Deus é comunidade

Por Paulo Santiago

Uma semana após a Solenidade de Pentecostes, a Igreja nos convida a celebrar a Solenidade da Santíssima Trindade. Em ambos os momentos, há uma palavra que identifica o fazer litúrgico: a comunhão. Enquanto Pentecostes nos mostra a ação do Espírito Santo para que as várias comunidades possam unir-se na palavra de Deus, a Trindade Divina nos apresenta um Deus que escolhe viver em comunidade. E sempre foi assim.

Desde os relatos em Gênesis, as escrituras mostram um Deus que não quer estar sozinho (Gn 1, 26). Nas orientações a Abraão (Gn 12, 1) e sua descendência, passando por Moisés (Ex 3) e os profetas, Jeová faz questão de estar presente na vida de seu povo, como mãe que não deixa de cuidar dos filhos mesmo depois que crescem e saem de sua casa. 

Ele permite-se chamar de Pai, cria um laço além de criador e criatura, mas de família universal. Deixa claro que não nascemos para a solidão, mas para a comunhão. Imagine só, num mundo de pessoas isoladas, como lidaríamos com uma pandemia como esta que estamos vivendo? A necessária fraternidade universal, nestes tempos, nos conduziu a um novo Pentecostes. Produtores de insumos para a vacina, cientistas, profissionais da saúde e líderes das nações no mundo inteiro – os responsáveis – falam a mesma língua: salvar vidas.

Assim como Deus Pai, Jesus de Nazaré – Deus Filho – nos apresenta uma metodologia pastoral incomum ao seu tempo. Em vez de permanecer comunicando às multidões que o seguem, resolve reunir alguns discípulos e discípulas ao seu redor. Nesta vivência comunitária Ele conhece melhor cada um e cada uma que doa sua vida à missão que lhe foi confiada pelo Pai. Não se preocupa com a quantidade, mas com a mensagem. Inspira seus irmãos e suas irmãs (Mt 12, 47-50) a irem e evangelizarem por todos os povos (Mt 28, 18-20), utilizando o mesmo método: as pequenas comunidades de fé.

Todo este movimento de Pai e Filho é animado pelo Espírito. Ele guia e fortalece os grupos e gerações que buscam, a exemplo de Jesus, experimentar a vida em comunidade. Une-os como filhos do mesmo Pai-Mãe (Rm 8, 14-17). Se o nosso profeta e poeta dom Pedro Calsaldáliga nos ensinava que “No ventre de Maria Deus se fez homem. Mas, na oficina de José Deus também se fez classe”, a comunhão entre Pai, Filho e Espírito Santo nos mostra que foi na Santíssima Trindade onde Deus se fez comunidade.

Paulo Henrique da Silva Santiago é jornalista, especialista em Direitos Humanos, coordenador de comunidade eclesial e assessor de grupo de base.

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