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Trindade – o beijo de Deus em nós!

 Trindade – o beijo de Deus em nós!

Trindade – o beijo de Deus em nós!

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São Bernardo de Claraval fala de um Deus que na sua dimensão de Trindade nos dá um beijo eterno: “O Pai dá o beijo, o Filho o recebe, e o próprio beijo é o Espírito Santo, aquele que está entre o Pai e o Filho, a paz inalterável, o amor indiviso, a unidade indissolúvel (Sermões sobre o Cântico dos Cânticos 8, 2)”.

Achei genial a imagem do beijo formulada pelo Abade francês. Ela ajuda a rezar a presença e o sentido da Trindade. Sempre acho que para “compreender” a Trindade a melhor forma é o silêncio e a contemplação. Não há muito o que conceituar, por isso, as imagens são importantes. Deus nos dá um beijo eterno! Sai de si e chega em nós… Não é um Deus fechado, que se encerra em seu poder, como muitas vezes gostaríamos de ser, mas é um Deus profundamente comunitário, coletivo, circular. A festa da Trindade que vamos celebrar nas comunidades nesse domingo faz refletir, de maneira especial, quatro coisas:

1) A circularidade de Deus – Pai, Filho e Espírito Santo. Por mais que algumas imagens coloquem uma hierarquia em Deus Pai, entendemos que em Deus tudo é circular. O círculo é uma pedagogia, um jeito… Eu gosto muito de estar em espaços circulares. O encontro de olhares, de movimentos, a ruptura com a superioridade, com “os primeiros e os últimos” são uma forma de viver o “jeito de Deus”. Os ícones sobre a Trindade (de maneira especial o de Rublev) nos colocam nessa sintonia do círculo. Em Deus tudo é circular. Tudo é movimento. Tudo é vida, sopro, beijo… Talvez a festa da Trindade nos ajude, em todos os espaços, eclesiais ou não, recuperar a pedagogia circular, num profundo movimento de encontro humano e divino…

2) A Trindade, para junto do seu “ser circular” revela para nós quem é Deus. Vamos aprendendo de um Deus que é sempre Amor. Essa experiência precisa nos desestabilizar. Infelizmente, em tantos lugares, vemos uma fé burocrática e uma Igreja que está centrada nas doutrinas. Quando vamos nos fechando aos “beijos” de Deus, criamos espaços frios, uma obsessão pelos dogmas, pelo dinheiro, pela burocracia… Nesses espaços é quase impossível fazer a experiência do amor de Deus (a graça alcança também o impossível). A Trindade sempre nos faz lembrar que Deus vai por outros caminhos. Diante disso, é muito importante para os cristãos uma comunidade. A comunidade precisa nos ajudar a fazer comunhão, que é mais do que uma justaposição de pessoas. A comunhão comunitária é a forma mais bonita de experimentar Deus Trindade. Que coisa linda a vida de algumas comunidades centradas no amor, na solidariedade, na acolhida… A Trindade nos desafia a ser comunidade, a encontrar Deus na comunidade, a formar/construir comunidade…

3) Se Deus é amor e circularidade, sempre aberto e comunitário, precisamos superar a vivência de uma fé egoísta. Se tem algo que a Trindade provoca a viver é a superação do egoísmo, da autoreferencialidade, da autosuficiência… Um Deus muito intimista não tem nada a ver com Deus Trindade. Claro, a fé tem uma dimensão pessoal, mas não fechada. É pura alteridade. Quando procuro a Deus apenas para “resolver meus problemas” seria melhor, antes, compreender melhor Deus na vida da comunidade. Acho que Francisco nos fez entender melhor esse Deus-Trindade quando pediu “uma Igreja em saída”. Assim, a vida tem a ver com a fé. Fé e vida não estão separadas – também é circular. Na fé celebramos a vida: minha, dos outros, da história, de Deus…

4) Um Deus que é três, logicamente, é um Deus que supera dualismos. Nem só homem, nem só mulher. Nem só do bem, nem só do mal. Somos um todo. Deus é conosco. Tudo está em relação, inclusive o divino. As brigas dicotômicas não cabem na teologia da Trindade. Nem só um lado, nem só outro (isso não significa uma ideia de “parcialidade” – mas de todo-abertura-relação). Há sempre novas possibilidades. Há sempre novas maneiras. Tudo isso está em nós. É potência. É três. Ser extremista é impedir Deus de ser Trindade. A terceira pessoa da Trindade oferece um espaço aberto, um diálogo possível, um olhar diferente para o imaginário binário. Deus é assim: um, dois, três… plural, sempre plural. Essa diversidade nos lança, inclusive a abraçar e fazer comunhão com outras religiões, com outras formas de viver a fé.

No círculo do Amor todos tem lugar, também para converter nossos egoísmos e burocracias internas e externas, fazendo uma experiência de Pai, Filho e Espírito Santo num “beijo” incessante. Beijo de amor! Beijo que nos provoca, também, a viver uma vida de beijos.

Pe Maicon A. Malacarne

 

Teias da Comunicação

Equipe Nacional de Comunicação da PJ "Teias da Comunicação"

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