O Nazareno nos convida a fazer uma travessia à outra margem
Pe. Atenágoras de Alencar*
Desde o último domingo estamos refletindo o capítulo 4 do Evangelho de Marcos, que dos versículos 26 a 34 apresenta duas parábolas, comparando o Reino de Deus à semente que é espalhada (Mc 4,26) e apresenta ainda o Reino de Deus com um grão de mostarda (Mc 4,31). Nesse 12º Domingo do Tempo Comum, somos provocados e provocadas com a seguinte indagação: quem é Jesus?
O episódio de hoje diz que, ao cair da tarde, Jesus chama os discípulos para a outra margem. O Nazareno é o Deus missionário, vamos sempre encontrá-lo se locomovendo, em contato com o outro, com a outra. Ir à outra margem é ir ao encontro de outras pessoas para levar a semente do Reino.
Para chegar a outra margem encontramos dificuldades (ventania, ondas fortes, mar revolto, etc.). Às vezes esse caminho é assustador. O mar hoje é a fome, a violência contra a mulher e os povos originários, a homofobia, o racismo, o desgoverno, a falta de vacina. E estamos passando pela pior tempestade, a pandemia do coronavírus. Esse é o mar revolto comum a todos e todas. O sistema político que não prioriza a vida é essa força que não quer deixar a barca chegar à outra margem. É uma travessia difícil e perigosa.
Segundo o padre José Bortolini, a cena da tempestade, apresentada por Marcos, “possui caráter simbólico e catequético, ajudando a buscar, descobrir e superar todos os conflitos que emperram ou tentam sufocar o projeto de vida e liberdade.” Atravessando esse mar, muitas vezes achamos que estamos sozinhos e sozinhas, mas há outras barcas conosco, há mais pessoas que sonham e lutam como nós. E o próprio Jesus, mesmo atrás, “dormindo”, está conosco, pois esse projeto de vida e liberdade é Dele.
Nesse tempo de resistência devemos pedir ajuda Àquele que acalma a tempestade. Rezemos como dom Vicente Ferreira: “Livra-nos Senhor, do desgoverno da morte. Está pesado demais”. O Senhor sempre se levanta em defesa dos menos favorecidos e favorecidas e faz silenciar, calar as vozes opressoras, as vozes da morte.
O Jovem de Nazaré também nos questiona: porque somos medrosos e medrosas? Não temos fé? Às vezes o medo provoca em nós falta de fé, medo de não haver mudança, medo da tempestade não passar, medo dos/das opressores/opressoras, medo do sistema da morte. Mas a palavra motivadora nesses tempos é ESPERANÇA. Temos sim esperança em tempos melhores, em tempos de vida para todos e todas, em tempos de vacina para todos e todas. Precisamos manter firme nossa fé, esperança, luta e resistência.
Façamos a indagação dos discípulos a nossa indagação: “Quem é este homem, a quem até o vento e o mar obedecem?” (v. 41). Quem é Jesus? As dificuldades e desafios nos ajudam a aproximar-nos Daquele que acalma a tempestade. Daquele que nos faz ter esperança. Daquele que nos motiva a ir à outra margem, sair de nós, ao encontro do marginalizado, da marginalizada. E assim vamos encontrando a resposta para a pergunta: quem é Jesus?
*Pe. Atenágoras de Alencar é licenciado em filosofia, bacharel em teologia e assessor nacional da Pastoral da Juventude