A espera de Deus

Por Paulo Santiago

A Liturgia da Palavra deste 3º domingo da quaresma nos guia através dos ensinamentos de Deus a Moisés, de Paulo à comunidade de Corinto, e de Jesus aos seus discípulos. Em todos eles, Deus apresenta a sua face misericordiosa, paciente e voltada à espera da conversão de seus filhos, tal qual uma mãe que não desiste da sua cria ao longo da vida, independente dos erros que tenha cometido.

Moisés descobre um Deus atencioso e vigilante, que escuta os clamores do seu povo e não se omite (Ex 3, 7-8a). Ao profeta cabe a missão de comunicar aos seus que Deus está caminhando junto com eles, que sente o seu sofrimento e deseja libertá-los. E para isso, Ele quer uma apresentação sem formalismo, porque este povo já lhe conhece através da aliança com os seus ancestrais: Abraão, Isaac e Jacó (Ex 3, 14-15).

O apóstolo Paulo, mais de 1.200 anos depois de Moisés, reforça à comunidade cristã de Corinto a paciência e a guarda de Deus ao povo hebreu (1Cor 10, 1-4). Paulo mostra que não há outro caminho fora da conversão dos pensamentos e ações (1Cor 10, 6), convite que também nos é feito anualmente no tempo quaresmal. Converter-se, para além do dogmatismo eclesial, representa uma ruptura com o que não faz bem ao espírito e distancia a relação com o outro. É reconectar-se à genuína essência humana de não querer e de não fazer mal a ninguém.

Jesus, firme quando necessário e pedagógico por excelência, deixa claro que a soberba não tem espaço junto ao Pai. Nivela a condição de homens sentenciados a de outros que acreditavam estar mais próximos da salvação (Lc 13, 2-5). Segundo Ele, não há outra maneira de chegar a Deus que não seja pela conversão, e que Este está sempre à espera da “figueira que dê figos” (Lc 13, 7-9), ou seja, dos filhos que frutifiquem, que pratiquem boas ações e afastem-se daquilo que vos impede de ter uma relação próxima e íntima com o Pai.

Moisés, Paulo e Jesus partilham da esperança renovada. Esperam que a figueira não seja cortada, mas cuidada, para que volte a ser frutífera. Eles partilham da espera de Deus pelo novo recomeço, mesmo que seja demorado. E você, o que tem feito para manter a sua figueira/fé firme? Que cuidados tem tomado? Lembre-se que a figueira da Pastoral da Juventude só está de pé há 50 anos porque muitas pessoas zelaram, regaram e adubaram, e assim ela permanecerá por várias décadas, através da resistência dos grupos de jovens.

Paulo Santiago é jornalista, especialista em Filosofia dos Direitos Humanos e assessor de base na Diocese de Rio Branco, Acre.

Postagens relacionadas

Leave a Reply

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.