Carta de compromissos da PJ – Pela Vida das Companheiras!

Entre os dias 05 e 07 de agosto, referências da Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência Contra a Mulher, coordenação e assessoria nacional da PJ, convidadas e parceiras estiveram reunidas nas terras de Campinas/SP – Regional Sul 1, para celebrar a vida e refletir os caminhos de nossa ação missionária em relação a Campanha.

Partindo da escuta, dos sonhos e do acúmulo de reflexões partilhadas e geradas nesse encontro, as/os participantes redigiram uma Carta de compromissos que atesta o nosso desejo e comprometimento com a defesa da vida das companheiras.

Leia a carta na íntegra:

Carta de compromissos da PJ para o enfrentamento aos ciclos de violência contra as mulheres

  1. A Pastoral da Juventude do Brasil, como Igreja Jovem, e fiel ao seguimento a Jesus segue comprometida com a vida. Queremos que todos/as tenham vida e vida em abundância (Jo 10, 10). É deste compromisso com a vida que nasce a Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência contra as mulheres. 
  2. Como afirma o Papa Francisco: “Hoje, ainda existem mulheres que sofrem violência. Violência psicológica, violência verbal, violência física, violência sexual. O número de mulheres espancadas, ofendidas e violadas é impressionante. As diversas formas de maus-tratos que muitas mulheres sofrem são uma covardia e uma degradação para toda a humanidade. Para os homens e para toda humanidade. Os testemunhos das vítimas que se atrevem a quebrar o silêncio são um grito de socorro que não podemos ignorar. Não podemos olhar para o outro lado. Rezemos pelas mulheres que são vítimas de violência, para que sejam protegidas pela sociedade e o seu sofrimento seja considerado e escutado por todos.”
  3. Motivada pelas palavras do Papa Francisco, a PJ segue realizando a Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência contra as mulheres. E por isso, partilhamos o Brasil que queremos para as mulheres e refletimos sobre o papel da PJ na construção deste país. 
  4. Queremos um Brasil livre do bolsonarismo, do patriarcado, dos abusos sexuais, dos assédios morais e sexuais, dos machismos, do racismo, da xenofobia, da LGBTQIAP+fobia e de todas as formas e modos de violência. Queremos um país decolonial e que portanto não propague as violências presentes em nossas culturas. Um Brasil onde as mulheres não sejam silenciadas, sobretudo pelos homens,  lideranças e clero.  Sonhamos uma nação onde mulheres e jovens não precisem lutar para viver / sobreviver, mas que possam simplesmente viver, amar e ser e fazer felicidade.  Queremos viver numa sociedade sem a cultura do estupro, sem assédios e sem todos os tipos de violência contra as mulheres
  5. Queremos um Brasil onde as mulheres possam, se assim desejarem, estar em todos os espaços de decisão e poder. Queremos um país onde a mulher possua liberdade de  escolha. Um Brasil onde as mulheres tenham direito de dizer não e sejam respeitadas neste NÃO. Um país sem imposições ou autoritarismos. Um país onde os processos das mulheres, em suas vivências, sejam respeitados e cuidados. 
  6. Queremos um Brasil conscientizado e que não produza dor. Um país que não produza cansaço, fruto de diferentes lutas. Uma terra onde o direito ao descanso seja garantido. 
  7. Queremos um Brasil justo, mas que rompa com o encarceramento. Um país onde não haja não piadas construídas por conta de nossas diferenças. Uma terra que não naturalize as discriminações e violências vestidas de piadas e brincadeiras. 
  8. Queremos um Brasil onde não se duvide de uma mulher, quando esta relatar uma violência a que foi submetida. Queremos um país onde as mulheres vítimas de violência tenham efetiva e real proteção das Redes de proteção às mulheres. Buscamos garantir que as delegacias da mulher sejam verdadeiros espaços de acolhimento. E por isso, reivindicamos que nas delegacias da mulher trabalhem apenas mulheres.
  9. É diante desses sonhos e horizontes para nossa nação, compreendemos que a Pastoral da Juventude, por fidelidade ao projeto de Jesus, tem um importante papel e algumas tarefas a viver. 
