Partilhando a caminhada… Outubro de 2009
“Não ardia o nosso coração quando ele nos falava?”.
Outubro
Rio de Janeiro
Cheguei à cidade maravilhosa no dia 9 de outubro, um dia chuvoso, aeroporto muito cheio, mas nada que tirasse a alegria de um casal lindo que estava a minha espera “Michele e Sandro”, saímos do Galeão direto a um barzinho aconchegante onde tomamos um delicioso caldo e comemos alguns pasteizinhos, depois fomos para casa “Centro Pastoral Sandro Hilário” e dormimos.
No dia seguinte fui à reunião da coordenação diocesana da PJ de Duque de Caxias, o Padre que acompanha a PJ estava fazendo uma explanação do Documento 85, foi um momento interessante. Depois da reunião eu almocei na casa de Gabriel junto com Carlinhos e logo em seguida fomos ao Maracanã ver o Mengão ganhar de virada, haja coração… Ainda neste dia conhecemos um bar que rola rodízio de petiscos, que coisa gostosa e exagerada, é muito petisco, cada um mais gostoso que o outro.
Domingo é dia de ficar com a família, comer coisa gostosa, jogar conversa fora e na casa de Sandro não foi diferente, comemos uma deliciosa rabada e conversamos muito sobre algumas coisas da Bahia. De tardinha chegaram Renatinha, Carlinhos, Gabriel, Letícia e o seu pai. Nós assistimos ao jogo da Seleção Brasileira e comemos um delicioso cachorro quente preparado por Letícia. Quando eu imaginei que o dia já estava acabando e nada mais haveria de fazermos, Sandro diz sem nenhuma empolgação: Acho que hoje tem um show daquele cara que foi o vocalista do Grupo Só pra Contrariar, como é o nome dele mesmo? E eu quase sem ar, com o coração batendo mais que acelerado respondo: o nome dele é Alexandre Pires e eu sou apaixonada por ele, por favor, diga-me que é verdade, que vai ter o show dele, falei dessa forma porque achei que Sandro estava brincando comigo, mas ele falou daquela forma porque não sabia que eu era fanática por Alexandre, daí então ele ligou para o seu irmão outra figura hilária chamada Márcio, e o mesmo como bom boêmio que é, nem hesitou em se oferecer para nos acompanhar ao show, então fomos à Quadra da Imperatriz: eu, Renatinha, Márcio e dois amigos dele.
Os meninos não agüentaram esperar o show começar, pois já haviam bebido durante todo o dia. Renatinha ficou comigo até o final, às duas da manhã Alexandre todo lindo e maravilhoso subiu ao palco e fez um magnífico espetáculo. Eu gritei muito, chorei e cantei com ele suas lindas e marcantes músicas. Foi nota 1000.
No dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, fomos à Romaria da Diocese de Caxias, a qual aconteceu numa Igreja histórica e tombada, que está sendo recuperada pelo Estado. Uma Igreja simples e muito bonita, a Romaria foi na frente da Igreja, muitos jovens da PJ estavam presentes, foi muito bacana. Depois da Romaria fomos ao Shopping Center almoçar e como ainda não estava aberto rolou um básico “Jogo da Verdade”. Quando as portas se abriram, nós entramos e fomos comer algo, em seguida fomos à Praia do Lebron, lugar bonito, o sol estava bom, porém a água muito fria, mas eu não tomei banho de mar. Ao sairmos da praia andamos por Copacabana com direito a uma belíssima apresentação de dança, de duas famosas bailarinas brasileiras: Aline e Emanuele.
No dia 13 de outubro saímos, eu Sandro e Carlinhos para comprarmos o material para o almoço, coitada de Michele, cansou de nos esperar com as coisas e ainda saiu atrasada para trabalhar, mas vale ressaltar que a comida ficou deliciosa.
No dia 14 de outubro começamos a acolher as pessoas que chegavam para a nossa reunião da coordenação nacional e comissão nacional de assessores. Ainda deu tempo de pegarmos um cineminha, com o chão bem trabalhado, coisa tipo assim estilo barroco, o filme foi OS NORMAIS II, não é tão engraçado assim, acho que o povo ria mais da minha risada do que do filme.
