Natal do Cristo cósmico

Por Marcelo Barros

Apesar das notícias de repique na pandemia da Covid-19, as comunidades cristãs e o mundo estão no clima da festa de Natal. Só que existem vários modos de festejar o Natal. O comércio faz do Natal uma festa do consumo; muita gente nem ligada à Igreja celebra o Natal como ocasião de reencontro e confraternização familiar.

Nas igrejas, grupos mais tradicionais celebram o Natal como se fosse a festa do aniversário do nascimento de Jesus. Ninguém sabe o dia em que Jesus nasceu. A festa do 25 de dezembro foi criada no século IV, os antigos romanos celebravam o solstício do inverno. Então, os cristãos quiseram lembrar que o Cristo é o sol da justiça que vem do alto para renovar nossas vidas. Atualmente, em várias igrejas cristãs, movimentos de juventude querem retomar a festa do Natal como era em seus primeiros tempos: uma celebração da presença divina na natureza que se renova (era o solstício do inverno) e como chamado para renovar-nos profundamente e nos tornar pessoas mais humanas e mais solidárias.

A juventude é como um sacramento vivo do Natal. O Natal representa a permanente juventude de Deus, manifestado na humanidade de Jesus. Nos anos 80, Leonardo Boff deu ao seu livro sobre o Natal o título: A humanidade e jovialidade de Deus. Nas nossas igrejas e no mundo, a vocação da juventude é essa: recordar que nosso Deus é sempre jovem e quer rejuvenescer o mundo com a jovialidade do seu Espírito maternal.

Em cada Natal, pedimos que o Cristo que há mais de 21 séculos nasceu em Belém, se manifeste como nova energia criadora para renovar a natureza ameaçada, a terra ferida e a humanidade vítima dos vírus do desamor e do egoísmo que matam mais do que a Covid.

Na Amazônia, os povos indígenas escutam de novo os Xamãs que fazem ressuscitar os cânticos dos espíritos da floresta que é viva. Ela está ferida pelas queimadas, devassada pelos garimpos e destruída pelas mineradoras que poluem rios e ocasionam desastres ambientais irreversíveis. Transformam a floresta e o Pantanal em savanas secas.

É importante que as comunidades cristãs liguem a celebração deste Natal com o cuidado da terra, da água e de toda a natureza. Hoje, o planeta Terra, nossa casa comum, é o verdadeiro presépio do Cristo. Embora de forma ainda invisível, Cristo vem hoje a esse mundo. É tarefa de nossos grupos de jovens ajudar os cristãos e toda a Igreja a ver o mundo como este imenso presépio no qual o Espírito-Mãe faz nascer uma humanidade renovada, cuidadora da Terra, como corpo do Cristo cósmico que vem a nós neste Natal.

Marcelo Barros é monge beneditino e teólogo, assessor de movimentos sociais como o MST e as comunidades eclesiais de base. Tem 58 livros publicados, dos quais o mais recente é escrito junto com Henrique Vieira: O monge e o pastor, Ed. Objetiva, 2020.

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