Embaixadores de Cristo, reconciliados na ternura

Por Vinícius Borges

         Quantos de nós nos sentimos afastados do caminho da fé? Provocação ousada, mas necessária. Há, possivelmente, uma sensação de abandono e desalento que toma os corações de um sentimento de “filhos pródigos”.

         Nesta quaresma, chamadas/os a pensar caminhos de conversão, cristãs e cristãos têm a oportunidade de rever suas próprias trajetórias pessoais e, também, comunitárias. É um convite à reflexão profunda que gera transformações verdadeiras.

         Na Parábola do Filho Pródigo, meditada no Evangelho deste domingo (Lc 15,1-3.11-32), Jesus quer mostrar a figura de um Deus Misericordioso. Curiosamente, no início do texto, é dito que os publicanos e pecadores ouviam o Mestre. Os fariseus e os mestres da lei, ao contrário, o criticavam. A história contada também faz analogia à realidade presente experimentada ali: Deus é como o pai amoroso que prontamente corre ao encontro do filho amado para abraçá-lo. Jesus escolheu os excluídos. Preferiu estar ao lado daqueles que escolheram ouvi-lo. Atua em favor da reconciliação por meio da ternura. É puro afeto. Não se fala em condenação.

         As práticas punitivas e acusatórias não contribuem para a reconciliação mas, ao contrário, atuam para criar contendas e reproduzir ciclos violentos. Essa é, infelizmente, a tônica presente na sociedade. Há um intenso clamor por vingança em vez de justiça. Por tortura em lugar do diálogo. Por cárcere em contraste à reparação.

         O caminho do Evangelho é outro. A própria ideia de pecado passa a ser apresentada como um atávico modo de se ler as coisas. Jesus, apresentado por Paulo como redentor (2Cor 5,17-21), é a própria novidade. Traz o frescor de um jeito novo de viver e conviver. É abraço terno e revolucionário em uma sociedade marcada pela divisão. Os excluídos têm, agora, o direito ao abraço acolhedor. Já não lhes pesa apenas o olhar hipócrita da estrutura social.

         Há, no texto paulino, uma expressão profundamente reflexiva: diz o apóstolo que somos “embaixadores de Cristo”. Isso significa que a aderência ao seguimento a Jesus requer a graça e o dever de representá-lo. Consequentemente, é imperativo que se empunhe o estandarte de seus valores e propósitos. Como discípulos do Mestre, é absolutamente necessário imergir nos caminhos da reconciliação, do cuidado e do olhar de acolhida.

         A opção radical por esse caminho é a pedagogia cotidiana de desconstruir os olhares da divisão e propor o enlace da humanidade que une, congrega e gera partilha, mesmo na divisão. Foi preciso superar os desatinos e as incoerências para a chegada à Terra Prometida. Foi preciso a dor cortante de aceitar a reconciliação para receber de volta o colo do Pai. Se distantes estamos, há uma avenida inteiramente aberta para o regresso perfumado da compaixão. Nela estão os rostos diversos dos que, hoje, são considerados publicanos. São estes os participantes do banquete da alegria. Não os inquisidores.

         Foi assim na Parábola. Foi assim na trajetória pública de Jesus de Nazaré. Continua sendo assim hoje. Aos olhares ranzinzas dos “filhos ciumentos”, travestidos em hipocrisia divisória e condenatória, nos preparamos para a Páscoa: celebração máxima dos que preferiram se reconciliar para comer e beber dos frutos da graça. Esse é o horizonte para o pós-quaresma. Esse é o propósito dos embaixadores e embaixadoras do Cristo Ternura. Lutar por isso é crer no Reino. Isso vale a vida.

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