PJ Sul 2 lança carta por ocasião do Dia de Combate ao Racismo

Hoje, dia 18 de novembro, fazemos memória do Dia Nacional do Combate ao Racismo. É preciso fazer memória da história para que as lutas de hoje tenham significado. A Pastoral da Juventude, como sempre, se encontra vigilante aos desmandos do ódio, dentre os quais se encontra o racismo estrutural.

Com isto em mente, a PJ do Regional Sul 2 faz a lavratura da presente Carta de Combate ao Racismo, no intuito de se conectar com esta data tão importante para nossa caminhada em comunidade, em função de uma vida em abundância.

Que nesse dia possamos reavivar nosso ânimo e dar as mãos aos nossos irmãos pretos e irmãs pretas, para que nossas vozes se juntem em um coro de liberdade, paz e justiça. Que o céu acolha este grito e que a terra ouça.

Leia a carta na íntegra:

CARTA DE COMBATE AO RACISMO – PJ Regional Sul 2

“Eu tenho um sonho que um dia, nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes de donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.”

Martin Luther King Jr.

A Pastoral da Juventude do Paraná vem, por meio desta carta, fazer memória do Dia Nacional de Combate ao Racismo. O Brasil foi o último país da América a abolir o trabalho escravo. Portanto, em um país como o nosso, é imprescindível celebrar, denunciar, ressignificar e lutar por esta data.

Há séculos, em uma viagem dantesca – como destaca Castro Alves – os navios negreiros eram banhados de uma lua de sangue ao trazer das terras de Aruanda milhões de homens negros e mulheres negras, nascidos livres e dotados da mesma alma que os brancos, que foram escravizados e escravizadas nas minas e fazendas, tendo pouco mais que suas vestes e seu próprio sangue como pertences. Diante disso, os profetas nos lembram que “Aos treze de maio de mil-oitocentos-e-oitenta-e-oito, nos deram apenas decreto em palavras” (Missa dos Quilombos), nada mais entregando ao nosso povo em reparação.

Desde a abolição, pouco nos desenvolvemos, em razão do racismo estrutural. Não é fácil ser negro e negra em um país que tem essa etnia como predominante, mas no qual duas de cada três pessoas presas são negras; em que negros lideram os casos de erros em identificação de criminosos, sendo presos injustamente sem possibilidade de defesa; em que recebem menos pelas mesmas funções de trabalho que brancos e que são minoria nos cargos de chefia ou gerência.

O novo testamento nos previne: “Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, não há macho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28). A partir disto, o que falta para nós, cristãs e cristãos, efetivarmos a concretização do sonho que o irmão Martin Luther King Jr. nos falou em seu discurso? Talvez nos falte a coragem de enfrentar as estruturas de morte que nos são propostas dia a dia, mortes como a do próprio Martin, do ativista Malcom X, da vereadora Marielle Franco, da sindicalista Margarida Alves, da família de Evaldo Rosa e de tantas e tantos jovens mortos em operações da polícia no Brasil, que nos relembram que “existe pele alva e pele alvo” (Emicida).

O Papa Francisco, em sua encíclica Fratelli Tutti, nos alerta sobre o mal do racismo na vida da igreja do jovem de Nazaré: “O racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dissimula-se, mas está sempre à espreita.” (FT 97), evidenciando que é necessário estar sempre de olhos abertos contra as estruturas de ódio e de discriminação que nos rodeiam e podem distorcer a mensagem de libertação que Jesus propôs.

A luta pela dignidade das vidas negras deve ser constante e ininterrupta. Não é fácil ser negro e negra em um país que tem essa etnia como predominante, mas que não se assume como negro e não trabalha ativamente na erradicação de uma estrutura em que a discriminação têm um lugar garantido, sendo uma grande barreira social e uma das causas da exclusão dos indivíduos. Essa é uma ferida aberta nas veias do mundo que precisa de cuidados para cicatrizar.

A pessoa de Jesus que nasceu pobre e na periferia da Belém dos pastores, das trabalhadoras e trabalhadores laborais, das pessoas renegadas, discriminadas e sem voz, é o mesmo que disse “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo10,10). Não algumas vidas, não determinadas vidas, mas todas as vidas. Sendo assim, nossa igreja e nosso mundo falham em dar vida em abundância a esses filhos e filhas de Aruanda.

Por isso, a Pastoral da Juventude do Paraná, por meio desta carta, se coloca à disposição do sonho de ver um povo livre e vivendo feliz, um sonho que só pode ser concretizado em unidade e comunidade, na luta dos povos todos em contraste às estruturas de morte. Como nos dizia Raul Seixas: “Sonho que se sonha só é só sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade.” Então sonhemos juntas e juntos um país onde o racismo seja só um mal esquecido e sem força.

Com isso em mente, rezamos: Recebe, ó Senhor, o sangue negro que construiu esse país, as vidas ceifadas em busca de justiça, a indiferença dos brancos e dos mal governantes e nos conduza ao céu de Aruanda junto a ti e a nosso irmão Jesus de Nazaré. Acolhe essa súplica, Olorum.

Paraná, 18 de novembro de 2022.

PASTORAL DA JUVENTUDE, REGIONAL SUL 2

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