  10. A PJ tem o papel de não pactuar com o silêncio imposto. Precisa igualmente ser espaço de partilha e acolhida das angústias. Precisa fazer processos de formação e conscientização que rompa com os silêncios impostos de diferentes modos e maneiras. A PJ precisa de uma formação que ajude a reconhecer os privilégios que alguns possuem, para que isso não fortaleça os preconceitos. 
  11. A PJ precisa formar adultos para um efetivo acompanhamento das juventudes e das mulheres.  E igualmente é chamada a  manter e seguir formando Redes e Pontes, identificando as pessoas, grupos, organizações e instituições comprometidas com a vida das companheiras. 
  12. A PJ precisa seguir nas favelas, periferias, presídios. Precisa seguir junto das/os marginalizadas/os. Precisa estar presente com todas as mulheres. Precisa estar presente com todos/as os/as pobres. Precisa estar onde ninguém mais quer estar. E necessita, igualmente, ocupar os espaços eclesiais e sociais que conseguir para seguir sendo e dando voz, vez e apoio para todas/as, em especial para as jovens mulheres. 
  13. A PJ é chamada a  seguir crendo na comunidade, na organização, na ciranda, na justiça. Apesar das dores é preciso resistência, até que o Reino de Deus se faça realidade e verdade.  é por isso que precisamos seguir lutando para que as mulheres e juventudes sigam sendo respeitadas, sendo igualmente espaço de acolhida para TODAS as mulheres, para todas as juventudes. 
  14. A PJ precisa seguir realizando processos pessoais e grupais de formação integral, atentos às múltiplas dimensões da vida, contribuindo com a conscientização das juventudes, da Igreja e de toda a sociedade para que a VIDA seja plenamente garantida para todas e todos. 
  15. Desde os grupos de jovens, a PJ deve ser espaço de colo, acolhida, descanso, cura, e bálsamo para todas e todos. 
  16. Como PJ precisamos romper com o patriarcado, os abusos, os assédios, o colonialismo, o machismo, o racismo, a xenofobia, a LGBTQIAP+fobia e todas as formas e modos de violência. é necessário continuar a reflexão sobre os processos culturais nos quais a juventude insere-se, rompendo com todas as formas de violência. A PJ precisa refletir sobre como o racismo, as questões de classe, as diferenças territoriais e a diversidade de gênero nos atravessam, para sermos capazes de romper com toda e qualquer forma de violência. 
  17. A PJ precisa ser espaço de escuta, de acolhida, de acompanhamento e de atenção às mulheres, sobretudo ser porta voz quando houver violência. É chamada, portanto, a ser espaço para todas as mulheres. As jovens mães, ribeirinhas, amazonidas, indígenas, moradoras de rua, negras e nordestinas têm seu lugar em nossa mesa e ninguém lhes tirará esse lugar. 
  18. A PJ precisa ser espaço de formação integral, rompendo com os privilégios, e que portanto ajude todos/as a romperem com as piadas e brincadeiras que no fundo são violências.  
  19. Queremos uma PJ que incida em diferentes espaços de formação formal e não formal, em vista de processos de libertação, de justiça e igualdade.  Queremos uma PJ que siga incidindo sobre todas as Políticas Públicas.  A PJ precisa seguir comprometida com a luta, fiscalização e acompanhamento das políticas públicas para plena proteção e desenvolvimento das juventudes e das mulheres. Portanto, somos chamados a seguir engajados na luta para que haja real proteção às mulheres, sobretudo àquelas que sofreram violências.
  20. Conscientes de que a memória é opção pedagógica fundamental, sonhamos uma PJ que faça memória, para que os erros, violências e silenciamentos que já aconteceram não se repitam. 
  21. Temos clareza que esse Brasil que sonhamos para as mulheres e a PJ que somos chamados a ser e viver nos desafiam e inquietam. Mas, nos passos de Jesus e sob o manto de Nossa Senhora, seguiremos fazendo essa PJ comprometida com a vida das companheiras. 

Participantes do Encontro  Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência contra as mulheres –  Pastoral da Juventude

Campinas/SP, Agosto de 2022

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