Cancel Preloader

Advento: um convite a ter o olho aberto e coração atento

 Advento: um convite a ter o olho aberto e coração atento

Por Ir. Joilson Toledo

Vivemos tempos desafiadores. Nenhum de nós viveu uma crise desta proporção. Os desafios no campo da saúde e da economia, devido à pandemia da Covid-19, ainda nos assolam. Homicídios de pessoas negras de várias faixas etárias em diversos momentos do ano fizeram ecoar em o grito que vidas negras importam. Algumas pessoas comemoram com essas e outras situações… Outras ficaram um pouco atentas e logo focaram em outras “urgências”… Alguns caminham como se nada tivesse acontecido. Mas o que isso tem a ver com liturgia? Talvez seja possível dizer que permitir que as realidades nos toquem, estar atentos, vigilantes, seja uma postura a ser desenvolvida e um dom a ser pedido ao Senhor.

Em meio a todo esse contexto, a Igreja mãe, educadora e companheira, nos convida a viver mais um advento. Tempo marcado por duas dinâmicas: a preparação para o Natal e a meditação do que convencionou chamar de “segunda vinda de Jesus”. A preparação da chegada do Menino Deus e a conclusão da trajetória histórica da humanidade, estruturam os dias ao redor dos quatro domingos que antecedem o Natal. As mudanças nos símbolos e nas cores da liturgia querem provocar em nós um clima de reflexão, de mudanças nas atitudes e no jeito de sentir e viver nossa relação com Deus e as pessoas. 

Neste tempo que se inicia e em especial nesta primeira semana, somos convidadas e convidados a desenvolver três atitudes: reconhecer a ação paciente e misericordiosa de Deus em nossas vidas (1ª leitura – Is 63, 16b-17.19b; 64, 2b-7); contemplar a graça do chamado de Deus que nos escolhe e prepara (2ª leitura – 1Cor 1, 3-9) e desenvolver uma atitude de atenção ao que acontece conosco e ao nosso redor (Evangelho – Mc 13, 33-37).

Na primeira leitura temos trecho vindos da escola profética de Isaias, onde se reconhece os tropeços que o antigo Israel cometeu em sua história (Is 63, 16b-17). O povo da primeira aliança, como tantos de nós hoje, clamam pela ação de Deus (Is 63, 17). A imagem do céu abrindo quer comunicar isso (Is 63, 19b). Também o antigo Israel fez a experiencia de se sentir amado por Deus (Is 64,3). Desta atitude de reconhecer a atuação de Deus em meio a sua trajetória e lutas pela libertação, emerge sua esperança enquanto povo. 

Ao iniciar uma carta à comunidade de Corinto (1Cor), Paulo os saúda salientando o dom do chamado ao seguimento de Jesus (1Cor 1, 4.9). O mesmo Deus que chama, ampara na caminhada (1Cor 1, 5-7). Ser discípulos de Jesus coloca quem fez esta escolha numa atitude de “espera”, de prontidão (1Cor 1, 7-8). Ter Jesus como centro do projeto de vida faz com que as pessoas vivam à espera. Não como simples expectativa, mas como entrega simples, apaixonada e audaciosa. 

Nos três evangelhos, que são chamados de sinóticos, (Mateus, Marcos e Lucas) no final da vida pública de Jesus existem discursos em que ele fala sobre a esperança (Mt 24-25; Mc 13; Lc 20-21). A pergunta de para onde caminha a história e a humanidade e como tudo vai se concluir atravessou todos os povos, civilizações e grupos. A partir das narrativas dos evangelhos, os discípulos de Jesus tentam apresentar a resposta cristã a estas questões. 

Marcos 13 apresenta o maior discurso de Jesus em todo Evangelho. Este capítulo segue a lógica de apresentar as posturas fundamentais que os discípulos de Jesus devem vivenciar nestes tempos.  Neste caso, a atitude fundamental é a atenção, já que não se sabe o momento exato, os discípulos de Jesus devem estar sempre preparados (Mc 13, 33). Conforme cantou Renato Russo, os cristãos entendem que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. 

Os discípulos de Jesus são convidados a desenvolver uma alegria vigilante, já que não se sabe “o dia e a hora” (Mc 13, 33), é preciso viver com intensidade cada minuto. O importante não é saber o tempo, ou prever o momento (Mc 13, 35), é preciso não ceder à impaciência ou irresponsabilidade. Não perder de vista quem somos, quem somos chamados a ser, com o que nos comprometemos, o que mais amamos, quem nos amou primeiro. 

A comunidade de Marcos utiliza uma imagem comum para o seu tempo: um proprietário sai de viagem e confia sua casa aos empregados (Mc 13, 34). Se nos colocarmos no lugar dos servos da parábola, podemos nos perguntar: como estamos diante da missão que nos foi delegada? Sentimos que uma “responsabilidade” nos foi delegada? É preciso sermos “vigiados” para vivermos o que nos comprometemos? Afinal, buscamos viver como nos comprometemos a viver ou arrumamos boas desculpas para “cochilar” quando deveríamos estar “vigilantes”. 

Próximos da conclusão do ano e iniciando o ano litúrgico, somos convidados a nos perguntar: qual a nossa tarefa na construção de um mundo mais justo e fraterno? Qual é a minha parte na vivência de “uma Igreja em saída”? O que me cabe para que a PJ vivencie sua missão? Ao que preciso me dedicar para o meu projeto de vida? 

O convite final é a síntese. A mensagem deste domingo é ficar vigiando (Mc 13, 37). O Advento acaba de começar. Como você está organizando a vida para desenvolver esta atitude de vigilância? Você está atento ao que acontece no seu coração e ao seu redor? Nestes tempos desafiadores, somos convidados a viver este advento. Atenção! Como cantamos nestes dias, “a Boa Nova proclamai com alegria. Deus vem a nós. Ele nos salva e nos recria”.

Thiesco Crisóstomo

Postagens relacionadas

Leave a Reply

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.