Só é justo erguer os ramos se estivermos dispostos a amar

Por Pe. Maicon Malacarne

Os ramos e o amor total estão ligados profundamente entre os evangelhos e as leituras desse Domingo de Ramos, início da Semana Santa. Erguemos os ramos para acolher Jesus, mas é incompatível acolher, espalhando ódio, desejando ou fazendo maldades.

Jesus saiu de Betânia e foi para Jerusalém. Chegou à capital, centro do poder. Já tinha estado ali antes. Quis entrar com um jumentinho, não um cavalo branco como era costume dos reis. Jumento é o animal do povo. Jumento é resistente. Jumento é a força da vulnerabilidade. O povo arrancava ramos de Oliveira, cantava “hosana” (salva-nos, ajuda-nos…) e colocava mantos no chão para Jesus passar. Eles fizeram aquilo que era possível e que estava ao seu alcance.

No fundo, é isso que Deus confia a nós: nada de impossível, nada de mágico ou supranatural, mas exatamente o ordinário da vida, que se torna extraordinário em Deus.

Mais tarde, no Jardim das Oliveiras (Mc 14, 36), uma das palavras que saiu da boca de Jesus foi “Abba”. Trata-se de um vocábulo aramaico, a língua de Jesus. Ela significa algo próximo a “paizinho”. Quando adultos usavam essa expressão era pra dar sentido de intimidade, de segurança, de muito carinho. Na hora mais dramática da vida, Jesus se recolheu no Pai. É um abandono confiante e próprio de quem ama.

Durante a condenação, conforme narra o Evangelho de Marcos, Jesus se manteve em silêncio, mesmo quando interrogado. Não é um silêncio de passividade, mas de força de espírito de quem não acolhe e aceita provocações e deboches, ou mesmo de quem não se rebaixa diante do poder arrogante que calunia os sofredores.

Na narração da entrada em Jerusalém e na da Paixão, o povo acompanhou Jesus, do lado de fora e do lado de dentro da grande cidade. Alguns, como vimos, pediram ajuda. Mais tarde, outro grupo, gritava forte: crucifica-o! Crucifica-o! Poderíamos até arriscar perguntar: de que lado estamos? Que grupo pertencemos? O que fazemos para transformar nossa vida em uma acolhida permanente de Jesus? Que interesses colocamos na nossa fé? Que atitudes pessoais corroboram na crucificação de outros irmãos e irmãs nossos? Qual o sentido, ainda hoje, de carregar nossos ramos?

Aos pés da cruz, o centurião romano fez a maior profissão de fé: “verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15, 39). Desde o início do evangelho, as comunidades de Marcos procuraram desvendar a verdadeira identidade de Jesus e é um estrangeiro, vendo como Jesus doou a vida no amor, que revela o mais sublime e real: era Deus!

Ao erguer os ramos, caminhamos com Jesus para sua paixão, morte e ressurreição. Não é justo abandoná-Lo. Com ramos nas mãos e nas nossas casas somos partícipes da acolhida de Jesus que deu a vida para nos testemunhar o amor maior. Na cruz, todo amor ganha sentido.

Pe. Maicon Malacarne é sacerdote da Diocese de Erexim e foi assessor nacional da PJ (2017-2019).

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