A reunião começou mesmo no dia 15 de outubro, foi uma reunião densa, tentamos falar de muitas coisas em pouco tempo, a sensação era de cansaço, mas foi uma reunião bastante produtiva, o momento de falar das questões do coração foi bem desafiador e cheio de emoção, os textos que estudamos na reunião foram ótimos, todos os regionais estarem presentes foi algo bacana, a discussão sobre a campanha, primeiro me abateu depois me animou, acho que estávamos cansados no inicio do debate, amei ver vidas partilhadas e vidas jovens doadas para o nosso bem estar, gostei muito da reunião.
Tenho que partilhar que a juventude de Caxias me deixou marcas muito boas, que galera boa de conviver e de estar perto, estou com saudades de todos e todas, espero poder voltar logo.
São José dos Campos
Estive na casa de Elen, ela está muito bem e Cristiano também. Ainda não conseguimos concluir a prestação de contas (2005-2007), mas finalizaremos com certeza no dia 4 de dezembro de 2009.
Bolívia
Os últimos preparativos para a viagem foram: a escuta do jovem Daniel de São Joe dos Campos, a partilha da experiência de Elen, a sistematização da escuta do Regional Oeste II, a sistematização da escuta da CN e a compra das lembrancinhas na movimentada Avenida 25 de março, de São Paulo… Quanta emoção!
Quim nos despertou, era bem cedo, mas já estava na hora de sair, do céu caía uma baita de uma chuva, mas nada que tirasse a nossa animação, seguimos rindo das loucuras de Quim até a estação do metrô.
Estávamos na fila do chekin quando o Super PJ chegou, agora oficialmente Super Setor Juventude, nosso querido Padre Sávio. Mas espera um pouco… Onde está Eric? O jeito é apelar para aquela voz chatinha do aeroporto: “Atenção Senhor Eric Souza favor comparecer ao balcão de informações da Infraero”. Mas a voz não nos trouxe Eric, ai que triste, ele perdeu o voo e faltou bem pouco para nós perdermos também, apesar de já estarmos na sala de embarque, mudaram de portão e não avisaram, mas uma Van nos levou até ao avião, onde todos já estavam nos esperando para iniciar a viagem.
Chegamos à Bolívia juntamente com a Equipe Latino Americana, podemos descansar um pouco e passar por uma difícil fase de adaptação ao clima e a altura do lugar. Também deu tempo de visitarmos o mercado e fazermos umas comprinhas.
O encontro começou com partilha pessoal de vida com a nossa delegação, foi um momento muito bacana, mas muito rápido, não deu tempo de partilharmos tudo, mas foi legal.
A nossa delegação brasileira (Dom Eduardo, Padre Sávio, Eric, Hildete e Tábata) ganhou reforço com Carmem Lúcia e Susana Maia, que estão colaborando na reformulação do Documento Civilização do Amor e na construção do Documento sobre Pastoral do Adolescente.
Depois da partilha de vida foi chegada a hora de partilharmos as escutas dos jovens em seus lugares vitais, deu para perceber que a maioria dos países escutou suas lideranças nacionais, segue a partilha que fiz depois da escuta:
Percebi em nossas partilhas que temos dificuldades em caminhar com a juventude, como fez o nosso mestre Jesus Cristo, de forma humilde, simples, sem querer nada em troca, sem interesse, apenas motivado a caminhar junto, a ser presença de amor, de amizade, de companheiro de caminhada, de estar junto.
Nossos jovens são diferentes, eles têm histórias de vida particulares, uns tiveram colo, amor, base familiar estruturada, educação de qualidade, oportunidade de desenvolvimento, amigos, base espiritual, etc. Outros foram jogados nesse mundão de Meu Deus, explorados, desvalorizados, marginalizados, mal amados, descuidados, desacompanhados e desrespeitados.
