#8M: É dia de esperançar!

O meu desejo é a vida do meu povo

Rainha Ester (cf. Est 7,3)

Por Jennifer Teixeira

Enfim, chegamos a mais um 08 de março, Dia Internacional das Mulheres. Junto com ele, a romantização do desconforto e da sobrecarga que muitas de nós carregam, além da visível comercialização desta data que representa toda nossa luta. 2021 terá um 8M diferente dos anos anteriores: este ano, mais do que nunca, vemos, com ainda mais intensidade, mulheres que resistem, diariamente, para (sobre)viver.

É um momento de celebrar todas as conquistas que tivemos ao longo do tempo, com muita luta… Com a certeza de que nenhuma delas foi fácil, mas é notório o quão necessárias foram. Também é momento de fazer memória e agradecer pela vida daquelas que nos antecederam e, por vezes, derramaram o sangue para que hoje tenhamos direitos assegurados. Para além disso, é hora de nos unir, mão com mão, para continuarmos firmes na luta pela vida de todas as companheiras.

Historicamente, a luta por igualdade entre homens e mulheres se deu de forma lenta, mas gradual. Para entender melhor este processo, vamos a um breve histórico. Foram muitos os enfrentamentos, as buscas, as tratativas e os obstáculos para viabilizar a estruturação das políticas públicas para mulheres. Um marco importante para este movimento no Brasil é a conquista feminina do direito de estudar para além da escola primária, em 1827. Já em 1923, conquistamos o direito ao voto e em 1985, foi criada a primeira delegacia da mulher. Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a igualdade de gênero foi reconhecida, dessa forma, homens e mulheres se tornaram iguais perante a lei.

Mais recentemente, tivemos outras conquistas essenciais para a manutenção dos nossos direitos. Em 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, que trata do combate à violência doméstica, e nove anos mais tarde, em 2015, o assassinato de mulheres, quando cometido em razão do gênero, se tornou um crime específico, conhecido como feminicídio. Em 2018, houve uma ampla discussão e a importunação sexual feminina passou a ser considerada como crime. O avanço mais recente ocorreu há poucos dias, quando o Ministro do STF, Dias Toffoli, firmou o entendimento de que a tese de legítima defesa da honra seria inconstitucional. Essa tese é utilizada na defesa do processo penal, onde um homem que tira a vida de uma mulher, utiliza o argumento que sua conduta criminosa somente ocorreu para proteger da sua honra (sim, essa justificativa ainda era aceita em alguns casos!).

Toda esta retomada histórica nos conduz a pensar no quanto a caminhada para as mulheres é sempre mais árdua. Nosso dia a dia ainda é permeado por situações de desigualdade e violência, e com a pandemia, isto se tornou ainda mais (in)visível. Explico: em 2020, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontou um aumento de 1,9% na taxa de feminicídios no primeiro semestre, enquanto as denúncias de violência doméstica foram reduzidas em 9,9%. Todo este cenário reflete diretamente a realidade das residências brasileiras: um contexto em que tivemos ampliada a nossa convivência familiar, e, apesar da aproximação de grande parte das famílias, com isso também vieram os desentendimentos e desafetos – e, consequentemente, a dificuldade em executar a denúncia quando necessário.

São situações de violência de todos os tipos, esgotamento físico e mental, cobrança e autocobrança, necessidades básicas que batem à porta incansavelmente. O dia 8 de março de 2021 é, mais do que nunca, um dia de reafirmar as lutas e refletir sobre a importância de sonhar e construir um mundo mais justo para todas nós. Neste momento da história, a primeira barreira a vencermos é a urgência de garantir vida digna e segura para todas as mulheres. Isso pressupõe que tenhamos boas condições de trabalho, de empregabilidade, emancipação e autonomia – e isso é o mínimo que precisamos para viver.

Partilhamos das dores da caminhada ao ver que, na linha de frente do enfrentamento à COVID-19, a maior parte das trabalhadoras são mulheres, que realizam jornadas duplas, triplas, e estão esgotadas. Também nos solidarizamos quando vemos, em meio a tudo isso, a pressão pela volta às aulas, que coloca, acima de tudo, professoras e mães em risco. Cabe dizer da sobrecarga de cada uma destas mulheres que, durante este ano, se desdobraram para garantir aulas de qualidade a seus alunos, a ajuda necessária a seus filhos estudantes, da exaustão provocada pelas tarefas domésticas, que aumentaram e são ainda prioritariamente realizadas por elas. A nossa dor também é pelas trabalhadoras domésticas, pelas comerciantes, pelas servidoras públicas e por todas aquelas que não pararam de trabalhar incansavelmente neste período. Também é pela baixa representatividade nos espaços de poder e tomada de decisão, que escancaram o quanto estes espaços ainda são predominantemente masculinos. Essa luta é de todas nós, e seguimos na esperança de que repensemos nossas relações e, desta forma, consigamos superar as violências cotidianas.

Por fim, a provocação que pulsa neste momento vem iluminada pela figura de Ester, rainha que conseguiu, com sua sabedoria, proteger a vida de seu povo. Uma líder forte que, quando teve a oportunidade, utilizou de sua liderança, bom senso, espírito de coletividade, amor e empatia (tão necessários nos dias atuais), para garantir que seu povo tivesse o direito à vida plena. O 8M é também sobre a vida, e convido você a somar nesta luta a partir do nosso testemunho. Sejamos protagonistas destas mudanças que tanto queremos, sejamos sinais do Reino! Que possamos, diariamente e cada vez mais, reafirmar nosso compromisso pastoral, fortalecendo nossa luta por igualdade e justiça social, de mãos dadas pela vida das companheiras!

“Essa ciranda não é minha só, ela é de todos e todas nós!”

Lia de Itamaracá

*JENNIFER THAYS CHAGAS TEIXEIRA é da Diocese de Toledo, e está a serviço da Secretaria da Pastoral da Juventude do Regional Sul 2 (PR)

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