É tempo de deserto, prova, meditação, escuta e discernimento

Por Ir. Gecinéia de Lima

No primeiro Domingo da quaresma de 2021, nossa liturgia nos presenteia com o texto de Marcos 1, 12-15.

Jesus sente a necessidade de afastar-se, distanciar-se, encontrar-se consigo, encontrar com o Pai. Ver e escutar, avaliar sua vida, sua realidade, estabelecer metas, direcionar a missão à qual foi enviado. Jesus, o Filho amado de Deus, recebe a missão de ser fiel aos apelos de quem lhe enviou, dar direito a quem clama por vida, saúde, teto, comida, acolhimento, respeito a quem vive.

Por tanto, é chegado o momento, em meio a tantos apelos, é preciso calar para priorizar e fazer o caminho que é chamado a entregar-se, e perguntar-se a que ponto vai sua entrega.

Ir para o deserto submeter-se à prova de entregar-se totalmente até às últimas consequências ou calar-se? Deixar que os sem voz e sem vez pereçam ou ter empatia para que a vida se torne abundante sem exceção? Dar espaço ao egoísmo ou à solidariedade? Mergulhar no individualismo de sua mentalidade ou abrir-se à escuta? Buscar rumos que possibilitem vida abundante em conjunto ou apenas a quem se julga “eleito” e “santo de teoria”

Quarenta dias de deserto, quarenta dias de sofrimento buscando libertação, quarenta dias para sair da miséria, da fome, da doença, da exclusão, da escravidão física, escravidão mental, escravidão do poder que mata, que manipula.

Quarenta dias para libertar-se da prisão que amedronta, da prisão que não traz nova visão, da prisão que justifica o número de mais ou menos 245 mil na pandemia do novo coronavírus no Brasil? Sem contar as mortes por outras doenças.

Jesus ouve a voz que lhe envia anunciar a Boa Notícia, cheio da voz que ecoa, e com o coração transbordando, ardendo de compaixão e misericórdia, sai do deserto repleto da luz que lhe envia a dizer para aquelas e aqueles que o seguem, o tempo se cumpriu, o reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede na Boa notícia!

O Evangelho de Marcos nos apresenta o início da atividade messiânica de Jesus, que sai do deserto para a Galileia. Jesus inicia seu caminho (metodologia), quem quiser seguir esse caminho, precisará aproximar-se e fazer-se irmã e irmão de toda e qualquer pessoa excluída de ter vida, toda e qualquer pessoa que lhe foi arrancada sua dignidade e seu direito. Com Jesus será a hora dos que não tem voz e vez e das que não tem voz e vez, quem quiser fazer esse caminho precisará rasgar não apenas as vestes, precisará praticar não apenas os ritos, precisará rasgar com emergência o coração.

Quem quiser seguir Jesus precisará dialogar e sair de sua autossuficiência e julgamento, superar as tentações do intimismo de uma fé que prende, que aliena, que tira a humanidade. Será preciso agir com o coração e não como uma máquina fria, sem sentimentos.

Quem quiser seguir Jesus, precisará ter fé inteligente, que acolhe, que ama, que não exclui nada, que não exclui cosmo, meio ambiente, pessoas, que não exclui ninguém.

A fé inteligente nos faz olhar pro céu, ir ao deserto e em seguida ir à Galileia para proclamar a Boa Notícia do Reino que começa aqui e agora.

E que Reino é esse?

Ir. Gecinéia de Lima e Silva é professora de Filosofia, teóloga e missionária de Jesus crucificado

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