A ascensão é alargar a vida para ‘ser mais’

Por Pe. Maicon Malacarne

Gosto de traduzir a ascensão de Jesus com a palavra “alargar”. Alargar no sentido de abrir-se, de tornar maior… Alargar é uma vocação humana, de crentes e de não crentes. É a descoberta do “ser mais”. É o caminho da evolução. Não basta ter um bom emprego, é preciso ser mais. Não basta ser um estudioso, é preciso ser mais. Não basta ser um comunicador, é preciso ser mais. Ser mais é uma descoberta que mora em nós e que desassossega, assombra, incomoda, que faz procurar… Com os discípulos, experimentamos a “partida” de Jesus, seu alargar-se da terra, e ouvimos suas recomendações finais na leitura dos Atos dos Apóstolos. Ao mesmo tempo, o convite a não ficarmos de braços cruzados: “o que fazem aí parados olhando para o céu?” No evangelho das comunidades de Marcos, o envio: “ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho” (16,15). O salmista (46) canta essa espiritualidade: “por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu, o senhor subiu ao toque da trombeta…” Jesus foi um “alargar-se” contínuo porque nem mesmo sua morte, nem mesmo a cruz, conseguiu trancá-Lo e fazê-Lo diminuir. A ressurreição é a experiência mais fantástica e assombrosa disso tudo.

Com essa palavra inicial, quero partilhar outras três:

1- Havia um pescador em Camboja, nação do sudeste asiático, que sonhou com Jesus. Jesus disse a ele que sentia frio, que estava sozinho no meio do rio Mekon e precisava de ajuda. O sonho muito improvável produziu naquele homem uma curiosidade muito grande, a ponto de já pela manhã jogar-se naquelas águas sujas. Encontrou uma imagem de Maria com Jesus no colo. O pescador era budista, por isso, levou a imagem até a igrejinha da comunidade e pediu a umas pessoas se eram mãe e filho na imagem. Elas confirmaram: sim, é Maria e Jesus. Aquela criança no colo era quem tinha falado com ele no sonho. O pescador disse que queria apenas pedir uma coisa – a cura da sua mulher que estava paralisada. Desde o acontecimento, a mulher do pescador passou a visitar a imagem todo dia. Foi curada. Aquela imagem que ninguém sabe como foi parar no rio se tornou objeto de culto na aldeia. O sonho mudou a vida do pescador. Alargar é chegar a lugares que a racionalidade é incapaz. Alargar é lançar-se em terrenos improváveis. Alargar é sonhar as coisas de Deus e do céu.

2 – Rita se chamava Margarida e nasceu no povoado de Cássia, na Itália. Teve uma vida cheia de sofrimentos, a começar pela dureza do seu casamento, de ver seu marido a traindo e, mais tarde, ser assassinado. Também seus dois filhos seguiram o caminho do pai e foram mortos. Rita, sem o marido e sem os filhos, entregou-se a oração. Tornou-se irmã. Foi uma religiosa exemplar pela fé e pelas obras de caridade. Um dia, enquanto rezava, aos 60 anos, apareceu-lhe uma ferida na testa, como se um espinho tivesse cravado ali. Por 15 anos, até a morte, carregou esse sinal que foi lido como uma profunda comunhão de Rita com os sofrimentos e a cruz de Jesus. Antes da morte, alguns parentes a foram visitar, quando se despediram, Rita pediu que lhe trouxessem algumas rosas do jardim de onde ela morava. Os parentes acharam que ela estava delirando, pois era inverno e não havia rosas. Quando, como era caminho, passaram pelo lugar citado por Rita, viram 4 rosas no jardim. Imediatamente, colheram as rosas e voltaram para entregar a ela. Logo em seguida, Rita morreu. Dia 22 de maio será dia de Santa Rita de Cássia. Seu testemunho nos ensina que alargar-se é ser fiel até no sofrimento, mesmo nos espinhos cravados, até quando tudo parece não ter sentido… Alargar sempre é recomeçar, na terra e no céu.

3 – Celebramos, nesse domingo, o 55º dia Mundial das Comunicações sociais. Alargar é comunicar a vida e o compromisso com a verdade da vida em todas as suas dimensões. O Papa Francisco lança o desafio na sua mensagem para esse dia: “comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são” e iluminados pelo lema: “Vem e verás” (Jo 1,46). Também iniciamos a Semana de Oração pela unidade Cristã com o tema: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (cf. João 15,5-9). Essa semana é um testemunho de diálogo entre as igrejas cristãs que, de modos diferentes, vivem o compromisso com o seguimento a Jesus. Aprendemos com isso: alargar é abertura ao diálogo com outras formas de crença que se avizinham a nós ou mesmo que desconhecemos. O fundamentalismo religioso é fechamento, por isso, o contrário de alargamento e de ascensão.

Somos peregrinos para o céu. Não somos só daqui. Com o pescador de Camboja, com Santa Rita de Cássia, com as irmãs e irmãos de outras denominações religiosas, com os que atuam nas comunicações e com todos os jovens, seguimos rumo a algo que não conseguimos explicar – é a vocação de ser mais… Somos do céu! Onde é o céu? Também não sou capaz de dizer, mas peço a graça que São Paulo escreve aos Efésios na segunda leitura: “tenhamos um espírito de sabedoria para compreender” (Ef 1,18). Mesmo que, por enquanto, seja só um tocar na escuridão aquilo que um dia seremos por completo.

Pe. Maicon Malacarne é sacerdote da Diocese de Erexim e foi assessor nacional da PJ (2017-2019).

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