Para compreendermos e amarmos cada jovem com a sua história particular e com a sua trajetória de vida específica. É preciso que abramos os corações e os ouvidos, quebrando os nossos preconceitos e as nossas expectativas prontas e formuladas. É preciso se abrir para se encantar com o “sacramento da novidade”, que é próprio do ser jovem, sem imposições de condutas e de comportamentos, de moralismos e sim com testemunho de vida coerente, de verdadeiros discípulos e missionários de Jesus Cristo.
Outra questão muito forte é a da afetividade e da sexualidade, esta temática mexe com o corpo, o coração e a mente da juventude, gerando dúvidas, conflitos e inseguranças. Como tratamos dessa temática? Como acompanhamos os e as jovens em seus projetos de vida na dimensão afetiva? Deixamos que a mídia e os colegas de escola falem sobre isso e nos calamos?
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Outro momento forte para mim foram os testemunhos dos jovens das pastorais específicas, mexeu bastante comigo a partilha da Pastoral Afro da Republica Dominicana, confesso que ser negro por lá parece um sonho e quando partilhei que aqui no Brasil não é tão fácil ser negro, que ainda sofremos muito com o racismo dentro e fora da Igreja, alguns jovens não acreditaram na minha partilha, não conseguiam entender que no Brasil pudesse ter racismo.
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Na tarde da escuta também pude contribuir com o meu testemunho:
Quando eu era criança a minha avó me levava arrastada para Igreja, a missa não significava nada para mim, pois não compreendia os ritos, os símbolos, os gestos e os sentidos de cada momento da liturgia.
O momento que eu mais desejava era o de receber a Primeira Eucaristia, passei três anos na catequese para alcançar este dia tão esperado. Confesso que ao receber pela primeira vez o corpo e o sangue de Cristo, sentir algo especial e uma felicidade muito grande, mas ainda não tive um encontro verdadeiro com Cristo.
O sacerdote da minha paróquia era um homem muito bom, mas não tinha paciência com as crianças, eu não me agradava muito com o jeito que ele nos tratava, até que um dia chegou um padre novo e me contaram que ele amava as crianças e os jovens, a curiosidade de conhecer o novo sacerdote me trouxe de volta para Igreja, no retorno Adriana Alves foi muito importante, pois me convidou para o CRISJOVEM (DNJ) e o novo padre também, porque me convidou para acompanhar a Infância Missionária, foi uma experiência marcante e muito especial.
Nesta época eu vivia na Igreja todos os dias: Missa, Grupo de Jovem, Equipe de Liturgia, Equipe de Música, Conselho Paroquial, Infância Missionária, Grupo de Crisma, etc.
Na minha trajetória eclesial destaco duas vivências que me levaram a fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo: a primeira foi no mês de outubro de 1995, quando participei pela primeira vez do Dia Nacional da Juventude, tudo naquele encontro me encantou: ver tantos jovens diferentes no mesmo lugar, as palestras, a missa, as orações, as apresentações culturais, a partilha dos alimentos, as músicas e em especial a adoração ao Santíssimo Sacramento.
E a segunda experiência que de fato me marcou e me fez assumir o projeto de vida que Jesus Cristo nos propõe foi a experiência missionária, nada pode se comparar com o que vivi, senti e aprendi nas missões que participei; foi nos rostos mais sofridos, excluídos, marcados, pobres e sensíveis que enxerguei perfeitamente o rosto do Deus Vivo, Apaixonado e Libertador, dessa forma me apaixonei por este Ser Divino que se fez humano e que se materializa em minha vida nas coisas e nos gestos mais simples, como o pão repartido, uma flor que desabrocha, o nascer e o pôr do sol, o mar, o sorriso ou uma lágrima de uma criança, um abraço amoroso, um olhar sensível, um ombro amigo, um gesto de cuidado e de carinho.
Ainda quero destacar que a maior lição que aprendi com a Igreja foi a de valorizar e amar a minha família, hoje eu sinto perfeitamente a presença de Deus em minha casa, especialmente através do amor incansável, gratuito e guerreiro de Mainha. Hoje tenho plena certeza que ela é um sinal vivo do amor de Deus por mim, Mainha é a razão da minha vida, a ela dedico esta partilha juntamente com todo o meu amor profundo e sincero e toda a minha gratidão.
