Projetar a vida na direção de Deus!
Por Pe. Maicon Malacarne
“Onde estás?” Essa é a pergunta desconcertante da primeira leitura do livro do Gênesis. Deus procura e chama por Adão. Não o encontra. Adão não está mais no seu lugar. Necessariamente precisamos nos perguntar: “onde estamos nesse momento da história?” É a questão sobre os nossos projetos de vida. Identificar o lugar é identificar nossa identidade. É ali que Deus nos encontra! O deslocamento de Adão é a acusação de que nós também nos perdemos e precisamos ser “chamados de volta”, encontrados por Deus.
A Pastoral da Juventude sempre se dedicou a falar e produzir propostas de Projetos Pessoais de Vida. Trata-se de uma necessidade e de uma espiritualidade. É organizar a vida a fim de superar o perigo do imediatismo e de uma vida rasa. A fé provoca a pensar nosso “lugar” a partir da graça, da companhia de Deus, superando as fugas e os esconderijos. Ao mesmo tempo, Adão lembra que a autoreferencialidade nos distancia dos irmãos: ele acusa a culpa de Eva, que acusa a culpa da serpente e assim vai se desvelando o lugar em que um incrimina o outro, a desorganização total. Projetar a vida é superar qualquer tipo de isolamento e ofertar-se na comunidade de irmãos e irmãs e na harmonia com toda Casa Comum.
São Paulo, na segunda leitura, lembra que na fraqueza do “perder-se” é que também alcançamos a oportunidade de nos tornarmos pessoas novas. Para isso, é necessário projetar a vida para além do materialismo e alcançarmos aquilo que é eterno e invisível. Nisso, Paulo proclama sua alegria: quando se desfizer nosso corpo, receberemos no céu um que não é feito por mãos humanas. É preciso dar espaço para esse dom se realizar em nós, ainda hoje.
O “onde estás?” não é só uma pergunta geográfica, embora ela também seja importante. No evangelho desse domingo, Jesus está em Cafarnaum. Seus familiares vieram “buscá-lo” para levá-lo para casa. Jesus tinha deixado a família e começado sua missão na Galileia, anunciando o Reino de Deus. Apesar de pouco tempo, já era criticado, embora muitos falavam dele com entusiasmo. Jesus estava na Sinagoga e a família “do lado de fora”. Eles não quiseram entrar e queriam que Jesus “saísse”. É interessante esse movimento: para fazer parte é preciso entrar, é preciso mergulhar, ficar “do lado de fora” é ficar à margem (em quantas coisas da vida estamos à margem, rasos?). No final do evangelho Jesus vai dizer que a nova família, dos que praticam sua Palavra, são os que têm coragem de ultrapassar por essa barreira entre os de fora e os de dentro. No fundo, está dizendo que não basta ter uma certidão de batismo se não mergulharmos (projetarmos) a vida na direção de Jesus e de seu ministério inteiro.
Dentro da Sinagoga, Jesus ensina o que é estar dentro do projeto: superar o maligno e a divisão é agir na direção da vida, socorrendo os que mais precisam, vestindo os nus, visitando os doentes, saciando a fome dos famintos… Essa é a “nova família” de Jesus. Do contrário, é aliar-se ao demônio. E mais, Jesus diz que esse reino do mal está com os dias contados. Jesus, sua paixão, morte e ressurreição é a vitória da esperança, da vida, da pequenez.
Quando queremos nos esconder de Deus e nos perdemos, o Espírito nos conduz “de volta” para nosso lugar. Nossos projetos de vida são espaços para o Espírito agir porque revelam nossa identidade, nosso mundo, nossa nudez, nossa interpretação das coisas, nossa biografia e nossa busca por algo maior, pela vida plena, ou, como chamou Paulo, por aquilo que ainda é invisível, mas é nosso futuro, nossa esperança. Pecar contra o Espírito Santo é não acreditar Nele, é não achar que Deus possa realizar todas essas coisas em nós.
Deus sempre nos procura e sempre, também, nos salva!
Pe. Maicon Malacarne é sacerdote da Diocese de Erexim e foi assessor nacional da PJ (2017-2019).