#16diasde ativismo | Violência contra a mulher e acesso à justiça

A violência institucional contra às mulheres, como o próprio nome identifica, é a que se pratica nas instituições políticas, eclesiásticas, sociais, econômicas e científicas contra as mulheres. É importante destacar que essa violência é naturalizada, culpabilizando as mulheres e seus corpos por suas consequências.
O patriarcado é uma das instituições mais antigas do mundo. Com seus dez mil anos foi a base para a divisão sexual do trabalho e a concepção das mulheres como posse dos homens, limitando nosso espaço de atuação ao espaço privado, com o trabalho doméstico e de cuidado, legitimando ainda as violências que sofremos dos homens. As religiões ocidentais, especialmente o cristianismo, se baseia no patriarcado, e por isso a maior parte dos poderes se concentram nas mãos dos homens. Por isso, nas nossas comunidades as mulheres são as maiores responsáveis pelas visitas aos doentes, preparação do altar, organização da liturgia e trabalhos sociais, mas são os homens do clero que decidem sobre o trabalho delas.
Da mesma forma, a violência institucional se apresenta no Capitalismo. Sem a divisão sexual do trabalho e invisibilização do trabalho das mulheres, ele não seria tão forte. O que o capitalismo chama de “doação”, “amor” e “cuidado maternal” nós reivindicamos como “trabalho não pago”. Sem roupa lavada, comida preparada e casa arrumada, trabalho designado às mulheres, não há como existir o trabalho de produção. No entanto, esse trabalho sequer é contabilizado na economia.
E também precisamos falar da violência do Estado, que no Brasil de 2020 ficou marcada pela violência sofrida pela influencer Mari Ferrer, sendo perpetrada pelo Judiciário e Ministério Público de Santa Catarina.
Tal como no espaço político naturalizou-se o “só não te estupro porque você não merece”, frase dita pelo atual presidente, vimos também o “estupro culposo”. Todos discursos de homens. É impressionante como as justificativas ao estupro se reinventam nas instituições, como o próprio patriarcado. Vale sempre retomar a análise da antropóloga argentina Rita Segatto: a partir dos corpos das mulheres, homens marcam o seu território. Não se trata de sexo ou busca por prazer. É violência sexual para marcar uma posse.
Mariana foi vítima dupla para marcar os territórios desses homens que não tem vergonha de sair do armário: no seu corpo e no seu clamor por justiça. Nos crimes chamados de sexuais, em tese, a palavra da vítima tem mais valor que nos demais. Mas Mariana tinha também vídeos e laudos, tal como pede a justiça machista burguesa. A única questão é que, como todas nós, foi enganada com o mito que a justiça é cega e se baseia em provas. De fato, em alguns momentos (principalmente quando envolve a criminalização de homens e mulheres negros/as) é muito cega, mas quando os seus filhinhos brancos e ricos precisam de si, ela não esquece que nasceu a partir do racismo, capitalismo e patriarcado. Como cantam as mulheres chilenas “O Estado opressor é um macho estuprador”.
O que também deve nos provocar é: se Mariana, modelo, influencer e branca vivenciou toda essa violência institucional, já imaginaram o que passam as mulheres pobres e negras?

É fundamental denunciarmos as violências dos espaços institucionais e lutarmos para que se transformem, mas também passou da hora de fazermos nossa própria justiça, sem dependermos do Estado ou de outras instituições. Não se trata de “olho por olho, dente por dente”, mas sim da exposição solidária. Precisamos falar quem é estuprador, quem apoia estuprador e quem na internet se horroriza com esse crime, mas continua sendo machista na prática, invisibilizando mulheres nos espaços e ocupando todos os espaços de poder. Nossa solidariedade de mulheres é nosso caminho para a promoção de uma justiça que enfrente o patriarcado.

Por: Mari Malheiros
Marcha Mundial de Mulheres

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