Ditadura militar nunca mais!

Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu.

Mateus 5, 10

No dia 31 de Março de 1964 o Brasil entrava em um capítulo triste e aterrorizante da nossa história: começava uma ditadura militar, através de um golpe de Estado, com apoio de segmentos da sociedade civil. Não se imaginava naquele dia que este capítulo duraria 21 anos, de muita repressão e autoritarismo.

Este período tinha algumas características, como a falta de liberdade de expressão, perseguição e tortura de movimentos e grupos da oposição, censura aos meios de comunicação e aos artistas, controle dos sindicatos, e repressão a todo e qualquer manifestação popular contraria ao golpe antidemocrático.

Durante todo esse período, muitas pessoas e organizações, mesmo sendo perseguidas e torturadas, não deixaram de lutar e resistir para que voltássemos à democratização. Houve um grande movimento em 1983, que mobilizou milhares de pessoas, conhecido como “Diretas Já”, com participações de partidos políticos, artistas, representantes da sociedade civil e intelectuais. Neste ano a inflação chegou a 211%, e este movimento mostrava a grande insatisfação da população com toda aquela realidade.

É importante relembrar que muitos bispos, padres, religiosos e religiosas – como Dom Evaristo Arns, Dom Adriano Hypolito, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Madre Maurina – foram também perseguidos, presos e até mortos, como o Padre Antônio Henrique Pereira, por se manifestarem contra toda a injustiça e opressões que a população sofria. Em 1975, em sua 11ª Assembléia Geral, a CNBB tomou posição e se manifestou contra o autoritarismo, Bispos condenaram porões da tortura e lançou um documento que dizia:

“Não podemos admitir as lamentáveis manifestações da violência, traduzidas na forma de assaltos, sequestros, mortes ou quaisquer outras modalidades de terror. […] Pensamos no exercício da JUSTIÇA, […] que, sinceramente, cremos estar sendo violentado, com frequência, por processos levados morosa e precariamente, por detenções efetuadas em base a suspeitas ou acusações precipitadas, por inquéritos instaurados e levados adiante por vários meses, em regime de incomunicabilidade das pessoas e em carência, não raro, do fundamental direito de defesa”.

Embora já 59 anos já tenham se passado desde o fim da ditadura militar, ainda é possível ver que este assunto é pouco debatido, e que muita gente até hoje tem medo de falar sobre ele. Muitos crimes nunca foram punidos, e em 2012 foi criada a Comissão Nacional da Verdade, para apurar os crimes ocorridos neste período. A comissão apontou várias mortes e desaparecimentos e ouviu testemunhas de todo o país.

O Brasil ainda possui poucos espaços físicos de memória desse tempo – como o Memorial da Resistência de São Paulo, criado em 2009; porém, existem diversos websites que apresentam essa memória, com mostra de fotos e reportagens da época, de acontecimentos desse período tão doloroso para a história do nosso país. O Memorial da Democracia – 21 anos de resistência e luta é um desses espaços virtuais muito importantes de ser conhecido. Mesmo que muitas vezes achemos ser um assunto superado, esse marco tenebroso de nossa história ainda causa muitas dores em suas vítimas. 

Então por que relembrar essa data se ela é tão dolorosa à nossa democracia?

“Temos que contar essa história apesar de ser cada vez que eu conto um sofrimento. Não tenho satisfação nenhuma em contar isso, é muito triste, mas eu acho que o povo brasileiro, que a sociedade brasileira tem que ter conhecimento disso”

Maria Amélia Teles

A história precisa ser lembrada para que o presente jamais repita o passado. É preciso lembrar quantos direitos foram violados, quantas pessoas foram perseguidas, torturadas, silenciadas, censuradas e até mortas. Falar e lembrar dos acontecimentos deste período não é fácil,  porém é necessário para que, fazendo essa memória, reafirmemos nossa luta e digamos em uma só voz: DITADURA NUNCA MAIS!  

Wanessa Freire Almeida

A serviço da Secretaria Nacional da PJ

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