Cúpula dos Povos: Juventude e Carta da Terra
A Cúpula dos povos é o espaço de convergência dos movimentos sociais e de todos aqueles dispostos a construir um novo mundo. Nesses dias de atividades, o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, é o lugar da denúncia, do protesto, mas também da partilha, da proposição e do sonho. Não há lugar para a ingenuidade, aqui todos compreendem o tamanho do desafio e os interesses que estão em jogo no processo da Conferência Oficial – Rio+20.
Do lado de cá circulam milhares de ‘mantenedores’ da utopia, aqueles que sustentam a luta em defesa da vida do planeta. Na manhã de hoje, muitos deles estavam na Plenária 5, participando da atividade sobre Juventude e a Carta da Terra, realizada pela Alternativa Terrazul e com o apoio da Viração Educomunicação e Campanha Rio Mais Você. Figuras como Severn Suzuki, que virou símbolo da causa ambiental depois de discursar na ONU, durante a Eco92, quando tinha 12 anos; a atriz Letícia Sabatella, Marina Silva e o senador Cristovam Buarque, inspiraram e emocionaram uma plateia gigante, em sua maioria composta por jovens.
Severn Suzuki era uma das pessoas mais esperadas pelo público. Em sua fala emocionada e emocionante, levou a plenária às lágrimas quando declarou: “quando olhamos para o progresso alcançado nos últimos 20 anos, é fácil ficarmos desencorajados. Mas hoje, eu sou uma mãe. Eu tenho dois pequenos meninos, um de 2 e outro de 4 anos. E eu vou fazer de tudo que eu puder para garantir que os meus filhos tenham grandes oportunidades em um grande mundo”. Serven criticou a estagnação desde a Rio92. “Já passaram vinte anos e nesse tempo não fomos capazes de chegar no mundo sustentável que naquela época já sabíamos que precisávamos”, disse.
Quando discursou na ECO92, Serven calou uma plateia de centenas de chefes de estado e emocionou o mundo. O vídeo com sua intervenção já rodou o mundo pela internet e, ainda comove milhões de pessoas. Hoje ela disse entender o porquê disso. “O que fez tantas pessoas se sentirem tocadas diante de um apelo de uma criança é a força do amor intergeracional”.
Ao longo desses vinte anos, Serven foi focando cada vez mais sua energia em ações de base, em pessoas, movimentos, organizações da sociedade civil. Enquanto isso, ela disse perceber que a nível global, a pauta da sustentabilidade retrocedeu. “Estes políticos de alto nível não vão mudar o mundo para nós, eu percebi que se nós queremos mudanças temos que lutar, demandar e discutir. Nós somos responsáveis por isso”. Concluiu fazendo um pelo para que as juventudes usem as suas vozes, porque segundo ela “o mundo está desesperado pela voz de pessoas jovens”.
Marina Silva, talvez a mais esperada personalidade do dia, foi ovacionada pela plateia. Se disse envergonhada por ter que ouvir da jovem Suzuki dizer, vinte anos depois, que nada mudou. Ou pior, tudo retrocedeu. Segundo Marina nada mudou porque vivemos numa sociedade tão consumista que consumimos até emoções. Nos emocionamos com o que vemos e ouvimos, mas rapidamente jogamos essa emoção fora e voltamos à frieza, com a desculpa de que na prática não é possível fazer nada.
Marina, elegante e sensível, prosseguiu sua fala dizendo que devemos lembrar a presidenta Dilma que, a despeito de todos os retrocessos, nós não vamos diminuir nossa expectativa em relação à ela. E acabando com a dicotomia situação e oposição, afirmou: “Que a gente diga à nossa presidenta Dilma, que nós não estamos aqui porque somos oposição, mas porque temos uma posição. Posição a favor da vida”. E encerrou sua fala chamando tod@s à uma palavra de ordem: “BRASIL, URGENTE! O PLANETA ESTÁ DOENTE!”
O Senador Cristovam Buarque fez críticas ao atual modelo de desenvolvimento e revelou sua descrença com o processo oficial da Rio+20. “Não é a reunião no Rio Centro que vai dar as respostas que o mundo precisa. É aqui, no Aterro do Flamengo, que vamos construir as alternativas capazes de salvar o planeta”, alertou. Mas Buarque não ficou no denuncismo e falou de propostas concretas para a Rio+20. Entre elas a criação de um Tribunal Internacional para julgar crimes contra a humanidade.
Outro ponto importante levantada pelo Senador foi a ideia defendida pelo governo do Equador, e recusada pelo governo brasileiro, de criação de um sistema internacional que estabeleça regras para o uso dos bens naturais da humanidade. “As nações são soberanas, mas não são donas do planeta. Os bens naturais, como rios e florestas, apesar de estar dentro de determinadas fronteiras, não pertencem a apenas uma nação, mas a toda humanidade”, concluiu.
O impossível possível – Durante a plenária circulou, entre os participantes, o jornal mural que perguntava: qual o impossível que você quer realizar? A atriz Letícia Sabatella escreveu que gostaria de abrir os corações dos que tornam impossível o bem, que é super possível realizarmos no planeta. Marina Silva escreveu que gostaria de tornar o impossível, possível.
Fonte: Agência Jovem/ Por Bruna Bernacchio, Júlia Dávila, Leandra Barros e Vânia Correia