O que a quaresma tem a nos dizer

Queremos iniciar essa conversa fazendo um convite à escuta. Isso, vamos escutar: o silêncio, o choro, o sorriso, as queimadas, a morte, escutar a/o outra/o, escutar-nos. Rubem Alves escreveu “vamos fazer o exercício da escutatória”. Então vamos fazer o exercício de escutar, nesse tempo de quaresma. Inicie a sua escuta refletindo o que é a quaresma pra você? Sem pesquisa, sem trazer o que você vivenciou na comunidade nos anos anteriores. Como podemos ouvir e vivenciar um tempo de quaresma em 2021?

Partindo do contexto histórico, algumas definições nos lembram que quaresma é uma oportunidade para fazermos uma avaliação de nossa vida, das atitudes, valores. “É tempo de deserto”, tempo de silêncio. Porém nós estamos convidando você a fazer o exercício de escutar. Como sentimos as queimadas que ocorreram no ano de 2020? como nos retiramos, silenciamos diante das centenas de vida que o coronavírus tirou? O vírus foi uma causa, mas e as outras formas de morte que a pandemia tem revelado? O vírus tem feito uma devassa no mundo. Mas olhemos também para as atitudes do ser humano, diante das grandes desigualdades sociais, da falta de políticas públicas. Que quaresma vamos vivenciar nesses tempos?

Algumas igrejas Cristãs celebram a quaresma inicia na quarta-feira de Cinzas ou Dia das Cinzas, “a data é um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte”. Quaresma é a memória. Recordemos os 40 dias no deserto, os 40 anos de caminhada do povo no deserto. Desta memória também trazemos símbolos e gestos: cruz, cinza, cor roxa, o jejum, a caridade e a oração.

Façamos uma reflexão, diante da pandemia, o que foi o início da quarentena para você, e no Brasil? O que você pode trazer para reflexão entre quaresma (se retirar) e o isolamento físico, a mortes, a falta de cuidado ao ser humano? O que os símbolos da quaresma dizem á você neste ano? Ou fazendo memória do povo no exílio, das pragas, das queimadas no Brasil, das vidas ceifadas pela Covid19, o uso do nome de Deus sendo usado contra a vida. Faça a sua escuta.

Para as/os Cristãs/ãos quaresma é tempo de jejuar, de perdão, de mudança de atitude, de reflexão. Qual será seu jejum nesta quaresma? Faça o exercício do ouvir e veja o que esses símbolos e atitudes significam para você.

Quaresma: tempo necessário, tempo de reflexão, de olhar para sua caminhada, rever escolhas, tempo de conversão. O coronavírus nos colocou de quarentena; numa quaresma prolongada. De início muito se esperançou no sentido de que sairíamos dessa pandemia melhores como seres humanos, que aprenderíamos sobre partilha, amor aos mais necessitados, justiça social, cuidado com nossa casa comum e tantos outros marcos do reino. Mas, tal qual a quaresma, a quarentena imposta pela situação não alcançou transformação de corações. A conversão é movimento que parte de dentro, de uma vontade de ser diferente e de gerar transformação.

Quaresma ou quarentena nada tem a dizer àqueles que estão com os corações endurecidos. Não há reflexão, não há recolhimento, não há arrependimento pelos atos e omissões que contribuem para que o povo siga sendo flagelado todos os dias. Queremos ir direto à Páscoa contemplar o Cristo glorioso e vencedor sem a necessidade de nos misturarmos com o Cristo que passa pelo deserto, pela dor e pela cruz. Assim tantos passaram a quarentena, alienados, ignorando o sofrimento de milhões de enlutados, hospitalizados, desempregados, famintos e abandonados por um (des)governo que prega todos os dias seu povo na cruz. Um povo para o qual a caminhada no deserto parece nunca ter fim. Mas ela há de ter um fim…nossa fé vive disso: da fiel Esperança de que passamos pela quaresma, pela cruz, mas chegamos à Páscoa!

Na esperança do esperançar, escutemos o que essa quaresma pode nos dizer. A conversão é movimento que parte de dentro, de uma vontade de ser diferente e de gerar transformação, para viver a Páscoa da vida!

Luciene Borges Ortega
CEBI-MS
Educadora, Militante da Pastoral da Juventude

Talita da Mata Nogueira
CEBI-MS
Psicóloga. Educadora, Militante da Pastoral da Juventude

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