JOSÉ DE NAZARÉ, CARPINTEIRO DO AFETO

Por Hartemys Belo

No dia 19 de março, celebramos a vida do pai adotivo de Jesus Cristo, São José, integrante fundamental da sagrada família, junto de Maria. Poucas são as palavras que falam sobre quem seria esse homem – de sua boca mesmo, palavra alguma foi registrada, vivente da Galileia, numa época onde o patriarcado se fez forte e intenso, como ainda hoje se faz. E é destas poucas palavras que extraímos sua mística de homem simples, carregado de virtude e dignidade.

A primeira questão encontrada sobre José nos Evangelhos, é a sua justiça. Mesmo em dúvidas, não denuncia Maria. Pensa abandoná-la para que ela possa seguir viva e não ser condenada. O que passou na cabeça de um homem ao saber que sua noiva estava grávida de um filho que não havia sido concebido por ele? (cf. Mt 1, 18-25) Medo, incompreensão, dúvidas? Foi necessário o anúncio de um anjo para, em sonho, iluminar seu discernimento e encarnar em seu corpo a paternidade de Cristo. José, em atitude amorosa à Maria, não a abandonou ou denunciou, acolheu-a. O sonho se tornou realidade, porque o medo se fez confiança. A confiança em Deus o fez assumir o projeto do Reino, acolhendo Maria em casa.

É no seu sim, abraçando o projeto do Pai, que José cria o filho de Deus como se fosse seu – e é. O sim de José nos revela uma relação socioafetiva com Jesus, relação de amor entre pai e filho, um desafio que ainda atravessa os tempos. E no dia em que José sentiu angústia, junto a Maria, por não saber onde se encontrava o jovem Jesus, permitiu-se aprender com o Filho e redescobrir nessa relação filial a manifestação de Deus (cf. Lc 2, 41-52). Tudo na carpintaria de ser pai requer esforço.

A Jesus é ensinada a profissão de carpinteiro, como o pai (Mt 13, 53-58). É nessa função que descobrimos a dignidade de José, e de Jesus. Como bons carpinteiros, moldam as madeiras em estado bruto, processo de transformação, (re)criando formas e usos. Como bons carpinteiros, José e Jesus, moldam sentimentos e pensamentos, criam laços de amor, responsabilidade e cuidado. O que era angústia, preocupação e incompreensão moldou-se em diálogo, respeito e afeto. E o amor sentido por Jesus o fez proclamar, a partir de José, que Deus é Abbá. 

Hoje encontramos homens privados de sentir os próprios sentimentos pelo julgamento de ser inferior, em relação à mulher, ou de fraqueza. Em contrapartida, encontramos homens afetuosos, sonhadores, inspirados. Estes não negam seus pensamentos e sentimentos; pois é de nossa natureza a vivência, no corpo, de todas as emoções. Ao invés de reprimir, que tal aprender a lidar, conscientizar, viver nossos sentimentos e pensamentos? Afinal, o que é ser homem? Ser homem é ser carpinteiro?

É com esse José de Nazaré, exemplo para nós neste tempo quaresmal, que precisamos olhar a Civilização do Amor no nosso cotidiano, com um olhar humano, como nós. José, carpinteiro de afeto. Um homem que sente medo, angústia e preocupação. Mas acima de tudo, um homem que ama, cuida e respeita. Um modelo de masculinidade do cuidado e do amor. Amor de pai e filho, amor humano transformado pela ação de Deus, amor infinito e libertador.

Hartemys Belo do Nascimento é professor de português, assessor do grupo JOFRAC, coordenador regional Nordeste II, referência do GT Central da Campanha de Enfrentamento aos Ciclos de Violência Contra a Mulher, contribuindo nas discussões de novas masculinidades.

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