Para concluir digo que as lições que aprendi com Mainha e nas experiências missionárias, não teria possibilidade de aprender numa Faculdade, num livro, num curso de formação, porque estou falando de vivência, de sensibilidade, questões que não cabem nas teorias, que o dicionário não dar contar de explicar os sentimentos que fizeram de uma Tica Moleca uma pessoa sensível e apaixonada pela vida, por Deus, pela Igreja e pela Humanidade.
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Outra partilha interessante foi a de falar das pessoas que nos marcaram na Pastoral, pude falar de Gisley e fazer uma homenagem a ele.
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Depois de todas as escutas foi o momento do julgar, refletimos a Palavra de Deus, através da leitura orante da passagem de Emaús e também fizemos uma conversa muito boa com o Padre Alexis sobre o Documento de Aparecida. Depois dos estudos subimos ao monte. Fomos a um lugar belíssimo, muito bom para rezar e discernir.
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Ter problema com a metodologia não é privilegio do Brasil, acredito que precisamos mesmo rever o nosso velho método (Ver, Julgar, Agir, Rever e Celebrar), principalmente no julgar, fiquei pensando que o julgar precisa dar conta de muitos elementos:
· Nossa fé
· Palavra de Deus
· Documentos da Igreja
· Nossa história
· Nossa identidade
· Nossa metodologia
· Nossa organização
· Nossa espiritualidade
· Nossa missão
· Nossos sonhos
· Nossos princípios
· Nossos projetos
· Nossas bandeiras de luta
· Nossas prioridades
· Nossas músicas
· Nossas parcerias
· Nossos subsídios
Como dar conta disso tudo no momento do julgar? O julgar teria que ter duas partes?
Fiquei pensando nisso tudo enquanto a coordenação pediu um tempo para ajustar a metodologia, porque a plenária tinha se levantado contra a proposta apresentada pela coordenação do dia.
Conseguimos seguir a metodologia e sentar para pensar grandes pistas de ação, reafirmando princípios e tentando responder aos desafios que apareceram no momento do VER, através das escutas. Decidimos por não eleger prioridades, visto que todo o material elaborado servirá de estudo para se tornar documento oficial após o congresso.
A nossa noite cultural foi muito bacana, começamos recitando a música “Este é o nosso país…”, mostramos um vídeo da Amazônia, depois fizemos uma grande ciranda, cantando: Eu vi mamãe Oxum na Cachoeira, logo em seguida dançamos algumas músicas de Margarete Menezes e concluímos com muito forró e lindos presentes.
A palavra que fica mais forte desta experiência é DIVERSIDADE, diversidade que perpassa jeito de ser pastoral, jeito de rezar, de cantar, de comer, de falar, de vestir, de dançar, de lutar, de pensar, enfim haja diferença e o desafio é exercitar o amor e o respeito às diferenças. Foi uma experiência muito singular.
O idioma foi um fator difícil, por essa razão a delegação brasileira se comprometeu a aprender o espanhol até setembro de 2010, quando será realizado na Venezuela o III Congresso Latino Americano.
Fiquei mais que impressionada com a sensibilidade das pessoas, o carinho pelos brasileiros, o esforço para nos compreender, em especial me marcaram muito três membros da Equipe Latino Americana: Carol, Dário e Carlixte. São pessoas sensíveis, cuidadosas e muito especiais, citei os nomes dos três, mas poderia citar muitos outros, conheci muitas pessoas bacanas, que deixaram marcas eternas e que vou sempre me recordar com muito carinho.
O Cristo da Bolívia fica num lugar encantador e muito místico, foi maravilhoso conhecer o Cristo de lá e ter uma visão magnífica de Cochabamba.
Depois de uma longa viagem (Cochabamba X Santa Cruz, Santa Cruz X Assunção, Assunção X São Paulo —— São Paulo X Rio de Janeiro, Rio de Janeiro X Salvador), nada poderia soar melhor ao meu ouvido que a seguinte frase: – Tripulação preparar para o pouso, em Salvador, 29 graus.