Assunção de Maria: felizes porque acreditamos e anunciamos a presença/ação de Deus na história

Por Ir. Joilson Toledo

Celebramos hoje a solenidade da Assunção de Maria, enquanto estamos chegando a triste marca de 570 mil mortos nesta pandemia. O que esta solenidade litúrgica nos ajudaria a refletir? As solenidades estão entre as maiores festas do calendário litúrgico e nos possibilitam celebrar intensamente aspectos fundamentais da nossa fé. São como aquelas experiências da vida que sintetizam tudo o que somos e quem somos chamados a ser. Celebrar este dia é meditar e vivenciar quem a pessoa humana que escolhe seguir Jesus pode ser. É reconhecer o “ponto final” de quem segue a vida escolhendo a partir do Reino de Deus como Jesus fez. Maria, mãe e discípula de Jesus, nossa companheira e mestra é como uma referência deste jeito de ser.

Na primeira leitura (Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab) a comunidade para qual foi escrito o livro do Apocalipse faz um grande esforço de buscar “entender” como seguir Jesus em tempos de crise. Utiliza uma linguagem muito comum em sua época, a apocalíptica, para fazer uma profissão de fé (Ap 12, 10ab). Por mais que a tradição tenha nos levado a pensar em Maria, neste texto possivelmente quem escreveu estava pensando na Igreja/Comunidade (mulher  com doze estrelas na coroa / Ap 12, 1) que em sua fragilidade vem revestida de Deus (sol / Ap 12, 1), vive no tempo mas é chamada a continuar sua trajetória (lua aos pés / Ap 12, 1), grávida de um menino e dá à luz (o anúncio do Evangelho, o Cristo / Ap 12, 2), o dragão poderoso e assustador (as forças do mal, o império da época / Ap 12, 3-4). Por mais que as forças do mal assustem, se mostrem poderosas e pareçam que têm força de acabar com a frágil comunidade, esta é chamada a continuar (Ap 12, 5-6a). Neste período de tantas perdas, de buscas de vivenciar nossa experiência comunitária. Alguns também vivem o cansaço de lives e as dificuldades de conexão. Mesmo que isso possa nos abater, somos convidados e convidadas a entender este sinal: o pequeno grupo de jovens é chamado a continuar. As forças da vida que nele residem, a presença que ele é portador, a graça de Deus que o ampara é maior que as contrariedades deste tempo. Em nossas posturas e escolhas esta deve ser a nossa profissão de fé.

Paulo, na segunda leitura (1Cor 15, 20-27), já no final de sua primeira carta à comunidade de Corinto, partilha sua visão da fé na ressurreição (1Cor 15). A vitória da vida sobre da morte não marca somente o fim da vida dos cristãos, mas toda sua caminhada (1Cor 15, 22). Assim, como a morte não teve a última palavra na trajetória de Jesus, também não terá na vida de seus discípulos (1Cor 15, 20). Em Cristo nosso caminho é a ressurreição. Somos convidados a viver como uma comunidade de ressuscitados. O grupo de jovens, a Pastoral da Juventude e a trajetória de cada um de nós é chamada a constituir relações que trazem vida (ressuscitadas e ressuscitantes).

O Evangelho do dia nos traz duas passagens bem conhecidas: a visita de Maria a Isabel (Lc 1, 39-45) e o canto de Maria (Lc 1, 46-56). Para a comunidade lucana, Maria é um sinal do Novo Testamento, assim como, Isabel é um sinal do Antigo. No texto há uma alusão ao reencontro da Arca da Aliança (2Sm 6, 9; Lc 1, 43). Maria traz apressadamente dentro de seu corpo o próprio cristo, a nova aliança (Lc 1, 39-42). O pequeno grupo de jovens em meio a suas escolhas e vivências é chamado a trazer o Cristo em sua carne (fragilidade). Desta forma, a “utopia” (lugar adiante, esperança) se faz “topia”, experiência do hoje. Quais novidades, esperanças e boas notícias nossos grupos, a PJ, são portadores? No diálogo entre Maria e Isabel está o coração das leituras de hoje e a certeza de fé que nos faz esperançar nestes tempos de pandemia: “bem-aventurada aquela que acreditou, por que vai se cumprir o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1, 45). Quais esperanças te movem na vida? Você tem “acreditado” no que Deus tem te dito? Neste mês vocacional, este diálogo nos remete ao nosso projeto de vida. Cada um de nós traz uma Palavra de Deus “ouvida” e “acolhida” que é o coração do que somos e de quem somos chamados a ser. A luz que ilumina, o horizonte que desafia, nossas pequenas e grandes escolhas.

No cântico de Maria, a comunidade lucana nos traz um canto que contempla a ação de Deus em quem se abre a sua proposta e na humanidade. Ele expressa a esperança dos pequeninos de Israel contemporâneos a Jesus de Nazaré. Também traz a releitura de pessoas de origem grega que se sentem também herdeiros desta promessa.

Maria entende a ação de Deus em sua vida e dentro do que vai acontecendo na sociedade. O que para ela é realidade, para nós é esperança. Esta mulher é testemunho, incentivo e auxílio. Impulsionados por esta convicção, cada um de nós e nossos grupos de jovens são convidados a viver esta esperança, a esperançar, a vivenciar a Palavra, o chamado de Deus em nossas vidas. Quem segue este caminho é feliz e sinal da felicidade prometida no Evangelho.

*Ir. Joilson Toledo é marista, mestre em Ciências da Religião e atua na assessoria da PJ na Arquidiocese do Rio de Janeiro.

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