É tempo de “Esperançar”: em nossa pequenez reside a vitalidade do Reino

Por Ir. Joilson Toledo*

Acolher a dinâmica do Reino é um desafio cotidiano de todo(a) discípulo(a) de Jesus. As parábolas que encontramos nos evangelhos são narrativas pensadas para isso: questionar seus leitores/ouvintes sobre posturas de escolha/repulsa ao Reino de Jesus. Mais especificamente as parábolas encontradas no capítulo 13 do Evangelho de Mateus e as que estão no capítulo 4 do Evangelho de Marcos são conhecidas como parábolas do Reino. O trecho do Evangelho lido na liturgia das nossas comunidades neste domingo (Mc 4, 26-34) se encontra entre estas.

Temos lidas em sequência duas parábolas. Nas duas o desenrolar da narrativa se dá pelo processo de crescimento da semente. Ao dizer o “Reino de Deus é como” (Mc 4, 26.31), a comunidade de Marcos nos testemunha uma experiência presente nas várias gerações dos discípulos de Jesus: o jeito de Deus agir (o Reino de Deus) extrapola nossos conceitos, “transborda” o que conseguimos descrever.

Temos nas primeiras imagens que nos ajudam a pensar o Reino de Deus: processo, pequenez, vitalidade… A primeira (Mc 4, 26-29) não tem paralelo entre os sinóticos. Nesta, o Reino é comparado com o ato de espalhar sementes (Mc 4, 26). As consequências destas atividades não se dão pela força da pessoa humana. O autor frisa que “ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27). Em especial, este tempo de pandemia tem evidenciado que não temos o “controle” de tudo. O Evangelho de Jesus é um convite a contemplar o milagre da vida que se dá para além de nós. Seria bom se neste domingo você e eu pudéssemos tirar um tempo para contemplar a dinâmica do Reino em nossas vidas e nos processos onde estamos envolvidos.

A parábola do grão de mostarda (Mc 4, 30-34) é mais conhecida. Nela somos convidados a dar um passo à frente neste caminho de contemplação do jeito de Deus agir na vida da gente e na história ao reconhecer contrastes. A menor das sementes se torna a maior de todas as hortaliças (Mc 4, 31-32). Dentro da fragilidade reside uma “força incomparável”, na pequenez há uma promessa, no desprezível há uma esperança. Entre as Comunidades Eclesiais de Base faz alguns anos circulava um ditado africano, “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”. Nossas escolhas e posturas testemunham que acreditamos na experiência que reside nestas palavras?

Somos convidados neste domingo a “esperançar” não pela grandeza de nossas forças e possibilidades, mas pela esperança do Reino. Professar a fé no Evangelho é acolher o jeito de Deus agir. Contemplar a dinâmica do Reino e mergulhar nela, ser tomado pela esperança. Talvez seja um momento de olhar quais são os “grãos de mostarda” presentes em nossas vidas, em nossos grupos, em nossas comunidades, na Igreja, na sociedade. Neles reside a força do Reino.

Vivemos tempos desafiadores. A Pandemia da Covid-19 nos confronta com nossa finitude e pequenez. Esta experiência tem sido para muitos dolorosa e desorientadora. A liturgia de hoje lança uma luz sobre a nossa pequenez, nos convida a abraçá-la, reconhecer o dinamismo do Reino que vai além de nós e enche de vitalidade a história que somos chamados a construir e contemplar.

* Ir. Joilson Toledo é marista, mestre em Ciências da Religião e atua na assessoria da PJ na Arquidiocese do Rio de Janeiro.

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