital.

No dia 12 de março, em Ponte Nova, cidade situada na Zona da Mata mineira, participei do envio de companheiros e companheiras do MAB rumo a um desses locais em que centenas de pessoas se encontrariam para protestar contra os grandes projetos de morte. Ao final do envio, um grupo foi convidado a oferecer a quem viajaria um chapéu – sinal de cuidado e proteção – e uma bandeira do MAB – símbolo de luta e resistência. Coisa linda de se ver! A partir desse fato recordei-me do texto bíblico lido em muitas igrejas no terceiro domingo da quaresma (11/03). Trata-se do texto conhecido como “A expulsão dos vendilhões do Templo”. Esse episódio marcou tanto os primeiros cristãos que todos os evangelistas fizeram questão de registrá-lo (Cf. Mt 21, 12-17; Mc 11, 15-19; Lc 19, 45-48; Jo 2,13-25). Neste episódio, Jesus entra no Templo de Jerusalém e encontra-o tomado por comerciantes, exploradores, vendedores e cambistas. Era próximo à festa da Páscoa dos Judeus e a cidade ficava cheia de peregrinos. Em sua grande maioria eram pessoas simples e pobres que economizavam por muito tempo o seu dinheiro para ir visitar Jerusalém e o seu Templo.

O grande problema era que pessoas de má fé se aproveitavam sem nenhum escrúpulo dessa gente de boa fé. Inclusive, muitas autoridades religiosas, sacerdotes, levitas e doutores da lei, manipulavam as escrituras sagradas a fim de justificar com ares divinos a ganância e a cobiça. Diante dessa situação de exploração e sofrimento, Jesus recorda as palavras e atitudes dos profetas: “Minha casa é uma casa de oração” (Is 56,7), “mas vós fizestes dela um covil de ladrões” (Jr 7,11). Não era essa a idéia do Templo.

Ele foi feito para ser casa de Deus, casa de oração, casa de vida e libertação para as pessoas, principalmente as mais pobres e excluídas. Indignado, ele expulsa toda a gente que só quer lucrar, aproveitar dos outros, mas não está nem aí para a dor e o sofrimento alheio. Muitos judeus vendo aquilo se escandalizam. Questionam Jesus. Ele os desafia a destruir o Templo, para que ele construa um novo e verdadeiro. Quando alguma coisa se afasta de seu sentido original deve mesmo ser destruído sem choro nem lamento.

Jesus, Templo de Deus, nos mostra que o mundo é lugar de Deus. A água e a terra igualmente. Morada divina e humana. Por isso não é justo, ético e humano que alguns poucos queiram se apropriar indevidamente do que é de todos. Apesar de Jesus expulsar aqueles vendilhões, infelizmente sempre há outros preparados e prontos para assumir o lugar deles. Quem são os novos vendilhões do templo? Grandes empresas mineradoras, latifundiários, estatais e autarquias do setor energético, grupos econômicos e tantos outros. A empresa Ferrous S/A é um desses vendilhões. Ela está construindo um mineroduto ligando as cidades de Congonhas-MG até Presidente Kennedy-ES. Esse mineroduto não é sinal de vida, mas de morte!

A atitude dos companheiros e companheiras do MAB nestes dias da Jornada de Lutas me encheu de esperança, pois se há novos vendilhões há também mulheres e homens que, com ousadia e profecia, se dispõe a arriscar a vida para expulsá-los, revirar suas mesas exploratórias e ocupar o espaço que Deus criou para todas as pessoas. Para expulsar os novos vendilhões do Templo, não tenho dúvidas que Jesus se uniria ao coro de milhares de vozes que gritam: “Água e energia não são mercadoria!”

 

Postagens relacionadas

Leave a Reply

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.