VIOLÊNCIA EM BELÉM: O QUE O DIA NACIONAL DA JUVENTUDE TEM HAVER COM ISSO?
Por Eduardo da Amazônia
Temos acompanhado na imprensa e nas redes sociais, a intensidade de notícias relacionadas à violência em Belém/PA. Não é novidade, nem particularidade da capital do Estado do Pará esta realidade presente na vida de cidadãos e cidadãs, seja pela vivência ou pelo sensacionalismo midiático de jornais impressos e programas televisivos.
Esse cenário tem colocado Belém na 7ª posição das capitais mais perigosas do Brasil, conforme o 9º Anuário de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, assim como a 18ª no ranking das cidades mais violentas do mundo, segundo a ONG Conselho Cidadão pela Seguridade Social Pública e Justiça Penal do México.
Grande parte dessas violências tem atingido principalmente adolescentes e jovens. O levantamento do Mapa da Violência divulgado esse ano sobre mortalidade por armas de fogo no Brasil aponta que 42.416 óbitos em 2012, 24.882 foram de pessoas entre 15 e 29 anos (59%), onde o Pará encontra-se no 10ª lugar. E Belém é apontada como a segunda capital onde a juventude corre mais risco de exposição à violência, segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial da pela Secretaria Nacional de Juventude e Ministério da Justiça.
No próximo domingo (01), a Arquidiocese de Belém, através do Setor Juventude estará realizando a celebração dos 30 anos do Dia Nacional da Juventude. A atividade que nos anos anteriores foi assumida principalmente pela Pastoral da Juventude, em parceria com outras organizações da igreja e da sociedade civil, agora é realizada em continuidade, pelas diversas expressões juvenis da Igreja Católica.
Historicamente, como parte do processo de educação na fé e em sintonia com a Campanha da Fraternidade e as orientações e diretrizes da Igreja no Brasil, o DNJ sempre reflete uma questão que atinge diretamente a vida da juventude. Em 2015, ele também retoma o primeiro tema de 1985: “Juventude construindo uma nova sociedade” e tem como inspiração bíblica: “Estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22, 27).
Em sua visita à Cuba, durante a Santa Missa na Praça da Revolução (Havana), o Papa Francisco retoma a clássica frase na conclusão de sua homilia: “Quem não vive pra servir, não serve pra viver”. Então, na realidade que nos interpela, provocad@s pelo tema e referencial bíblico do DNJ, juntamente com as palavras do atual Pontífice, nos vem a pergunta: Como podemos enfrentar a violência e construir uma nova sociedade em Belém?
Coincidentemente a nossa cidade recebe o nome do lugar bíblico da acolhida e da “Casa do Pão”: Belém. A Pastoral da Juventude Arquidiocesana – PJA, resistindo através dos grupos de base, é esse lugar que acolhe @s jovens presentes principalmente nas comunidades e paróquias da periferia de Belém, com-partilhando o Evangelho e a vida através atividades formativas, artísticas, religiosas políticas e culturais. E o DNJ é uma destas experiências que nasce no chão da PJ, assumida como atividade permanente desde o início até os dias atuais, ampliando agora com o Setor Juventude. Entretanto, não basta apenas assumir o nome da atividade, mas a causa que ela se propõe!
Por ter como premissa o protagonismo juvenil e entendendo que o nome da atividade não utiliza as preposições “de” ou “para”, mas “da” juventude para indicar de quem pertence dia nacional, o DNJ sempre foi organizado pel@s jovens. Exclui-se as pessoas adultas? Não, pelo contrário, elas foram (e devem ser) acompanhantes que contribuem na promoção da autonomia da juventude. A figura d@ assessor(a) foi (e é) importante por manter viva a memória, iluminar caminhos e facilitar nas dificuldades o diálogo.
Desde 2009, esta atividade retoma um formato massivo, mas tendo como ponto de partida as reflexões nos grupos de base, por entendê-los como um “instrumento pedagógico de educação na fé” (Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas Pastorais, n. 151 – CNBB, 2007/Doc. 85). Foi o ano que, vivenciando a Campanha Nacional Contra a Violência e Extermínio de Jovens, realizamos além das atividades preparatórias, um seminário, celebração e show cultural envolvendo a temática.
Em 2010, a PJA entendendo que esta também era uma atividade missionária, definiu levar o DNJ às periferias da arquidiocese. Neste sentido, com o tema e lema “DNJ 25 anos: celebrando a memória e transformando a história – Juventude: muita reza, muita luta, muita festa, em marcha contra a violência” o jubileu do DNJ aconteceu na Cabanagem. E seguimos com “Juventude e Protagonismo Feminino – Jovens mulheres tecendo relações de vida” em 2011 na Terra Firme, “Juventude e Vida – Que vida vale a pena ser vivida?” em 2012 em Marituba, “Juventude e Missão – Jovem, levante-se, seja fermento” em 2013 no Castanheira e em 2014 (agora apenas com o lema) “Feitos para sermos livres, não escravos” no Paar/Ananindeua.
Vejam como os temas dialogam com os problemas que tem atingido a juventude: extermínio de jovens, violência contra a mulher, tráfico de pessoas, entre outros (co)relacionados. E são problemas que continuam a ameaçar a vida da juventude. Isso quer dizer que nada o DNJ modificou? Não, até porque ele sozinho não conseguiria fazer as devidas mudanças sociais que local e globalmente precisamos. Entretanto, nos lugares por onde passou o DNJ, despertou a sociedade para aquela problemática, estimulou o debate entre @s jovens e provocou a igreja ser mais Igreja.
Os lugares do DNJ de Belém se cruzam com as chacinas ocorridas na periferia de nossa cidade, inclusive o mesmo lugar (Icoaraci) e mês (novembro) onde será celebrado o DNJ 2015. É sabido que desde setembro, a PJA tem realizado nos grupos de jovens, paróquias e regiões episcopais, encontros preparatórios (Pré-DNJ) para esse momento. Na programação divulgada, está prevista uma caminhada saindo da Paróquia Nossa Senhora de Fátima rumo à igreja matriz de São João Batista e Nossa Senhora das Graças, onde acontece missa e show. Que neste caminho planejado, a diversidade juvenil possa ser profética, denunciando a violência e anunciando uma cultura de paz, plantando sementes de uma nova sociedade, atent@s às palavras de Santa Clara: “Não perca de vista seu ponto de partida”.