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Palavras partilhadas, alguns retalhos de Maringá

 

 
 

Enquanto houver pessoas capazes de rejeitar projetos próprios, haverá Esperança,Dorcelina Folador
  

Muitas são os jeitos de falar sobre o 10º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, nas terras roxas de Maringá. Muitos são os olhares e as reverberações encontrados pela caminhada dos dias, ora ensolarados, ora chuvosos, em torno da celebração do tema “Somos Igreja Jovem” e do lema “Na Ciranda da vida, a nossa missão é amar sem medida”.  A palavra, venha de onde vier e chegue de onde chegar, é oralidade das partilhas que perpassaram nossos corpos.  É como um cachecol de memória, carregados de retalhados da caminhada. Cada retalho de um tom e de uma textura peculiar. Cada retalho com histórias de insistências, descobertas e coletividade. Aqui no Sul, pela estética do frio, o cachecol é um poema do cheiro do nosso corpo, já que protege umas das partes mais sensíveis.  Vários cachecóis coloridos, de variados formas de entrelaçar os fios, trançam muitas outras histórias que revelam o chão e os condicionamentos das suas tecelagens. 

 
Posto os retalhos das memórias de Maringá, a linha trata de alinhavá-los uns aos outros, costurando-os de essência similar, de re-significações para o regresso à comunidade, das chegadas e partidas dos companheiros e companheiras [e junto delas, as saudades re-inventadas pelo Vento] e das bandeiras de Lutas que teimam em caminhar junto à Igreja Jovem. Muitos dos retalhos das vivências por lá, apresentam fios de continuidade a um dos fatos ímpares da nossa caminhada pastoral, a Romaria dos Mártires e das Mártires da Caminhada [julho de 2011, em Ribeirão Cascalheira] e os conduzem ao tecido inerente da vida na Igreja, desde os tempos de coroinhas [quando a Paróquia São José era terreno de trabalho intenso e de práxis libertadora, conduzida pelos Franciscanos da Ordem Menor], até os últimos sete anos de caminhada concretizada na Pastoral da Juventude [quando surgiu o convite para participarmos da Escola Bíblica Litúrgica para a Juventude, numa proposta do IPJ/RS, congregações e diocese para re-articular a PJ nestas terras serranas] e nos espaços de participação social e comunhão com outras organizações do povo que ela permitiu. 
 
Nas próximas (entre)linhas, as tecelagens de Maringá + as inquietações feito agulhas nas pontas dos dedos = cheiros de palavras úmidas, com silêncios de eucaliptos. 
 
O missionário missiona à medida que ele mesmo é missionado, Pedro Casaldáliga 
 
Na Ciranda da Vida, a Pastoral da Juventude afirmou a sua missão de serviço à defesa da vida da juventude. Nossa missão é a o agir concreto, cotidiano lá na comunidade eclesial com os grupo de jovens, terrenos de resistência e de esperança [como partilha meu amigo, Rafael Barros]. É o serviço à Missão-práxis, que anuncia um rosto libertador de Cristo Jesus e que quer construir o Reino, na denúncia das situações de morte contra a juventude e no compromisso da gratuidade deslumbrada, que gera Vida. Somos felizes na comunidade, portando o regresso a ela é de muitas sementes para gerar novos grupos de jovens, de teimosia em estudar e multiplicar o nosso Subsídio de Estudo e de fidelidade ao projeto do Reino. 
 
Será buena tan buena la jornada que desde ya mi soledad se espanta, Mario Benedetti 
 
A PJ, na sua formação integral, ao insistir na coletividade que espanta a solidão, revela a sua ternura de construir projetos de vida que rejeitam propostas individualistas. Seus projetos de vida são de comunhão e de participação, duas palavras que transbordam a dimensão comunitária e fraterna que o mundo necessita de forma gritante. Grupos de jovens, na proposta libertadora, são multiplicadores de vidas coletivas. 
 
Porque as arvores escondem o esplendor de suas raízes? Pablo Neruda 
 
Há palavras engasgadas que a conjuntura interna quer calá-las. Pastoral da Juventude são árvores de raízes profundas. Há muitos medos, muitos cortes, assim como muita lucidez crítica, solidariedade fraterna e teimosa esperança pascal de acolher a Cruz com Batuque! Parafraseando o profeta Dom Pedro Casaldáliga, no então Jubileu 2000, a JMJ está se encaminhando para um “festival catolicista ou cristianista ou um tempo forte de denunciar profeticamente o anti-Reino neoliberal e de anunciar profeticamente o Deus da Vida, da justiça e da Paz[…]? Ainda militantes, ainda chatos e chatas, ainda cantando “comungar é tornar-se um perigo”, afinal nossa opção é não lightizar o Evangelho. 
 
É a vida que se indaga, que se faz projeto, Paulo Freire 
 
A proposta de formação integral da Pastoral da Juventude, de abranger todas as dimensões da jovem e do jovem, numa caminhada de educação na fé, abarca um processo educativo e pedagógico de espantar muita teoria e espiritualidade que mulita os corpos-almas. Muitos dos olhares sobre a educação e a sociedade, por parte de muitos jovens militantes da PJ, em outros espaços de participação e organização do povo, ou mesmo no trabalho, são decorrentes desse processo pedagógico, cuja uma das principais referências é Paulo Freire, [sem dúvida um dos educadores mais coerentes na sua teoria-prática {práxis}]. Na dimensão de tecer relações uns com os outros e outras, eis que é colocado um desafio na roda, um desafio para pensar, sentir, perceber, compreender: as relações de gênero. O manto do silêncio ainda permanece sobre nossos corpos quando a prosa é sobre mulheres e a criminalizações de outras opções de afetividade.
– “Ora, todo amor não decorre de Deus?” Frei Betto. 
– Ora, “o nosso dia-dia é espaço sagrado porque é o lugar onde acontecem as relações entre as pessoas, na casa, no tanque, na cozinha, na roça. Por isso, deve ser lugar de justiça, de igualdade e de amor”, Elaine Neuenfeldt. 
 
En dónde están los profetas que en otro tiempo nos dieronlas esperanzas y fuerzas para andar? 
 
Dom Pedro Casaldáliga estava lá, em Maringá. Numa das manhãs nos contou sobre a Esperança. Mais uma vez, re-lembrou das palavras que professou na Romaria dos e das Mártires: Podem nos tirar tudo, menos a via da esperança. Permito aqui transcrever parte de sua fala ao final da celebração [no dia 17 de julho de 2011]: […]Eu peço também para vocês que não esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente, na própria Igreja, que acha que chega de falar de mártires. O dia que chegar de falar de mártires deveríamos apagar o Novo Testamento, fechar o rosto de Jesus. Assumam a Romaria dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordemos bem, assumindo as causas dos mártires. Pelas causas pelas quais morreram, nós vamos dedicar, vamos doar, e se for preciso morrer, a nossa própria vida também […].  A Pastoral da Juventude insiste ainda em alumiar sua caminhada com a memória do sangue mártir, pois é sonho de sociedade, de mundo de irmãs e irmãos.   
 
Choro virou alegria, a fome virou fartura e na festa da colheita, viola em noite de lua. Mutirão é harmonia, com cheiro de natureza, o sol se esconde na serra e a gente ascende a fogueira, Zé Pinto 
 
Como num prato antropofágico, que a leitura destas palavras possa ser servida do deleite de novas inquietações! Amém, Axé, Awerê, Aleluia! 
 
Pâmela Cervelin Grassi,

 

Teias da Comunicação

Equipe Nacional de Comunicação da PJ "Teias da Comunicação"

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